
Até o nome de Luciano Magno revela a ligação visceral do pesquisador com seu objeto de estudo, a caricatura. Batizado Lucio Muruci, ele adotou um pseudônimo "uma constante entre caricaturistas desde o início do século 20". A publicação de História da Caricatura Brasileira, de 528 páginas, e os prometidos seis volumes que seguirão, permitem resgatar artistas que marcaram o jornalismo opinativo brasileiro, como Manoel de Araújo Porto-Alegre, considerado um precursor dessa arte no país. A publicação traz fartas reproduções que passeiam por diversos temas referentes ao século 19. Leia a entrevista com o autor:
SLIDESHOW: Memória - Conheça exemplares de charges brasileiras do século 19
Qual a relevância da caricatura brasileira em relação à de outros países?
Temos uma das maiores tradições no mundo, que se coloca ao lado da francesa, com a mesma qualidade, assim como da inglesa, alemã, italiana... Fazemos parte do "time de sonho".
Como o senhor começou a pesquisar a caricatura brasileira?
Aos 13 anos passei a acompanhar o Henfil, em quadros na televisão. Com a redemocratização, as Diretas Já, esse momento se refletiu muito nas caricaturas. E, desde então, acompanhei as publicações. O projeto [de catalogar a caricatura brasileira] tem 15 anos, e há 10 escrevo a obra, que sairá em 7 volumes.
Quantos artistas foram catalogados no primeiro livro?
Mais de cem. Tem capítulos sobre mais de 70, e há outros, temáticos, como "Humor nas Províncias", que falam de artistas cujo trabalho não era individual. Pesquisei todos os periódicos de caricatura do século 19, em que foram publicadas mais de 100 mil charges.
Onde pesquisou?
Biblioteca Nacional, na biblioteca da Associação Brasileira de Imprensa e em meu próprio acervo.
Como o senhor chegou ao paranaense João Pedro O Mulato, que integra a "pré-história" da caricatura, com um desenho de 1807?
Ele foi citado em livro de Newton Carneiro [filósofo curitibano], que o redescobriu, e levanta a tese de que ele seria o primeiro caricaturista [JP fazia desenhos críticos mas não chegou a publicar em jornal].
Minha pesquisa mostra um olhar descentralizado do Rio de Janeiro. Procuro trazer a contribuição de Pará, Paraná, Rio Grande do Sul... Procurei fazer uma série de classificações, e tive que perceber qual a importância de cada artista, com uma visão bastante nacional. Procuro ver as contribuições de estados e históricas.
Em Pernambuco há uma conotação incisiva na imagem e no texto, como em O Maribondo, depois de 1940. No Paraná, os periódicos no século 19 são o XV de Novembro, o Galeria Ilustrada e a Revista do Paraná. No início do século 20 já havia outras publicações, como o Olho na Rua.
Poderia citar outros caricaturistas de relevância, mas pouco conhecidos?
Um caso emblemático é o de AP Caldas, um artista da corte. Ele faz um trabalho surrealista, que traz uma semelhança com Giuseppe Arcinboldo [pintor italiano que compôs faces com frutas e flores]. Ele chegava até a apostar com o leitor para que procurasse no desenho tais e tais personalidades. Posso citar também Angelo Agostini, Frei Vital, o artista ucraniano David Ossipovitch...
Houve momentos em que a charge falou mais alto politicamente do que o texto dos jornais?
Há momentos em que a charge é mais incisiva que editoriais, como na revista Vida Fluminense e O Mosquito. Mas a imprensa do século 19 era bastante polêmica.
Qual o próximo lançamento de sua pesquisa?
Um volume só sobre guerras, diplomacia e questões nacionais no século 19. O lançamento deve ocorrer no final deste ano.







