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Mostra de cinema de São Paulo

A chance de ver os mestres europeus

Oliver Assayas, Marco Bellocchio e Manoel de Oliveira tiveram filmes exibidos no festival paulista e atestam por que são referências mundiais

Après Mai, de Oliver Assayas, fala do período que sucede os conflitos de maio de 1968 na França | Divulgação
Après Mai, de Oliver Assayas, fala do período que sucede os conflitos de maio de 1968 na França (Foto: Divulgação)

Três grandes cineastas europeus, de diferentes gerações, estão presentes na 36.ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, com filmes que atestam por que são hoje referências mundiais, inquietos e questionadores: o francês Olivier Assayas, o italiano Marco Bellocchio e o português Manoel de Oliveira.

Depois da grande repercussão internacional da minissérie Carlos, sobre o terrorista Carlos, o Chacal, Assayas, hoje com 57 anos, retoma a temática política como Après Mai (Depois de Maio, em tradução livre), que fala do período que sucede os conflitos de maio de 1968 na França.

Clément Métayer vive o papel de um jovem que se vê numa espécie de cruzamento: de um lado, estão as grandes causas, o desejo de mudar o mundo e de seguir lutando por ideais libertários nos quais ele acreditara. Do outro, o desejo, igualmente forte, de seguir suas ambições pessoais, "mais burguesas" e individualistas, tanto no âmbito romântico quanto político.

Vencedor do prêmio de melhor roteiro na última edição do Festival de Cannes, Assayas, diretor de filmes importantes como Irma Vep e Horas de Verão reafirma a sua habilidade de tratar tanto de temas existenciais quanto políticos com a mesma sutileza e habilidade.

Eutanásia

Aos 73 anos, Marco Bellocchio é um dos maiores diretores italianos em atividade. Autor de grandes filmes como Bom Dia, Noite, sobre o caso Aldo Moro, primeiro-ministro italiano morto pelos terroristas das Brigadas Vermelhas, em 1978, e de Vincere, sobre o ditador Benito Mussolini, o cineasta se volta agora para outro tema espinhoso: a eutanásia.

A Bela Que Dorme toma como tema central outro fato da vida real: o controverso caso de Eluana Englaro, uma mulher italiana que, depois de um acidente de carro, em janeiro de 1992, entrou em um estado vegetativo permanente, e irreversível. O caso acabou provocando uma batalha judicial entre os que defendiam que os aparelhos fossem desligados e os que eram contra o término da vida de Eluana.

A batalha se arrastou por 17 anos e apenas em 2008 a Alta Corte italiana daria permissão à família de Eluana para suspender sua alimentação, e deixá-la morrer. A Bela Que Dorme, no entanto, vai bem além desse caso, e seus vários personagens têm suas vidas de alguma forma alteradas pela discussão em torno da eutanásia. Bellocchio cria um filme tenso, emocional, mas jamais sentimental, e capaz de tocar fundo e fazer pensar ao mesmo tempo.

Veterano

Cineasta mais idoso em atividade no mundo, o português Manoel de Oliveira, aos 104 anos, não dá sinais de cansaço. Agora graças às facilidades industriais proporcionadas pela tecnologia digital, vem fazendo, em média, um filme por ano. E sempre tendo o que dizer.

O Gebo e a Sombra não é um filme menor dentro da extensa filmografia de Oliveira, mas certamente é um longa-metragem pequeno, intimista, e recheado de grandes insights, aos quais o espectador tem de se manter atento.

Baseado em uma peça teatral de 1920, de Raul Brandão, gira em torno de Gebo, contador e cobrador de uma firma, vivido pelo grande ator francês Michael Lonsdale, casado com Doroteia (a italiana Claudia Cardinale, homenageada neste ano pela mostra paulista). A locação é única, a sala de uma casa modesta, onde Gebo, em seu livro de anotações, faz e refaz cálculos, noite afora. Bebe café para se manter acordado e diz que trabalha tanto, apesar da idade, para que a família não morra de fome, mas nunca fica muito claro o que está fazendo exatamente.

Do filho João (Ricardo Trêpa, neto do cineasta), apenas se fala no início da trama, um tanto soturna e cercada de um certo mistério sutil, porém onipresente. A mãe espera a volta do rapaz. Algo grave pode ter ocorrido, sugerem sussurros que permeiam a narrativa. Quem também espera por João com ansiedade é Sofia (Leonor Silveira) e quando ele ressurge, iniciam-se as surpresas em um filme meticulosamente elaborado, como de hábito, por Oliveira, um mestre da mise-en-scène que vai muito longe com aparentemente muito pouco.

O jornalista viajou a convite da organização da Mostra de Cinema de São Paulo.

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