
Não faltaram momentos marcantes nos 24 anos do Festival de Teatro de Curitiba. A Gazeta do Povo, com a ajuda do jornalista e curador do festival Celso Curi, escolheu dez instantes que, de alguma forma, contribuíram para a história do maior festival de teatro do país. Confira:
19 de março de 1992 - Sonhos de uma Noite de Verão, Ópera de Arame
No dia 19 de março de 1992, o Grupo Ornitorrinco apresentou no I Festival de Teatro de Curitiba uma singular montagem de “Sonhos de uma Noite de Verão”, do dramaturgo William Shakespeare. Com direção de Cacá Rosset, a peça tinha influências do circo e a proposta de trabalhar com a poesia, algo que destoava dos trabalhos do grupo, até então acostumado a desenvolver peças mais agressivas. Orçada em 600 mil dólares, a montagem encena uma tragédia apresentada por artesãos de Atenas ao duque da cidade. Antes de “Sonhos de uma Noite de Verão” chegar ao Brasil, passou pelos EUA e gerou discussões dentro do cenário cultural norte-americano por apresentar nove atrizes nuas durante as encenações. As declarações foram definidas por Rosset como “encalacradas por um falso puritanismo americano”.
Curiosidade: O Teatro Ópera de Arame foi construído especificamente para receber a peça.
23 e 24 de março de 1992 - Nova Velha História, Teatro da Reitoria
Com direção de Antunes Filho, a representação “poética-psicológica” da peça Chapeuzinho Vermelho, do grupo Macunaíma, apresentou ao público um trabalho fundamentado na figura do ator. Apesar da peça não ter sido recriada, houve a inserção de aspectos experimentais em seu desenvolvimento, com o objetivo de causar experiências e deduções diferentes em cada espectador. Protagonista da peça, o ator paranaense Luís Melo, em entrevista à Gazeta do Povo em março de 1992, sintetizou Nova Velha História como “um jogo teatral onde os atores se permitem trabalhar com o imaginário.” Melo também atentou para a forma de trabalho adotada por Antunes Filho. “Para ele, o teatro é como vida ou morte. Não existe meio termo e concessão. E isso exige dos atores.”
20 e 21 de março de 1992 - Romeu e Julieta, Teatro Mini Guaíra
Na montagem do clássico Romeu e Julieta, de William Shakespeare, o diretor Moacyr Goes tratou o texto com extrema sensibilidade. Na época, a Gazeta do Povo destacou a peça em que Goes não quis contar apenas uma história, mas discutir o conteúdo em sua essência mais profunda, investigando a poesia da palavra. “Em tempos em que textos clássicos voltam a ser montados com a força da palavra, a narrativa de Romeu e Julieta serve como mote para discutir a tragédia.”
19 e 20 de março de 1994 - O Futuro Dura Muito Tempo, Teatro da Reitoria
O diretor Márcio Vianna traz ao público as lembranças e delírios do filósofo Louis Althousser que, sem motivações aparentes, mata sua esposa. A montagem de Vianna rendeu ao espetáculo quatro prêmios Shell: melhor direção, melhor ator (Rubens Corrêa), melhor iluminação (Paulo César Medeiros) e melhor cenografia (Teca Fishinski). Pensada para um ambiente diferente, a peça quase teve problemas para se adaptar ao Teatro da Reitoria, mas foi um dos destaques no Festival de 1994.
30 e 31 de março de 1996 - Melodrama, Teatro Guaíra
Duas narrativas diferentes que se unem no final, clichês latinos e recursos multimídias, garantiram o sucesso da montagem de Enrique Diaz no festival de 1996. Projeções de slides, vídeos pré-produzidos e câmeras que transmitiam as ações do palco para os televisores fizeram com que Melodrama tivesse cinco indicações ao Prêmio Shell. Por fim, a peça conquistou a de melhor diretor e melhor figurino.
20 a 30 de março de 2008 - Vau da Sarapalha, Teatro da Reitoria
O espetáculo Vau de Sarapalha certamente é um marco para a Cia. de Teatro Piollin. O sucesso da montagem apresentada no Teatro da Reitoria, em 2008, projetou o grupo de paraibanos para além das fronteiras locais. Conhecido por seu experimentalismo, a companhia buscou em Guimarães Rosa a inspiração para inovar. A peça conta o drama de Argemiro e Ribeiro, infectados por malária. Além da bela adaptação feita por Luís Carlos Vasconcelos, o cenário garantiu ao espetáculo um sentimentalismo ainda maior.
23 e 24 de março de 2009 - A Mulher que escreveu a Bíblia (Inez Viana), Teatro Paiol
A adaptação do livro homônimo do gaúcho Moacyr Scliar trouxe como destaque a atriz Inez Vianna e a estreia de Guilherme Piva como diretor. Ambos conhecidos por outros atributos - ele como ator e ela como atriz respeitada em musicais -, formaram a parceria que rendeu a Inez uma indicação ao Prêmio Shell de melhor atriz. A montagem conta a história de uma mulher que, por ser feia, procura ajuda de um terapeuta de vidas passadas. No encontro, descobre que ela, além de uma das esposas de Salomão, foi também responsável por escrever a história da humanidade.
5 a 7 de abril de 2012 - O Jardim, Centro Horácio Coimbra
A montagem de “O Jardim”, feita por Leonardo Moreira, retrata um recorte jovem sobre a doença de Alzheimer e, principalmente, sobre as memórias perdidas e inventadas. A história é contada a partir da perspectiva de três famílias. O espetáculo rendeu dois Prêmios Shell, incluindo o de melhor autor, o que acabou projetando ainda mais Leonardo Moreira como um dos nomes de destaque do teatro em São Paulo.
4 e 5 de abril de 2014 - The Rape of Lucrece (Royal Shakespeare Company – Londres/ING), Teatro da Reitoria
A montagem de um poema de William Shakespeare era uma das atrações internacionais do Festival de 2014. No espetáculo, a cantora e atriz irlandesa Camille O’Sullivan deu vida ao drama da personagem Lucrece, que cometeu suicídio após confessar ao marido que havia sido estuprada pelo filho do imperador romano. O poema, transformado em musical pela Royal Shakespeare Company, de Londres, fez sua estreia no Brasil no Teatro da Reitoria.
29 e 30 de março 2014 - BR-Trans, Teatro Paiol
BR Trans, de Jezebel de Carli, levou o público que lotou o Teatro Paiol “ao delírio”, como destacou José Carlos Fernandes para a Gazeta do Povo. “O público ameaçou ‘não parar mais’ de aplaudir, em pé, o ator Silvero Pereira, por sua performance no monólogo BR Trans, dirigido por Jezebel De Carli. Silvero – com pressa de agradecer – só faltou dizer ‘chega’”.
O espetáculo trata do mundo transexual e todas as suas particularidades. Com humor, Silvero levou ao palco diferentes personagens e, no final, faz com que todos retratem um aspecto diferente da temática.



