
Elegante, muito simpático e gentil. Três adjetivos que descrevem com justiça Will Smith. Aos 43 anos, ele tem no currículo inúmeros sucessos de bilheteria, como Independence Day (1996) e Eu Sou a Lenda (2007), só para citar alguns, e já foi duas vezes indicado ao Oscar de melhor ator. Façanhas incríveis para qualquer astro de sua geração, mas feitos ainda mais notáveis em se tratando de um jovem negro, que iniciou sua carreira como rapper e comediante de televisão, estrelando a série Um Maluco no Pedaço, que foi ao ar entre 1990 e 1996.
No último mês de fevereiro, Smith esteve no Rio de Janeiro, acompanhado pelo ator Josh Brolin (de Onde os Fracos Não Têm Vez), para juntos divulgarem o filme Homens de Preto 3, seu primeiro trabalho na frente das câmeras em quatro anos. Nesse episódio, que chega simultaneamente aos cinemas do Brasil e dos Estsados Unidos na próxima sexta-feira, dia 25, Smith retoma o papel do Agente J, que depois de perder seu parceiro, o Agente K (Tommy Lee Jones), em mais um confronto com seres alienígenas, resolve retornar no tempo. Voltar a 1969 para reencontrar o colega, vivido em sua encarnação jovem por Brolin, e tentar salvá-lo.
Leia, a seguir, a bem-humorada entrevista concedida por Smith a um grupo de jornalistas da América do Sul no hotel carioca Copacabana Palace:
Em Homens de Preto 3, você e Josh Brolin parecem ter se divertido muito trabalhando juntos. Foi "amor à primeira vista"?
Não é possível forjar química entre duas pessoas, sabe? Ou elas se dão bem de cara, e quando você as vê juntas, há uma aura, uma explosão, um "fator X" difícil de explicar, ou simplesmente isso não acontece. O mais incrível para mim foi que, em meu primeiro dia com Josh Brolin, houve uma química quase idêntica à que eu senti em meu primeiro dia com Tommy Lee Jones no filme original, de 1997. Nós compreedemos muito bem os ritmos um do outro. Por exemplo, você pode fazer uma cena, e eu posso fazê-la com você, usando exatamente as mesmas palavras, tudo igual, mas você vai recuar, enquanto outro ator vai aceitar o jogo e me desafiar. Assim, quando você está criando uma cena, é um processo de troca, de toma lá, dá cá. É como fazer amor.
Você teve alguma dúvida quanto a fazer um novo Homens de Preto?
Porque erramos feio no segundo filme o que explica porque levamos dez anos para fazer o terceiro , e não há nada pior do que estragar algo que é conceitualmente bom, claro que sim, tive dúvidas. O original é um clássico e, quando voltamos com uma sequência, pisamos na bola. Isso é torturante. Faz você se questionar se não fez o filme pelas razões erradas, se não foi um pouco arrogante, querendo apenas se divertir, achando que a partida já estava ganha. Ao tirar uma licença de dez anos, chegamos a um ponto em que teríamos antes de ter uma grande ideia, o que deveria ser a razão principal pela qual qualquer filme é feito. Se não for assim, é o que chamamos de "o beijo da morte". E Homens de Preto 3 foi feito porque tivemos uma grande sacada. Há uma poderosa virada emocional nessa história e, mesmo nos três últimos minutos do filme, há uma supresa capaz de fazer com se vejam os três episódios sob uma luz diferente. E esse foi o motivo que fez todo mundo topar o desafio.
Como foi voltar no tempo aos anos 60, à moda, ao estilo daquela década? Em 1969, você tinha apenas um ano de idade.
Eu amo o senso de humor de Barry Sonnenfeld, e esse é um filme dele. Essa era, os anos 60, é fantástica. Ficamos pensando na época à qual iríamos retornar, e aterrissamos no ano da chegada do homem à Lua. E, por isso, há uma prisão lunar no filme. Sonnenfeld tem um mente tão bizarra, enlouquecida, que os extraterrestres no filme são aliens retrôs. O design, a aparência deles, é semelhante à forma como eles eram representados em filmes e seriados da época, como Perdidos no Espaço. Pessoas pintadas de azul, globos de vidro ao redor da cabeça. Quando entrei no set para rodar, o que vi era simplesmente genial. E tudo isso serve apenas para emoldurar as cenas, estão lá no fundo, para dar o clima. Acho que este filme é pelo menos tão bom, senão melhor do que o Homens de Preto original.
Você acredita em vida inteligente fora da Terra?
Seria arrogante acreditar que somos a única forma inteligente de vida no universo. Até porque não somos tão espertos assim. Creio, definitivamente, que deva haver seres mais inteligentes do que os humanos.
Há algum filme de ficção científica que você gostaria de refazer, revisitar ou de ter feito?
O único filme na história do qual me "incomoda" não ter participado é Guerra nas Estrelas (1977). Foi o primeiro que fez minha imaginação explodir e ter vontade de fazer cinema, pelo que me causou quando o vi, acho que aos 9, 10 anos. É aquele sentimento que tento criar com o que eu faço. Mas acho que não cheguei lá ainda. O conceito de que você pode fazer, dizer qualquer coisa, de que os personagens podem ser o que você quiser que eles sejam, é incrível. Se isso tudo for autêntico para você, as pessoas vão acreditar. Mas, para que entendam, você, o criador, tem de sentir que aquilo é verdade. É isso que eu estou tentando desenvolver em minha carreira agora.
Há algum personagem em particular que você gostaria de interpretar, ou que está esperando ficar mais velho para fazer?
Provavelmente, Nelson Mandela é o único personagem que me tira o sono à noite. Acho que estou quase na idade certa para ser capaz de fazê-lo tanto quanto jovem quanto mais velho. Mais uns dois anos, eu estou no ponto. Já foram feitos filmes sobre a história da África do Sul, do apartheid, mas não penso que isso tudo tenha sido levado ao mundo da forma como eu enxergo e sinto. É a história humana absolutamente perfeita.
Como você se sente em relação à atual administração do presidente Barack Obama? Está entusiasmado com a campanha presidencial?
Sim, sou um grande apoiador de Barack como homem e como presidente dos Estados Unidos. Fora da política, o que ele fez pelo mundo, a ideia de ser o primeiro negro a ser presidente dos Estados Unidos, beirava, e ainda parece ser, impossível de acreditar. Se nós, em Hollywood, fizéssemos um filme sobre a história de um negro vencendo a Presidência dos Estados Unidos, seria visto como o pior dos filmes. Lixo hollywoodiano inverossímil, ficção científica.
Você veio das comédias e é realmente muito engraçado. Você se sente mais confortável fazendo comédias de ação, como Homens de Preto e Hancock, do que dramas?
Acho que é o meu registro mais natural, ao qual eu posso sempre recorrer. Mas, à medida em que fico mais velho, como ator, tenho gostado de enfrentar papéis mais densos e dramáticos. Eu gosto de me desafiar. Acho que viver Mohamed Ali [no filme Ali (2001)] foi o papel mais difícil que já tive de fazer. Fui indicado ao Oscar por Ali e por À Procura da Felicidade (2006), que foram meus melhores trabalhos de atuação, e À Procura... é, provavelmente, o mais perto que cheguei de ter feito um filme perfeito.
O que o leva a escolher um certo projeto, um determinado papel?
Hoje em dia, as minhas escolhas têm mais a ver com a minha vida, onde eu quero estar, em que cidades eu quero trabalhar. No caso de Homens de Preto 3, a ideia para o filme surgiu assim, de repente. O fantástico conceito de um salto no tempo para que o meu personagem [o Agente J] voltasse para salvar o parceiro [Agente K, vivido por Tommy Lee Jones], que foi assassinado. E, daí, acrescentar alienígenas a esse enredo e, então, ter Josh Brolin fazendo a versão jovem de Tommy. Tudo isso me pareceu muito excitante e criativo. Além disso, eu não trabalhava como ator há quatro anos. Queria ter certeza de que, quando eu voltasse, fosse em um projeto cercado de muita energia.
Esse hiato de quatro anos foi uma escolha consciente, proposital?
Mais ou menos. Estávamos trabalhando no filme Karatê Kid [produzido por Smith e estrelado por Jaden Smith, seu filho] e, ao mesmo tempo, eu estava lidando com o projeto musical de minha filha [Willow Smith] e o programa de televisão de minha mulher [a atriz e produtora Jada Pinkett-Smith]. Havia uma demanda de atenção e conhecimento por parte da vida criativa de minha família, que eu não poderia suprir se estivesse trabalhando. Assim, eu dei uma parada para ajudá-los a se estabelecer e desenvolver seus projetos da forma que desejavam. Os "filmes do papai" roubam muito tempo deles [risos].
E você gostou desse papel de produtor?
Nós filmamos Karatê Kid na China, com Jackie Chan. Se você vai sair, passar tempo com Jackie Chan, deve fazê-lo na China. Lá, ele é o cara! Quando ele diz algo, a coisa acontece! Ele ensinou artes marciais ao meu filho. Quando me dei conta, nossa família toda estava com Jackie na Grande Muralha. Foi uma experiência muito especial. Haveria no mundo algo melhor a fazer naquele momento? Embora eu não estivesse filmando, foi tão gratificante quanto se eu estivesse.
Essa não é a primeira vez que você vem ao Brasil para divulgar um filme. O mercado brasileiro está se tornando mais importante para Hollywood?
O Brasil e a Rússia são os dois mercados de cinema que crescem mais rápido no mundo no momento. O Brasil se tornará, muito provavelmente, o quinto maior em um pouco mais de um ano. Na perspectiva da carreira internacional de um filme, o país passou a ser visto como uma praça extremamente importante para a indústria do cinema.
Você costuma acompanhar esse aspecto mais voltado aos negócios dentro da indústria cinematográfica? Gosta de divulgar os filmes?
Eu começei minha carreira no mundo da música, e parte do sucesso nesse ramo tem muito a ver com o mercado de fora [dos Estados Unidos], com ter de viajar para divulgar o trabalho. Observamos com atenção a performance dos discos em diferentes países. Por exemplo, eu tive, por alguma razão, uma única música que chegou ao primeiro lugar na Irlanda [risos], "Boom Shake the Room" [lançada em 1993, quando Smith formava a dupla de rap DJ Jazzy Jeff & The Fresh Prince]. Portanto, eu presto muita atenção a esse tipo de estatísticas. E eu amo viajar. Quando eu estava crescendo, o que sabia era que, não importa o que fosse fazer da vida, teria de ser ao redor do mundo. Assim, esta é a parte interessante do que eu faço: viajar para fazer o lançamento, a divulgação. Fazer o filme, em si, é bem menos interessante.
Você tem algum país favorito, alguma viagem memorável nessas turnês de lançamento?
Depende do projeto. Alguns filmes interagem, têm recepções especiais em certos países. Eu estive aqui, no Brasil, em 2005, com Eva Mendes, para lançar Hitch -- Conselheiro Amoroso, durante o carnaval. Era o filme certo na hora certa, Carnaval, Rio, uma história de amor: tudo combinava. Na Rússia, isso aconteceu com Eu, Robô (2004). Por alguma razão, o clima do filme, os robôs, a trama, causaram enorme repercussão em Moscou quando estivemos lá. Aqui no Rio, eu quase causei um incidente internacional quando tentei saltar do camarote no meio do desfile das escolas de samba. Estávamos próximos do camarote do presidente [Lula], e daí eu me toquei que fazer aquilo não seria uma boa ideia. A segurança presidencial achou que era um atentado [risos]. Não foi algo muito bonito de ver.
O jornalista viajou ao Rio de Janeiro a convite da Sony Pictures.



