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HQs

A dimensão dos quadrinhos curitibanos

O Caderno G Ideias de hoje resgata duas diferentes gerações da arte sequencial local e apresenta um maravilhoso mundo novo de humor, experimentalismo, terror, aventura e muita criatividade

 | Imagens: Reprodução/Design: Osvalter Urbinati
(Foto: Imagens: Reprodução/Design: Osvalter Urbinati)
Acima e no alto da página, personagens do desenhista Bellenda que ilustraram o terceiro número da revista Casa de Tolerância, de 1976 |

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Acima e no alto da página, personagens do desenhista Bellenda que ilustraram o terceiro número da revista Casa de Tolerância, de 1976

Quadro do desenhista Cortiano publicado na terceira edição da revista Casa de Tolerância, em novembro de 1976 |

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Quadro do desenhista Cortiano publicado na terceira edição da revista Casa de Tolerância, em novembro de 1976

Geração 70

Já está estabelecido o importante papel que os quadrinhos conquistaram atualmente na vida das pessoas. Não precisa ser um grande leitor, conhecer todas as nuances da história do Super-Homem ou ter uma opinião formada sobre o mais recente filme da franquia X-Men. Basta curtir boas histórias e ter disposição. O comportamento esboçado pelos leitores curitibanos e a edição "número zero" da Gibicon, no mês passado, provaram isso. O primeiro evento sério do gênero realizado na cidade levantou um saudável debate sobre o tema. Muita gente legal reunida, contato direto com artistas locais, nacionais e internacionais, e abertura para novos mundos.

As pessoas que mais vibraram com isso foram os integrantes da "velha guarda". Lá estavam Key Imaguire, Solda, Bellenda, entre outros nomes que contribuíram com seus traços e fantasias. Boa parte deles conta com seus trabalhos expostos nas paredes do Solar do Barão. Assim que você terminar de ler este caderno, coloque a melhor roupa e vá conferir a viagem no tempo proposta pela mostra Acervo da Gibiteca, em cartaz no Museu da Fotografia, até o dia 21 deste mês.

Viagem que teve seu primeiro marco com a geração dos anos 70. Uma das principais características dos quadrinhos foi seu reconhecimento como uma legítima manifestação artística e jovem. Com a contracultura dos anos 1960 e o grande "não" dado aos costumes e valores herdados pelos pais, a molecada conseguiu ser respeitada e se expressar utilizando a arte sequencial como sua. Não demorou muito para essas ideias chegarem ao Brasil, com os primeiros traços feitos pelas publicações independentes universitárias. Revistas como O Balão, serviram de exemplo para outros artistas começarem a produzir trabalhos ligados com essa nova linguagem.

"Todo mundo era doido para desenhar e queria mostrar seu trabalho. A vontade de fazer era grande. Tínhamos nossos empregos e não precisávamos muito daquele dinheiro, por esse motivo, as primeiras revistas saíram no esquema independente ou através de coletivos de artistas", explica Bellenda. Uma das publicações lembradas pelo cartunista é a Zéblue, que misturava quadrinhos com literatura e ilustração, para tratar de temas políticos, humorísticos, ecológicos e outras bandeiras levantadas naqueles anos. Entre esses jovens artistas estavam Otávio Duarte, Cristóvão Tezza, Reinoldo Atem, o músico Carlos Gaertner, Key Imaguire, Luiz Retamozzo, Claudio Seto, Dante, e grande elenco.

Grafipar

Foi nesse contexto que a produção curitibana ganhou vida e reconhecimento. Mas não foram somente iniciativas independentes e coletivas que fomentaram a produção local, e sim, a soma entre jovens artistas com a vitória no mercado brasileiro da editora Grafipar. Surgida em meados da década de 1970, como uma continuação da editora paulista Edrel, os artistas da Grafipar aproveitaram o período final da ditadura, e lançaram revistas focadas no público jovem. Publicavam jogos, passatempos e histórias de conteúdo erótico, como era o caso da revista Peteca. Distribuída em formato pequeno e mantida pelas vendas nas bancas de jornal, sem apoio financeiro de anunciantes. Quase um sonho.

A Grafipar conseguia renovar o mercado com novas surpresas, tirou a atenção do eixo Rio–SP e chegou a ser considerada a sexta maior editora do Brasil. Isso atraiu diversos desenhistas e roteiristas de dentro e fora do país, além do sucesso nas produções de histórias de terror e eróticas.

O fim de seus trabalhos é associado a diversos fatores. Estava na distância do eixo de mercado e sofria com a forte concorrência vinda de São Paulo e Rio de Janeiro. Também funcionava como editora e gráfica simultaneamente; o trabalho de editoração segue caminhos opostos aos serviços terceirizados do setor gráfico.

Gibiteca

Pouco a pouco, a produção curitibana de quadrinhos na década de 1980 se desenvolveu e elegeu alguns ícones. Com nomes já consolidados no meio alternativo, o artista Key Imaguire, ao lado do escritor e cineasta Valêncio Xavier, criaram a revista Casa de Tolerância em plena sintonia com as tendências estéticas de fora do país. Traços experimentais, histórias sem fim e a sombra da cultura alternativa que era cada vez mais bem aceita. Infelizmente, isso durou pouco; o humor urbano ganhou mais espaço nos quadrinhos brasileiros capitaneados pela revista Chiclete com Banana (berço de Angeli, Laerte e Glauco) e as energias curitibanas foram colocadas em outras frentes.

Uma dessas iniciativas é uma velha co­­nhecida da vizinhança. A Gibiteca foi fundada no dia 15 de outubro de 1982, fruto das ideias de Key Imaguire que surgiram alguns anos antes. O plano era bem simples; criar um ambiente onde as pessoas pudessem encontrar diferentes gêneros de HQs, realizar cursos, palestras e exposições. Foi a primeira biblioteca especializada em quadrinhos no país.

Seu primeiro endereço foi a galeria Schaffer, na Rua XV, mas teve que se mudar inúmeras vezes. Passou pela Casa da Baronesa (Solar do Barão), Espaço Teatro Piá (sede da Fundação Cultural de Curitiba) e só em 1998 ela foi para suas instalações no Solar do Barão, onde se encontra desde então.

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