
A dor e as tragédias da vida da mexicana Frida Kahlo (1907-1954) se confundem com a sua obra a arte foi um subterfúgio para que Frida expusesse suas angústias. Um lado ainda mais íntimo dela, com sua família e amores, estará em exposição a partir de hoje, às 20 horas, na mostra Frida Kahlo As Suas Fotografias, no Museu Oscar Niemeyer (MON). O museu será o único espaço brasileiro a receber a mostra, com 240 fotos (fac-símiles das originais), do acervo pessoal da artista, vindos do Museu Frida Kahlo "La Casa Azul", na Cidade do México. Antes de chegar ao Brasil, o mesmo conjunto de imagens foi exibido no Museu de Arte Latino-Americana em Long Beach (EUA), e, depois de Curitiba, segue para Alemanha, Austrália e Tijuana (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo).
SLIDESHOW: Veja mais fotos da Mostra
"A mostra é muito requerida pelo público e pelos estudiosos da obra de Frida, porque ela mostra uma faceta muito importante, que é a importância da fotografia em sua obra e vida", diz a diretora do Museu Frida Kahlo, Hilda Trujilo Soto.
Foi Hilda quem descobriu, em 2007, 6,3 mil fotos do acervo e outros objetos da artista trancados em um banheiro do museu homônimo. Em seu testamento, o marido de Frida, o muralista Diego Rivera (1886-1957), pediu que o espaço fosse aberto por uma amiga 15 anos depois da sua morte o que não ocorreu. Entretanto, o testamento do muralista determina que os originais não saiam do México. "Estamos lutando para que os vestidos possam sair, há um pedido de mais de 20 países, mas é difícil", diz Hilda. O museu da artista recebe hoje mais de 300 mil visitantes ao ano, e foi eleito pela revista Newsweek como um dos lugares para se conhecer antes de morrer.
Na mostra do MON, o visitante poderá ver registros fotográficos de Frida desde a infância, muitos deles feitos por seu pai, Guillermo, que foi fotógrafo profissional. Há, ainda, trabalhos da alemã Gisèle Freund e do húngaro Nikolas Muray, além de outros feitos pela própria artista. As fotografias selecionadas (pelo curador Pablo Ortiz Monasterio) foram divididas em seis seções: os pais da artista, a Casa Azul (onde Frida viveu, hoje o museu homônimo), seu lado íntimo, os amores, os arquivos reunidos por ela e, por fim, sua atuação política. É possível ver, por exemplo, um retrato de Frida menina, aos cinco anos, além de outros depois das várias operações que realizou, em 1946. A Casa Azul, o universo criativo da artista, também aparece diversas vezes. Há, ainda, a famosa série de Nicolas Muray, Frida em Tração, que mostra a artista pintando na cama, cheia de ataduras.
Segundo Hilda, além de mostrar a influência e as origens da artista, a exposição coloca a relevância histórica do período vivido por Frida e Diego Rivera pós-Revolução Mexicana. "Eles criaram ao lado de outros artistas uma nova organização social que buscou retomar as origens hispânicas e populares. E isso chamou atenção mundialmente."
Corpo e dor
Para Hilda, Frida Kahlo é um exemplo para as mulheres. "Sua característica mais forte foi a sua originalidade. Também foi uma mulher que não tinha nenhuma atadura social, que apresentava o que sentia em sua obra. Além de ser muito livre sexualmente, intelectual inquieta, que pinta o seu corpo nu, o analisa", diz. Outro ponto marcante, de acordo com ela, foi a maneira como Frida conseguiu tornar o seu corpo repleto de dor e defeitos em uma obra de arte com as suas roupas. "Ela transformou todo o seu sofrimento em cor." A diretora do MON, Estela Sandrini, concorda. "O que me entusiasma muito é que Frida, de forma silenciosa, sem grandes exposições, fez um trabalho sério e narrou na arte a sua própria vida."
Visitas
Por ser inédita no país e procurada por pessoas de vários locais do Brasil (de acordo com o MON, há grupos de outras cidades que organizaram excursões para visitar a exposição), o museu vai limitar a entrada em 200 pessoas por vez na sala 3, onde estará a exposição. "É uma mostra intimista, com leitura um pouco mais lenta", destaca Estela Sandrini. No sábado, o MON realiza, às 15 horas, uma visita mediada pela exposição com a professora, ensaísta e crítica de arte Maria José Justino. Diretora da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap), Maria José é autora de livros como Mulheres na Arte. Que Diferença Isso Faz?, no qual Frida Kahlo é um dos destaques.









