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Sandrine Bonnaire contracena com o norte-americano Kevin Kline em Xeque-Mate, primeiro longa-metragem de Caroline Bottaro | Divulgação
Sandrine Bonnaire contracena com o norte-americano Kevin Kline em Xeque-Mate, primeiro longa-metragem de Caroline Bottaro| Foto: Divulgação
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Em uma edição marcada por filmes protagonizados, em sua maioria, por mulheres, a atriz homenageada do Festival Varilux de Cinema Francês, que se realiza até o dia 16, no Unibanco Arteplex Crystal, é Sandrine Bonnaire. Aos 44 anos, ela já atuou em mais de 40 filmes. O mais recente, Xeque-Mate, ainda inédito no Brasil, será exibido pela última vez na mostra promovida pela Unifrance Films, um organismo de divulgação do cinema francês no mundo, hoje, às 16h10.

Revelada por Maurice Pialat em Aos Nossos Amores, em 1983, a atriz trabalhou com alguns dos principais diretores de seu país, entre eles, Claude Chabrol – sua personagem em Mulheres Diabólicas lhe rendeu o troféu de melhor atriz no Festival de Veneza de 1995. "Há dois anos, revi Jacques Rivette e pensei que ele morreria antes de Chabrol. Me surpreendi quando recebi a notícia de sua morte [de Chabrol, em 2010], porque ele tinha um grande desejo pela vida, estava em plena forma", contou a atriz, em entrevista à Gazeta do Povo, na última sexta-feira, no terraço do hotel Sofitel, no Rio de Janeiro, onde esteve para participar de debate com o público sobre o filme.

E com que outro diretor Bonnaire gostaria de trabalhar? "No momento com nenhum", diz matreira, com um largo sorriso, entre uma baforada e outra do cigarro. O hábito de fumar é, aliás, compartilhado com a diretora de Xeque-Mate, Caroline Bottaro, sentada ao seu lado. As duas se conheceram na produção do filme C’Est la Vie (2001), de Jean-Pierre Améris, do qual Bottaro foi roteirista. Ao ler em primeira mão o romance A Jogadora de Xadrez, de sua vizinha, a escritora Bertina Henrichs, Bottaro identificou uma história ideal para ser transformada em imagens. "E senti que aquele era um papel para Sandrine", disse a estreante na direção de longas.

Atriz e diretora se tornaram próximas ao longo dos cinco anos de pré-produção do filme. "Demoramos para levantar fundos e, nesse período, escrevi 18 versões do roteiro. O contato com Sandrine me ajudou a nutrir a personagem com elementos de sua personalidade", diz Bottaro. "Mas não contribuí como diretora ou roteirista, apenas com meu desempenho", esclarece Sandrine, que já dirigiu o documentário O Nome Dela É Sabine, sobre sua relação com a irmã autista, e finaliza seu primeiro filme de ficção, J’Enrage de Son Absence, que tem William Hurt, seu ex-marido, como ator principal.

Sandrine é Hèlena (Bonnaire), uma mulher retraída, que habita um vilarejo na Córsega, com o marido e a filha adolescente, e trabalha como faxineira e arrumadeira de um hotel. "O filme tinha que ser em uma ilha, onde as pessoas têm um forte sentimento de exílio, de isolamento", conta a diretora. Ela vive uma rotina sem emoções, nem mesmo conjugais, já que o marido já não parece sentir desejo por ela. Mas, ao ver um casal de hóspedes norte-americanos jogando xadrez através da cortina, em uma cena de grande apelo cinematográfico, a personagem sofre uma transformação interna. "Ela se fascina pelo desejo que o casal expressa um pelo outro e, assim, se apaixona pelo xadrez", conta Sandrine.

Obcecada pela nova descoberta, Hélena pede a seu patrão, o amargurado Kröger (Kevin Kline), que a ensine esse jogo em que a dama é a peça mais importante. Logo ele, que nunca prestou atenção na mulher que limpa sua casa, como se ela fosse invisível. "Gosto desse conflito promovido pelas diferenças sociais. No início, ele a manda jogar paciência, mas então entra em contato com a inteligência dela e passa a enxergá-la, se apaixona por ela. Ela o traz de volta à vida, abre as janelas de sua casa, que vive sempre às escuras; e é pelo olhar dele que ela ganha importância, que o marido a vê, sabe que pode ser desejada", conta a atriz sobre o processo de autodescoberta de sua personagem.

A jornalista viajou a convite do Festival Varilux.

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