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A decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros acendeu um sinal de alerta no setor florestal. Anunciada pelo presidente Donald Trump na semana passada, a medida tem potencial de alterar a dinâmica aplicada às exportações de produtos como madeira processada, papel, celulose e painéis - itens nacionais de alto valor agregado, que têm o mercado norte-americano como principal destino.
Além dos impactos diretos nas indústrias exportadoras, a taxação pode atingir setores que dependem de embalagens e insumos de madeira, como o alimentício e o automotivo. A Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci) mobilizou o setor para buscar soluções. Desde o anúncio, a entidade busca articulação com governo federal, federações estaduais, confederações e associações internacionais.
EUA respondem por mais de 40% das exportações brasileiras de madeira.
“Todos fomos pegos de surpresa com o anúncio da taxação. A medida trouxe perplexidade e incertezas imediatas para o setor”, afirmou o superintendente da Abimci, Paulo Pupo. Segundo ele, a entidade mantém diálogo com associações dos EUA e parceiros comerciais para monitorar os efeitos e abrir canais de negociação.
Incertezas sobre a taxação paralisa setor de produtos florestais
A falta de clareza sobre como a tarifa será aplicada amplia a apreensão e paralisa as negociações do setor. “Não está claro se a taxação valerá a partir da saída do Brasil ou da chegada aos EUA, nem se produtos que estão sob investigação da Seção 232 serão isentos”, disse Pupo.
Em março, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos iniciou uma investigação para avaliar se a dependência de madeira importada representa um risco à segurança nacional do país. A análise no impacto das importações foi uma ordem de Trump, com base na seção 232 da Lei de Expansão Comercial dos Estados Unidos, criada em 1962. O Brasil é um dos países investigados. O resultado pode levar à imposição de tarifas adicionais, cotas de importação ou outras medidas restritivas.
Os produtos florestais processados brasileiros destinam metade das exportações ao mercado norte-americano. “Precisamos de clareza para evitar prejuízos irreparáveis. A união entre setor privado e governo será decisiva neste momento”, reforçou o superintendente da Abimci.
Nesta segunda-feira (14), representantes do setor madeireiro participam de uma reunião com a Secretaria de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. O objetivo é apresentar dados do setor e pleitear a prorrogação do prazo para a aplicação da tarifa, permitindo tempo para ajustes contratuais e logísticos.

Setor manteve estabilidade no primeiro semestre
Mesmo sob impacto de medidas protecionistas da União Europeia e das tarifas revisadas pelos EUA em abril, o setor florestal manteve estabilidade nas exportações durante o primeiro semestre de 2025. Investigações como a da Seção 232, que avalia riscos à segurança nacional norte-americana, e os processos europeus contra o compensado brasileiro não impediram pequenos avanços em segmentos específicos.
A madeira serrada de pinus registrou alta de 6% em volume exportado em comparação com o mesmo período de 2024. As exportações de pellets também cresceram. O compensado de pinus recuou 4%, enquanto as molduras permaneceram estáveis.
Em 2024, as exportações brasileiras de produtos florestais para os Estados Unidos totalizaram US$ 1,6 bilhão, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior. Os produtos de madeira representaram a maior parte dessas exportações, com os EUA respondendo por mais de 40% do total das exportações brasileiras de madeira.
Do ponto de vista logístico, o setor observou melhora nos terminais portuários da região Sul, com a retomada das operações no porto de Itajaí, ampliação do porto de Itapoá e novos espaços em Navegantes, todos eles em Santa Catarina. Esses fatores reduziram o acúmulo de mercadorias e facilitaram os embarques.
Região Sul concentra 86% das exportações de madeira
Os estados do Sul — Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul — responderam por 86,5% das exportações brasileiras de madeira para os Estados Unidos em 2025, com um total de US$ 1,37 bilhão. O Paraná lidera, especialmente com a exportação de compensado, madeira serrada e molduras de pinus, utilizadas na construção civil norte-americana.
No último ano, o Paraná exportou US$ 681 milhões em produtos florestais para os EUA, sendo US$ 627 milhões em madeira. A nova tarifa afeta diretamente a economia regional.
“O fator-surpresa torna a decisão ainda mais complicada, especialmente após uma tarifa semelhante já estar em vigor desde 1º de abril”, afirma Fabio Brun, presidente da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre). Segundo ele, a indústria já enfrenta custos elevados e dificuldades logísticas. Agora, o segundo movimento tarifário amplia os riscos e exige ação rápida e coordenada do governo brasileiro.
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