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Os governadores de Minas Gerais e do Paraná, Romeu Zema (Novo) e Ratinho Junior (PSD), estreitaram um eventual acordo em torno de uma aliança no campo da direita para as eleições de 2026 à Presidência da República. Na última sexta-feira (8), o gestor mineiro visitou o colega chefe do Executivo no Palácio do Iguaçu, sede do governo paranaense, e ambos participaram da filiação do vice-prefeito de Curitiba, Paulo Martins, ao partido Novo.
O xadrez eleitoral do lado direito do tabuleiro segue sob a incógnita do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está em prisão domiciliar, fato que culminou com o bloqueio da pauta no Congresso durante o protesto dos parlamentares de oposição ao governo Lula (PT), inclusive com a adesão do partido Novo.
Apesar de posturas distintas, Zema e Ratinho Junior caminham em direção ao projeto nacional. O governador mineiro é mais explícito e lançará a pré-candidatura presidencial no próximo sábado (16) em São Paulo, enquanto o presidenciável do PSD adota a cautela ao comentar uma eventual candidatura ao cargo e “come pelas beiradas” nos bastidores políticos.
Na capital paranaense, Zema ressaltou o histórico da relação entre os governadores, construída principalmente durante os encontros do consórcio dos estados do Sul e do Sudeste, o Cosud, além de afinidades políticas em temas como gestão, liberdade econômica e segurança pública.
“Se um dia eu tivesse de fazer um churrasco, tomar uma cerveja, eu escolheria esse [governador] aqui porque é bom de conversa. Além disso, é um excelente gestor. Ninguém precisa ficar preocupado porque nós não temos nenhuma rivalidade. Se não caminharmos juntos no primeiro turno, estaremos [juntos] no segundo. Deus é que vai encaminhar o que vai acontecer”, declarou o governador mineiro, em relação a Ratinho Junior.
A posição do Novo foi reforçada pelo presidente nacional da sigla, Eduardo Ribeiro, durante a filiação do vice-prefeito curitibano. “A eleição de 2026 será a mais importante da história. Temos a obrigação moral de não deixar o PT vencer e de eleger um Senado decente, altivo, corajoso para enfrentar os abusos do Supremo Tribunal Federal (STF)”, afirmou.
Governador do PR defende apoio ao nome com mais capacidade de derrotar Lula em 2026
O discurso de Zema está alinhado ao posicionamento de Ratinho Junior, que defende um número maior de candidaturas de direita e centro-direita no primeiro turno em 2026, com uma coalizão de forças em oposição a Lula no segundo turno. “É bem provável que a gente possa construir uma união. Não acredito que isso aconteça no primeiro turno, mas no segundo turno, em torno daquele nome que conseguiu ter a maior capacidade de enfrentar o governo que, infelizmente, não tem demonstrado um bom trabalho para os brasileiros”, disse Ratinho Junior ao ser questionado pela Gazeta do Povo sobre a aliança com Zema.
Além deles, o governador goiano, Ronaldo Caiado (União Brasil), foi o primeiro a lançar a pré-candidatura presidencial, no mês de abril. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também está entre os cotados a assumir o posto de principal candidato de oposição a Lula, caso Bolsonaro permaneça inelegível sem aprovação do PL da Anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023.
O governador do Paraná não confirma se será candidato a presidente em 2026 e lembra que o PSD ainda tem o governador gaúcho Eduardo Leite entre os nomes cotados para a corrida presidencial. Mas ele considera que as tratativas com o Novo são válidas e defendeu o nome de Zema como presidenciável.
“O que nós estamos conversando é sobre como pensar o Brasil de forma conjunta. Não em nível partidário, por enquanto, pode ser que isso aconteça lá na frente. Em um primeiro momento, os partidos vão se posicionar com candidaturas, é natural até porque é preciso ter os candidatos a deputados. É importante para os partidos fazerem um bom número de parlamentares até por sobrevivência partidária”, avalia Ratinho Junior.
Zema e Ratinho Junior adotam tons diferentes nas críticas ao STF
Romeu Zema tem sido o mais crítico dos presidenciáveis quando o assunto é a escalada do STF e as decisões do ministro do Supremo Alexandre de Moraes, que determinou a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro. “Está ficando cada vez mais claro os excessos que estão sendo cometidos. Em nenhum lugar do mundo alguém que se sentou em uma cadeira foi condenado a 17 anos de reclusão. Isso é inédito na história. Falar que isso é tentativa de golpe de Estado, que isso é atentado à democracia?” questionou Zema durante entrevista ao programa Café com a Gazeta, na última sexta-feira (8).
O mineiro também foi o primeiro governador a criticar a prisão domiciliar de Bolsonaro. “Mais um capítulo sombrio na história de perseguição política do STF. Alexandre de Moraes agora colocou Bolsonaro em prisão domiciliar por ter sua voz ouvida nas redes. É a democracia do silêncio. A democracia do medo”, declarou.
Por outro lado, Ratinho Junior tem defendido a “paz institucional” e não tem citado diretamente a escalada do conflito entre Moraes e Bolsonaro. Questionado pela Gazeta do Povo, ele respondeu que a população está cansada das posturas adotadas pelos Poderes e do “descompasso” entre o Congresso e o STF, o que enfraquece as instituições e a democracia brasileira.
“Essa guerra institucional não vai trazer nenhum benefício para a dona Maria e nenhum avanço para o país. O que traz prosperidade é a paz, começando pela paz institucional. Então, a gente espera que os atores políticos possam colocar a cabeça no travesseiro e entender que esse processo conturbado não faz bem para a sociedade”, declarou.
No centro da polêmica e sob risco de ser penalizado pela ocupação da Mesa da Câmara, o deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS) defendeu a parceria entre os governadores Zema e Ratinho Junior. Ao mesmo tempo, ele trabalha pela aprovação do PL da Anistia no Congresso, uma das pautas que motivou o protesto dos parlamentares e que pode devolver os direitos políticos para que Bolsonaro dispute as eleições de 2026.
“Foi um belo encontro e temos duas excelentes alternativas. Evidente que o meu correligionário do Novo terá o meu apoio como candidato a presidente. Se os dois andarem juntos no primeiro turno, será ótimo. Se não, certamente estarão juntos no segundo turno”, afirmou o parlamentar.
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