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Documentário

A Corporação compara empresas a psicopatas

De uns tempos para cá, virou moda o documentário-denúncia. Principalmente entre os cineastas americanos de esquerda, desideologizados e conscientes do poder das imagens. Exemplos não faltam, a começar pelos populares longas de Michael Moore (Tiros em Columbine, Fahrenheit 11 de Setembro) e o filme-experimento de Morgan Spurlock, Super Size Me – A Dieta do Palhaço (sobre os malefícios do fast-food). Até Al Gore, vice-presidente na gestão Clinton e candidato derrotado na primeira eleição de George W. Bush, lançou o seu. An Inconvenient Truth ("Uma Verdade Inconveniente"), um alerta sobre os riscos de um colapso ecológico, tem levado multidões aos cinemas ianques desde o início do ano.

A Corporação (Canadá, 2003), que acaba de chegar às locadoras brasileiras, também faz parte dessa safra. Com o objetivo de discutir o poder das grandes empresas no mundo contemporâneo, o filme tem como ponto de partida uma pergunta, no mínimo, inusitada. Se as corporações são pessoas jurídicas, com os mesmos direitos e deveres dos indivíduos (podem processar e ser processadas, por exemplo), por que não analisar sua "personalidade"?

Usando métodos da Organização Mundial de Saúde, os diretores Jennifer Abbott e Mark Achbar chegaram à conclusão assustadora – mas não necessariamente surpreendente – de que as corporações apresentam sintomas comuns aos psicopatas. A saber: descaso pelos sentimentos alheios, incapacidade de sentir culpa, insinceridade, desprezo pela segurança e a saúde alheia, inaptidão para seguir as normais sociais e a conduta da lei. A partir daí, o filme apresenta uma série de exemplos de como as empresas, cada vez menos reguladas pelo Estado, podem ir contra o bem-público. Tudo em nome do lucro de seus acionistas, o único propósito que realmente importa.

Entre os entrevistados de A Corporação estão ativistas políticos, intelectuais, marketeiros e até ex-presidentes de grandes companhias. Um deles, cinicamente, chega a defender a exploração de trabalhadores em países subdesenvolvidos. "O único valor que o povo de Bangladesh tem a oferecer é sua mão-de-obra barata. Só assim podem se salvar da fome. Com o tempo, eles ficam ricos, gordos, sadios e mais caros. Então vamos procurar outros desesperados, para elevar sua renda", diz. Mas nem só de pessimismo vive o filme, que termina mostrando casos de mobilizações sociais bem-sucedidas e endereços eletrônicos de organizações "conscientes".

Longe de ser de um mero panfleto anti-capitalismo, A Corporação é um documento sobre a falta de limites das grandes empresas. A conclusão não poderia ser outra: já passou da hora de responsabilizá-las. GGGG

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