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Mais cara do mundo

Genética de ouro: vaca Nelore de R$ 24 milhões eleva padrão da pecuária brasileira

vaca Carina, a mais cara do mundo
Única vaca a conquistar quatro títulos de grande campeã nacional, Carina manteve performance impecável por 42 meses consecutivos (Foto: Rubens Ferreira/Divulgação SAP Assessoria e Genética)

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O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo, com mais de 215 milhões de cabeças, e lidera globalmente a exportação de carne bovina para mais de 150 países. Por trás desses números está uma raça que se tornou a espinha dorsal da pecuária nacional: o Nelore, presente em 80% dos 190 milhões de bovinos de corte brasileiros. É dessa raça que surgiu a vaca Carina FIV do Kado, oficialmente a vaca mais cara do mundo, avaliada em R$ 24 milhões.

Aos quatro anos, o animal vive uma rotina de luxo, com direito a nutricionista pessoal, veterinário exclusivo, exames de ultrassom a cada 45 dias e dieta gourmet, cuidados que refletem sua importância estratégica para o futuro da pecuária brasileira. Nascida em Piracicaba (SP), Carina não perdeu uma competição nacional em 42 meses consecutivos de apresentações.

Mais que recordes em pista, a vaca Carina representa o ápice de décadas de melhoramento que transformou o Brasil na maior potência mundial em genética bovina. Durante a carreira competitiva, Carina manteve um desempenho que a tornou única no mundo da pecuária. "Ela foi a única vaca na história a ser quatro vezes grande campeã nacional e seis vezes grande campeã de Uberaba, a exposição mais importante", enumera Heitor Lutti, assessor pecuário responsável pelo acompanhamento do animal.

Segundo ele, o que impressiona na vaca mais cara do mundo não é apenas a quantidade de títulos, mas o que chama de consistência absoluta. "Ela fez dois anos seguidos a volta inteira sem perder nada. É muito difícil ter o animal durante tanto tempo sem apresentar falhas", explica Lutti.

Filha do touro Kayak TE Mafra e da matriz Dama 5 FIV HRO, Carina carrega no DNA uma linhagem de campeões. "Ela tem um pedigree muito sólido, vem de uma família das mais consagradas da raça. A avó dela foi uma das vacas mais valorizadas, a mãe foi vendida este ano por R$ 15 milhões", detalha o assessor pecuário.

A excelência genética se traduz em características físicas ideais, conforme elenca Lutti: com 1.050 quilos aos 42 meses, Carina representa o equilíbrio entre tamanho e funcionalidade. "Morfologicamente falando, é um animal muito próximo da perfeição. É uma vaca equilibrada, muito funcional, emprenha com facilidade muito grande", avalia ele.

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Vaca Carina tem acompanhamento especializado e tratamento vip

Como a vaca mais cara do mundo, Carina recebe tratamento vip. Lutti detalha que a rotina inclui acompanhamento nutricional especializado, com alimentação formulada por nutricionista e oferecida várias vezes ao dia. Exames veterinários periódicos, incluindo ultrassons ginecológicos a cada 45 dias, monitoram a produção reprodutiva.

O investimento tem retorno garantido, afirma ele. Carina produziu mais de 80 gestações por meio de coleta de embriões, multiplicando a genética considerada excepcional. "Ela já produziu filhos naturais e de coleta. Inclusive, tem uma bezerra dela que é cotada para ser campeã nacional", orgulha-se Lutti.

Após o leilão histórico, Carina passou a integrar quatro criatórios: Casa Branca Agropastoril, RS Agropecuária, RFA Agropecuária e Syagri Agropecuária. A estratégia de consórcio permite maximizar o potencial reprodutivo do animal, que tem expectativa de vida produtiva de 15 a 20 anos.

Fenômeno genético: a vaca Carina representa o ápice do melhoramento da raça Nelore no Brasil.Fenômeno genético: a vaca Carina representa o ápice do melhoramento da raça Nelore no Brasil. (Foto: Rubens Ferreira/Divulgação SAP Assessoria e Genética)

Em setembro, um evento inédito promete aquecer o mercado: um leilão no Allianz Parque, estádio do Palmeiras, em São Paulo, onde serão ofertados cem óvulos de Carina. "Vai ser a primeira vez que teremos um leilão em um estádio de futebol", antecipa Lutti.

Segundo Otávio Augusto Porto Pereira, representante da Syagri Agropecuária, nos próximos meses será ofertado um pacote de 100 oócitos da vaca Carina — células reprodutivas ainda imaturas, que podem ser coletadas e fertilizadas em laboratório. Também devem ser oferecidas cerca de dez prenhezes no primeiro ano, cada uma já valorizada em torno de R$ 700 mil.

“A Carina tem morfologia próxima da perfeição, é extremamente funcional e vem de uma linhagem consagrada, o que explica sua valorização”, diz Lutti. Para ele, a genética de Carina desperta interesse internacional, com negociações na Bolívia. "O recorde — de maior campeã — reforça o protagonismo do Nelore e da pecuária brasileira no cenário mundial, em um mercado que não tem limites e tende a se aquecer ainda mais", observa.

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O Nelore que alimenta o mundo

Victor Paulo Silva Miranda, presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), concorda que o recorde da vaca Carina representa mais que um marco financeiro. "É motivo de orgulho para o Brasil ter várias matrizes da raça Nelore entre as mais valorizadas do mundo", afirma.

A superioridade brasileira, conforme ele, transcende fronteiras. Miranda diz que países vizinhos como Paraguai e Bolívia importam regularmente animais Nelore do Brasil, reconhecendo a qualidade da genética nacional. "Numa reviravolta histórica, até mesmo a Índia — berço original da raça — busca exemplares brasileiros para melhorar seu rebanho", cita.

Na visão de Miranda, a valorização de animais como a vaca mais cara do mundo impulsiona uma revolução biotecnológica na pecuária. "A raça Nelore é uma das que mais utiliza técnicas modernas como transferência de embriões, fertilização in vitro e genômica", destaca.

As inovações chegam até a edição gênica, prometendo acelerar o melhoramento genético. "Tudo isso cria um processo contínuo de avanço da raça e da pecuária brasileira", complementa o presidente da ACNB.

Os valores recordes praticados no mercado não são especulativos, mas refletem retorno econômico real, afirma Miranda. Segundo ele, a genética superior de Carina será disseminada através dos descendentes do animal, chegando, eventualmente, aos rebanhos comerciais e impactando a qualidade da carne brasileira.

"Estamos falando de mais produção de carne de qualidade superior. O Brasil tem papel fundamental na segurança alimentar global", ressalta. A vaca Carina vive em Pouso Alegre, no sul de Minas Gerais, mas seu legado genético se espalha pelo país.

A concentração da criação de Nelore está no Centro-Oeste, com Mato Grosso e Mato Grosso do Sul liderando a atividade nacional. "Ela representa o sucesso da pecuária brasileira: precoce, fértil, altamente produtiva e no topo da cadeia produtiva", resume Miranda.

De acordo com o presidente da ACNB, o recorde não é apenas um número impressionante — é o reconhecimento de décadas de trabalho científico, investimento tecnológico e dedicação de gerações de pecuaristas brasileiros.

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