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Música

À beira do precipício

Nirvana: entre rumores que previam o fim da banda e boatos que adiantavam a morte de Kurt Cobain, grupo fez uma das melhores apresentações de sua curta carreira |
Nirvana: entre rumores que previam o fim da banda e boatos que adiantavam a morte de Kurt Cobain, grupo fez uma das melhores apresentações de sua curta carreira (Foto: )
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No fim do mês de agosto de 1992, não se falava em outra coisa na Inglaterra: afinal de contas, o trio norte-americano Nirvana iria ou não se apresentar no festi­­val de Reading, tradicional evento de música que acontece desde 1971, há pouco mais de 60 quilômetros de Londres? Nas capas dos tabloides da época, manchetes adiantavam o fim do trio formado por Kurt Cobain (vocal e guitarra), Krist Novoselic (baixo) e Dave Grohl (bateria) e a morte do vocalista – viciado em heroína e trocando constantemente de clínicas de reabilitação – já havia sido anunciada mais de uma vez pela chamada im­­prensa marrom.

De fato, as coisas não andavam bem para a banda-ícone da cena grunge. Sentindo-se pressionados com o estrelato e o estrondoso sucesso de Nevermind (1991), os integrantes já quase não se falavam – enquanto Cobain mudou-se para Los Angeles, Novoselic e Grohl permaneceram em Seattle –, quanto menos ensaiavam.

Em pleno tratamento com metadona para se livrar da heroína, Kurt tornou-se pai da pequena Frances Bean Cobain (filha dele com a roqueira e atriz Courtney Love) apenas 12 dias antes da fatídica apresentação.

Embora nem os próprios integrantes tivessem certeza quanto ao futuro do Nirvana – recentemente, Dave Grohl, em entrevista à revista inglesa NME, declarou que, na época, tinha certeza de que o show seria um "desastre" – o trio subiu ao palco disposto a provar às 60 mil pessoas que se amontoavam em frente ao palco principal do Reading que a formação (e, Kurt, especialmente) continuava firme e forte. O resultado do show acabou rendendo à banda não apenas fôlego para continuar por mais um disco (In Utero, de 1993), como uma performance antológica, que agora chega ao mercado brasileiro nos formatos CD e DVD.

Com cor corrigida a partir das filmagens da época e áudio obtido da gravação original, Live at Reading presenteia os fãs com um encarte composto por fotos inéditas do show, clicadas por Charles Peterson, fotógrafo da gravadora Sub Pop. Ao todo, 25 faixas compõem o repertório da apresentação, iniciada de modo um tanto quanto peculiar.

Vestido com uma camisola de hospital por cima da roupa, com o rosto coberto por uma peruca de longos cabelos brancos, Cobain entra no palco em uma cadeira de rodas. "É muito doloroso. Mas vamos cara, você vai conseguir", anuncia Novoselic em tom de ironia, apontando para o vocalista. Kurt então, canta os primeiros versos da balada melosa "Love Rose" e cai para trás, fingindo desmaiar. Alguns segundos depois, os distorcidos acordes de "Breed" dão início ao show, fazendo levantar vapor dos corpos aglomerados na plateia e levando muitos marmanjos às lágrimas.

Sem se apresentar há cerca de dois meses – devido à série de internações, Kurt vinha se recusando a marcar longas turnês, concentrando-se apenas em shows esporádicos – a banda fez apenas um ensaio, na noite anterior ao festival. Mesmo assim, apesar de algumas falhas perceptíveis – Cobain perde o ritmo em "Polly"e erra o dedilhado de um verso inteiro do hit "Smells like Teen Spirit" –, ficam claros os motivos que le­­varam o Nirvana ao trono de maior banda da década de 90: a união de peso, melodia e intensidade em canções simples, de poucos acordes, tocadas com uma técnica capaz de fazer qualquer músico graduado arrancar os cabelos de pavor.

Em meio a uma crise que só pioraria a partir dali – o show realizado alguns meses depois, em São Paulo, revelou uma formação muito mais desgastada e Cobain à beira de um colapso –, é de surpreender que o show de Reading conte com momentos de bom-humor (autodepreciativo, é claro!). Logo no início da apresentação, entre as faixas "School" e "Sliver", Novoselic tenta acabar com os boatos sobre o término da formação: "Não sei o que vocês andaram ouvindo, mas esse não é nosso último show, nem nada disso", ao que Kurt respondeu certeiro: "É, sim. Eu gostaria de anunciar oficialmente e publicamente que esse é nosso último show". Não era, mas poderia ter sido.

Após apresentar canções do álbum que gravariam em novembro daquele mesmo ano (faixas de In Utero) – "Tourette’s", "Dumb" e "All Apologies", esta última dedicada à filha recém-nascida de Kurt e à sua esposa Courtney – o show termina, como não poderia deixar de ser, à la Nirvana, ou seja, com os equipamentos sendo totalmente destruídos pelos integrantes durante a furiosa "Territorial Pissings". Com exceção da guitarra de Kurt, que desce do palco para entregá-la nas mãos dos principais destinatários de sua carta de suicídio, escrita em abril de 1994, minutos antes de sua morte: os fãs. GGGG

Serviço

Live at Reading, Nirvana. Universal Music Brasil. Preços médios: R$ 24,90 (CD) e R$ 29,90 (DVD).

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