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Cinema

A boa onda local

A cena cinematográfica paranaense ganha efervescência. Estão sendo produzidos ou prestes a ser lançados comercialmente quase 30 longas-metragens, boa parte deles, curitibanos

A animação A Floresta é Nossa, continuação de Brichos, traz personagens mais contemporâneos em cenários bem mais trabalhados do que no filme anterior | Divulgação
A animação A Floresta é Nossa, continuação de Brichos, traz personagens mais contemporâneos em cenários bem mais trabalhados do que no filme anterior (Foto: Divulgação)
Jackson Antunes dirige em Curitiba o longa-metragem A Tímida Luz de Velas das Últimas Esperança |

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Jackson Antunes dirige em Curitiba o longa-metragem A Tímida Luz de Velas das Últimas Esperança

Confira 29 filmes que estão em produção no Paraná |

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Confira 29 filmes que estão em produção no Paraná

Pode-se dizer que o já centenário cinema paranaense vive sua fase mais prolífica, se alternando entre períodos de grande atividade de bastidores e outros de visibilidade nacional e, por vezes, internacional. "Há uma espécie de nascimento das produções de longas-metragens do Paraná. Antes, havia aqui e ali exceções que comprovavam a regra, hoje não", diz Pedro Merege, atual presidente da AVEC (Associação de Vídeo e Cinema do Paraná) e diretor de Mistéryos ao lado de Beto Carminatti.

Prova disso é um levantamento realizado pelo jornalista Rafael Urban, membro da Avec e colaborador de revistas como a curitibana Juliette e a carioca Piauí. Conversando aqui e ali, ele identificou 29 longas-metragens sendo produzidos ou prestes a ser lançados por aqui – desde Dois Sequestros, de Marcos Jorge, ainda em fase de pré-produção, até Corpos Celestes, de Fernando Severo e Marcos Jorge, que só falta estrear no circuito comercial. "Mas, certamente, há outros por aí, sendo produzidos de forma independente. É um número grande, que vai surpreender muita gente", considera.

Apoio local

O cineasta Paulo Munhoz é todo "pelos, penas e escamas". Não poderia ser diferente em um momento em que ele se dedica em tempo integral à produção do segundo exemplar da franquia Brichos, animação em 35 milímetros lançada nacionalmente em 2007.

Com o nome provisório de A Floresta É Nossa, a continuação de uma das animações brasileiras mais bem-sucedidas, um libelo dos animais pelo desenvolvimento sustentável, está prevista para ficar pronta no ano que vem e ser lançada comercialmente em 2011. "Brichos foi produzido em um ano. Desta vez, estamos trabalhando com um tempo maior para levar ao público uma produção tecnicamente muito superior. A técnica ainda é em 2D, mas os personagens estão sendo redesenhados, estão mais contemporâneos, há uma profundidade maior dos cenários", conta Munhoz.

Na entressafra entre um Brichos e outro, o diretor não parou de filmar. Produziu o longa-metragem Belowars, que circula pelos festivais de todo o país, mas ainda sem previsão de lançamento. "Talvez lance o filme direto em DVD", diz Munhoz, que atribui à dificuldade de encontrar um distribuidor ao fato de o filme ser mais experimental, feito com pouquíssimos recursos.

Mas Munhoz não reclama. Se ainda sente falta de mais apoio estadual e municipal, percebe que alguns instrumentos públicos já estão contribuindo para a multiplicação das produções audiovisuais.

É o caso do edital de Filme Digital – Ficção, Documentário e Animação, da Fundação Cultural de Curitiba, e do Prêmio Estadual de Cinema e Vídeo Digital do Governo do Estado. Este último já premiou com R$ 1 milhão três longas-metragens de ficção: Estômago, em 2007, Mistéryos, em 2008, e este ano Curitiba Zero Grau, segunda direção de Eloi Pires Ferreira após O Sal da Terra (2008), que neste momento realiza uma trajetória de exibição em municípios de todo o país.

No inverno passado, o diretor iniciou as filmagens de Curitiba Zero Grau, produzido em conjunto com a Tigre Produções Cinematográficas, produtora de Cascavel pertencente ao casal Salete Machado e Talício Sirino. O frio faz parte das inúmeras dificuldades enfrentadas pelos quatro protagonistas do filme – um catador de papel, um motoboy, um motorista de ônibus e o dono de uma concessionária –, que percorrem Curitiba diariamente como forma de sobrevivência. O filme já está sendo sonorizado e fará pré-estreia no aniversário da cidade, em março de 2010, com apoio estadual. "Depois faremos nossa própria distribuição", conta o diretor.

Concorrência desleal

Conseguir recursos para a distribuição e a exibição é o próximo desafio a ser vencido pelo cinema paranaense, na opinião dos cineastas. "A grande maioria da produção nacional está nas prateleiras, só alguns filmes brasileiros ficam com as sobras das grandes produções estrangeiras", diz Pedro Merege, lembrando que nas últimas semanas 70% das salas de cinema da cidade vêm exibindo dois únicos filmes – os blockbusters Lua Nova e 2012. Merege, no entanto, não reclama da atenção dada ao premiado Mistéryos, que durante toda a semana retrasada conseguiu se manter em cartaz em uma das salas do Unibanco Arteplex em cinco horários diários. Parece pouco, mas não é.

De passagem por Curitiba para interpretar o motorista de ônibus de Curitiba Zero Grau, o ator Jackson Antunes decidiu ficar mais um pouco para dirigir, em parceria com a produtora Salete Machado, uma adaptação da peça A Tímida Luz de Velas das Últimas Esperanças. A produção, que acaba de encerrar a fase de filmagens, narra de forma sensível os problemas de duas amigas idosas para enfrentar a velhice – vividas pelas atrizes cariocas Cristiana Britto e Lúcia Talabi. Estreia na direção do ator, o filme se viabilizou graças à união de oito coprodutores, incluindo a paranaense Tigre Produções Cinematográficas, Antunes e a atriz Cristiana Britto.

Nova geração

Uma nova geração, formada pela escola de Cinema da CineTVPR/FAP, tem contribuído para a proliferação de longas paranaenses. São jovens que juntam forças com os veteranos, ao invés de ficar à sombra deles, para aprender a fazer cinema na prática. "Eu mesmo já tive oportunidade de trabalhar com alguns alunos da escola. Mas isso se deve à interação pessoal, nunca houve uma interação muito boa das instituições com mercados de trabalho", considera Merege.

É o caso dos cinco jovens cineastas que em outubro receberam o prêmio de R$ 1 milhão oferecido pelo Edital de Baixo Orçamento do Ministério da Cultura para filmar seu primeiro longa-metragem, Circular, repetindo a trajetória de Estômago. São eles: Adriano Esturilho, Bruno de Oliveira e Fábio Allon, que fizeram parte da primeira turma do curso de cinema, e os ainda estudantes Aly Muritiba e Diego Florentino.

O filme será formado por histórias vividas por cinco personagens que se cruzam durante um assalto a um ônibus – cada uma dirigida por um dos diretores. O trabalho conjunto contou pontos na hora de enfrentar o júri do MinC, em Brasília. "A gente tem uma nova maneira de fazer cinema, mas se pretende continuadores dessa qualidade", diz Aly Muritiba, referindo-se ao filme do veterano Marcos Jorge.

"Acredito que o futuro vai ser melhor sempre. Acabou a era dos gênios isolados, a criação se torna mais cooperativa a cada dia e fico feliz que novos nomes ganham prêmios por aí", diz Paulo Munhoz. Pedro Merege analisa que a soma de trabalhos da nova geração incorporado ao volume de trabalho realizado pelos veteranos é um dos fatores que proporciona este mo­­mento momento especial para o cinema paranaense. "Mas isso também é fruto de uma luta de várias pessoas que estão há muitos anos tentando fazer com que as coisas aconteçam. Há todo um trabalho de resistência. Não tenho dúvidas de que nosso cinema se equipara em termos de qualidade artística ao de qualquer outro estado brasileiro", diz o presidente da Avec.

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