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A pesquisa Quaest divulgada nesta quinta-feira (17) aponta que os governadores presidenciáveis da centro-direita estagnaram nas intenções de votos em relação ao levantamento anterior, do mês de maio, nos cenários estimulados de segundo turno contra Lula para 2026.
A mais recente pesquisa eleitoral ocorreu entre os dias 10 e 14 de julho, período em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou o tarifaço de 50% das exportações brasileiras e fez duras críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) que, segundo o republicano, persegue o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A postura do presidente norte-americano pode ter reflexos nas articulações políticas da direita em torno de um nome de oposição a Lula nas urnas no próximo ano, quando o petista deve disputar a reeleição para o quarto mandato presidencial.
Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo afirmam que os governadores presidenciáveis da centro-direita - Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ratinho Junior (PSD-PR), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) e Romeu Zema (Novo-MG) - caminham para uma “encruzilhada estratégica”: assumir posturas alinhadas a Bolsonaro, em busca do apoio do ex-presidente inelegível, ou em direção ao centro, o que contraria as posições do líder da direita em relação a temas sensíveis, como o tarifaço de Trump e a anistia aos envolvidos no 8 de janeiro.
A medida unilateral de Trump acelerou o processo de reposicionamento das peças políticas e até freou a ascensão dos presidenciáveis após meses de alta acumulada por eles desde o final de 2024. Principal nome entre os governadores nos levantamentos anteriores da Quaest, Tarcísio oscilou de 40% para 37% no segundo turno contra Lula, mantendo o empate técnico com o petista, que permanece com 41%, o mesmo percentual de maio. A margem de erro é de dois percentuais.
Sem ter dado declarações sobre o tarifaço até a manhã desta sexta-feira (18), Ratinho Junior perdeu a posição de tecnicamente empatado com Lula e teve 36% da preferência do eleitorado contra 41% das intenções de voto pela reeleição do petista. Caiado e Zema não oscilaram entre maio e julho e ambos permanecem com 33% na disputa contra Lula nos cenários estimulados de segundo turno.
O governador do Paraná foi o último presidenciável a se manifestar sobre o tarifaço, após o período de férias do cargo. A declaração foi dada em resposta a jornalistas durante um evento nesta sexta-feira. Na avaliação dele, a medida não prejudica o Paraná num primeiro momento, pois não afeta os principais setores da balança comercial do estado.
“O governo federal e o Itamaraty têm um histórico de negociações, de conseguir construir boas soluções comerciais para o país. Durante décadas, o Itamaraty sempre teve sucessos nessas negociações. Acho que também vai nessa [com o governo Trump]”, respondeu Ratinho Junior.
Tarifaço coloca Bolsonaro e Lula em evidência; governadores ficam em segundo plano
Na avaliação do cientista político Juan Carlos Arruda, diretor-geral do Ranking dos Políticos, a crise desencadeada pelo tarifaço anunciado por Trump evidencia o dilema da direita brasileira nas articulações políticas para 2026. “Enquanto Bolsonaro ainda é o polo gravitacional do campo conservador, sua inelegibilidade gera um vácuo difícil de preencher. Qualquer turbulência internacional que o envolve reativa o ‘bolsonarismo emocional’, mas trava o avanço de novos nomes. O eleitor de direita parece hesitar entre a lealdade ao passado e a aposta no futuro”, analisa.
Para ele, o impasse dificulta a projeção dos governadores que tentam se viabilizar como alternativas no espectro da centro-direita e direita. Por isso, Arruda opina que a construção de uma candidatura viável para 2026 dependerá de um discurso mais próximo da realidade dos eleitores, além dos acenos ideológicos, contrariando outras análises políticas recorrentes sobre este ponto.
“A direita precisa escolher entre ser um comício eterno ou um projeto de poder viável. E essa escolha passa, sim, por saber se haverá maturidade para encontrar um nome competitivo que dialogue com o futuro — e não só com o passado”, alerta.
O cientista político Adriano Cerqueira, professor do Ibmec de Belo Horizonte, considera que as variações dos governadores estão dentro da margem de erro e que o confronto entre Trump e Lula beneficia o petista em um primeiro momento pela alta exposição, mas deve aumentar a rejeição ao presidente pelos impactos econômicos, caso o tarifaço norte-americano seja aplicado a partir de 1º de agosto.
“Se houve algum benefício para o Lula, foi muito pequeno, tendo em vista que o discurso antiamericano atrai mais o eleitorado de esquerda. A pesquisa não sustenta a afirmação de que o centro estaria de volta ao governo Lula após o episódio envolvendo as tarifas dos Estados Unidos”, comenta.
Apesar de Lula e do clã Bolsonaro voltarem ao centro do palco político, o governador Tarcísio de Freitas se tornou um dos principais alvos da esquerda logo após o anúncio de Trump sobre o tarifaço imposto ao Brasil.
Governadores estão em “encruzilhada estratégica” na corrida presidencial
Coordenador do Observatório de Negócios Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), o professor de geopolítica João Alfredo Lopes Nyegray reforça que a pesquisa Quaest revela um cenário político que continua polarizado. Ele considera que a política externa norte-americana adotada por Trump para pressionar o sistema político-judiciário brasileiro, por meio do tarifaço das exportações, colocou os governadores presidenciáveis em uma “encruzilhada estratégica”.
“Ou eles se alinham com o discurso nacionalista e radicalizado do Lula e do Centrão, correndo o risco de comprometer a economia dos seus estados, ou eles tentam se posicionar como lideranças pragmáticas e institucionais, o que poderia alienar uma parte da base entre apoiadores de Bolsonaro”, avalia.
O professor classificou como “absurda” a retórica de Lula adotada contra os Estados Unidos, o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Na avaliação dele, o presidente usa o caso das tarifas para unificação da esquerda e para atrair o Centrão em torno de um “inimigo comum” na tentativa de melhorar a aprovação do governo e aumentar a sua própria popularidade em busca da reeleição.
“O presidente Lula padece da capacidade de mobilização em prol de uma negociação porque prefere insistir nessas retóricas que são muito tradicionais da esquerda latino-americana, de vítimas, de perseguidos e afins”, comenta. Para Nyegray, o eleitorado brasileiro ainda está sensível a elementos externos, especialmente econômicos, o que pode ser decisivo nas eleições de 2026.
“Em um cenário de incerteza geopolítica, se a guerra comercial se intensificar, os eleitores moderados podem responsabilizar a ala de apoiadores de Bolsonaro ou isso pode minar a popularidade do governo Lula”, especula.
- Metodologia da pesquisa Quaest: 2.004 entrevistas entre 10 e 14 de julho, com brasileiros com 16 anos ou mais. A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas presenciais, a partir da aplicação de questionários estruturados. Nível de confiabilidade de 95%, com margem de erro estimada em 2 pontos percentuais.
O conteúdo original recebeu o acréscimo sobre declaração concedida pelo governador Ratinho Junior, na manhã desta sexta-feira (18).
Atualizado em 18/07/2025 às 14:36
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