O secretário municipal de Saúde de Goiânia (GO), o médico Wilson Pollara, foi preso na última quarta-feira (27) durante a operação Comorbidade, que cumpriu três mandados de prisão temporária e oito de busca e apreensão por suspeita de associação criminosa e irregularidades no pagamento de contratos de serviços.
Segundo a investigação do Grupo de Atuação Especializada no Patrimônio Público (Gaepp), do Ministério Público de Goiás (MP-GO), as vantagens indevidas oferecidas em contratos provocaram prejuízo aos cofres públicos e no atendimento da população na capital goiana, que atravessa uma crise estrutural na rede de saúde.
Entre as irregularidades apontadas pelos promotores estão divergências na ordem cronológica entre serviços e pagamentos. Além do secretário de Saúde, o diretor financeiro da pasta e o secretário executivo foram detidos. Nas residências dos alvos dos mandados de prisão e de um empresário foram encontrados R$ 20 mil em dinheiro, de acordo com o MP-GO.
Pollara assumiu o cargo de secretário da Saúde na gestão do prefeito goianiense Rogério Cruz (Solidariedade) em setembro de 2023, quando chegou à capital com o status de ex-secretário paulistano nas gestões tucanas de João Doria e Bruno Covas entre 2017 e 2018. Ele deixou o cargo para coordenar o plano de governo de Doria na área da saúde durante a campanha ao governo paulista, vencida pelo tucano naquele ano.
Apesar do currículo, Pollara foi afastado por três meses do cargo pelo Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás (TCM-GO), em julho deste ano, sob suspeita de má-fé na tentativa de contratar funcionários e ambulâncias para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Goiânia.
Paralelamente à atuação do esquema criminoso, a rede pública de saúde da capital enfrenta uma crise de gestão multifatorial sem precedentes.
Apontamento que integra a investigação do Ministério Público de Goiás
Antes do afastamento, o deputado estadual Clécio Alves (Republicanos) apresentou um projeto de lei, em março, para conceder o Título de Cidadania Goiana a Wilson Pollara. Após as primeiras denúncias contra o secretário da Saúde, o projeto de lei foi arquivado.
Após a prisão do médico, o prefeito Rogério Cruz anunciou o nome de Cynara Mathias Costa como nova secretária da Saúde. Ela e outros dois servidores de carreira assumem os cargos ocupados pelos alvos da operação Comorbidade. “A prefeitura reforça que está colaborando plenamente com as investigações e tomará todas as medidas administrativas cabíveis conforme desdobramento das apurações”, afirma a atual gestão.
Wilson Pollara foi convidado por Pablo Marçal para assumir Secretaria da Saúde
Durante a campanha eleitoral 2024, Pollara voltou aos holofotes na capital paulista no primeiro turno. Então candidato a prefeito de São Paulo, o empresário e influenciador Pablo Marçal anunciou o médico como o possível secretário municipal de Saúde, se fosse eleito.
Questionado sobre desgastes gerados pela indicação de Pollara, Marçal respondeu que “para quem quer governar, desgaste é café da manhã, almoço e jantar”. O candidato reforçou que se fossem comprovadas quaisquer irregularidades durante a gestão de Pollara em Goiânia, o nome dele seria retirado da equipe numa eventual gestão paulistana.
MP aponta crise de gestão na saúde e violação de direito fundamental
Segundo a investigação do MP-GO, os supostos envolvidos no esquema deixaram de repassar as verbas públicas previstas em convênios e recursos destinados às entidades terceirizadas responsáveis pela gestão de unidades hospitalares e maternidades. Entre elas, está a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc) que, conforme os promotores, atingiu o passivo de R$ 121,8 milhões junto a fornecedores, sem condições de manter o funcionamento de forma regular.
“Paralelamente à atuação do esquema criminoso, a rede pública de saúde da capital enfrenta uma crise de gestão multifatorial sem precedentes, caracterizada pela desestruturação progressiva da assistência hospitalar, restrição ao acesso a leitos de enfermaria e UTI, falta de inúmeros itens básicos, interrupção de serviços essenciais, graves deficiências em políticas públicas de assistência básica, descumprimento reiterado de decisões judiciais, frustração e burla deliberada à atuação dos órgãos de controle externo, além de indícios de irregularidades em diversas contratações”, aponta o MP-GO.
O órgão acrescenta que “essa situação resulta em violação massiva de direitos fundamentais, especialmente dos direitos à vida e à saúde da população dependente do Sistema Único de Saúde [SUS]”.
Em nota enviada à Gazeta do Povo, o advogado Thiago Peres disse que entrou com o pedido de habeas corpus em favor do médico sob a justificativa de que ele não representa risco à investigação. Além disso, Peres argumenta que a própria decisão judicial prevê “medidas suficientes” para assegurar o curso do processo.
“Dentre as medidas adotadas destacam-se o afastamento do cargo, a suspensão do exercício de suas funções, a proibição de sua entrada em prédios relacionados à prestação de serviços de saúde e a restrição de contato com testemunhas ou outros investigados. Portanto, a defesa entende que a prisão temporária de Pollara é desnecessária”, defende.
O advogado ainda informa que aguarda a realização da audiência de custódia, assim como a análise do pedido de habeas corpus. “A defesa reitera sua convicção de que, ao longo do processo, será comprovada a inocência de seu cliente em relação às acusações levantadas de forma precipitada pelo Ministério Público de Goiás”, comenta.
Braga Netto repassou dinheiro em sacola de vinho para operação que mataria Moraes, diz PF
Defesa de Braga Netto diz que provará que não houve obstrução das investigações
Parlamentares de direita e integrantes do governo repercutem prisão de Braga Netto
Da revolução à ruína: a fraqueza original que selou o destino do comunismo soviético
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião