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Capa dos quadrinhos publicados em 1974 | Marvel/Divulgação
Capa dos quadrinhos publicados em 1974| Foto: Marvel/Divulgação

Aos 75 anos de idade, o Capitão América sempre empunhou certo simbolismo político, seja fazendo sua estreia turbinada com soro durante a Segunda Guerra Mundial acertando o maxilar de Hitler, ou virando um fora-da-lei em seu novo filme, “Guerra Civil”. Mas sua vida política é, evidentemente, marcadamente diferente nas páginas em comparação ao que é na tela.

Para o Universo Cinematográfico da Marvel, os cineastas decidiram congelar Steve Rogers do período da Segunda Guerra Mundial até os dias de hoje, como algum tipo de Senhor Pirulito. “Tendo ido dormir por 70 anos e acordado depois disso”, o codiretor de “Capitão América: Guerra Civil” Joe Russo disse ao Washington Post semana passada, “ele escapou do, por assim dizer, defloramento dos Estados Unidos.” Steve Rogers, em outras palavras, “perdeu Watergate, o Vietnã, perdeu tudo”.

O Capitão América tem uma história política muito mais rica, contudo, nos quadrinhos, nos quais Rogers acorda a tempo de não perder o Vietnã e Watergate.

Conforme a nação mudava durante aqueles tempos tumultuosos, a Marvel Comics teve de reagir a isso para permanecer relevante. Então o editor se voltou para sua flecha mais certeira, que era o primeiro Vingador da Marvel, então ainda Timely Comics.

“Durante esse período, as vendas e o interesse pelo Capitão América começaram a cair, por razões óbvias”, Tom Brevoort, vice-presidente sênior da Marvel para publicações, conta ao Post. “Dado que a nação estava enredada em uma guerra impopular – especialmente impopular com os jovens que estavam sendo convocados para lutar – personagens tais como o Capitão e o Homem de Ferro, que tinham a imagem de serem pró-Establishment, não estavam em sincronia com o público.”

E o escritor que mudou essa trajetória foi Steve Englehart.

Desiludido com os EUA, Cappitão América se torna o Nômade Reprodução

Combatente do crime e patriota

“O próprio Steve era um rapaz jovem a essa altura, com seus vinte e poucos anos, e ele se conectou com a contracultura”, diz Brevoort. “Então ele se propôs a tentar tornar o Capitão América relevante para os novos tempos, e para o mundo por volta dos anos 70. Isso tudo levou à história do Império Secreto, que era uma alegoria para o escândalo de Watergate e a maneira como tinha sido reportado pela imprensa.”

Englehart perguntou a si mesmo: “quem é o Capitão América?” A resposta foi: esse combatente do crime, com treinamento militar e patriota acreditava na presidência dos Estados Unidos, até o momento em que rastreou uma conspiração que apontava para a Casa Branca – um super-herói caçando todos os homens do presidente.

O Capitão derrota o maléfico Comitê para Reaver os Princípios Americanos e desmascara seu líder, que presumivelmente é Richard Nixon. (“A metáfora é forte e direta”, diz Brevoort.) O líder se mata em vez de ser preso. Um escândalo estilo Watergate é encenado para que o dublê de corpo póstumo do líder possa renunciar.

“Como a maioria de sua geração, não acredito que Steve gostasse ou confiasse em Richard Nixon, então para ele foi um pulo pequeno transformá-lo no líder do Império Secreto”, diz Brevoort, que editou histórias da Marvel como Guerra Civil.

Na vida real, o escândalo Watergate fez com que um processo de impeachment fosse iniciado no Congresso Americano. Quando os próprios políticos do Partido Republicano alertaram Nixon de que ele não teria os votos suficientes para se manter no cargo, ele preferiu renunciar.

Nômade

Uma vez que o Capitão América desmascara a conspiração, contudo, seu senso de confiança patriótica é quebrado.

Tão importante quanto a história do Império Secreto, diz Brevoort, foi “o desdobramento imediato dela, no qual Steve Rogers entrou em uma busca interior e procura pelo seu eu estilo anos 70, adotando a identidade do Nômade – o homem sem país – ao longo do caminho, antes de finalmente retornar como o Capitão América, que passou a ser leal e motivado pelo sonho americano em vez de por alguma parte específica do governo.”

“Isso refletia o tipo de busca interior pela qual muito do público estava passando naquele momento”, diz Brevoort, que se juntou à Marvel em 1989, “e fez com que o Capitão América se tornasse novamente um dos títulos mais populares da Marvel.”

O que levanta a questão: agora que o Capitão América da tela desconfia ele próprio do governo e da autoridade institucional, poderia o Nômade estar no horizonte do Universo Cinematográfico da Marvel?

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