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Multimídia

A literatura em alto e bom som

Filão nos Estados Unidos desde a década de 1950, febre na Europa há cinco anos, o audiolivro chega ao Brasil e é uma das tendências apresentadas na Bienal Internacional do Livro

Ouvintes experimentam os audiolivros disponíveis na Bienal Internacional do Livro de São Paulo | Marcelo Damasceno
Ouvintes experimentam os audiolivros disponíveis na Bienal Internacional do Livro de São Paulo (Foto: Marcelo Damasceno)
Para empresários, audiolivros podem atrair tanto leitores quanto não-leitores |

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Para empresários, audiolivros podem atrair tanto leitores quanto não-leitores

Para empresários, audiolivros podem atrair tanto leitores quanto não-leitores |

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Para empresários, audiolivros podem atrair tanto leitores quanto não-leitores

Se no início era o verbo, o verbo era – como se sabe – verbalizado em alta voz e assim, oralizado, o verbo deflagrou essa incrível experiência humana que se chama contar "estórias". Antes da invenção da imprensa, em 1450, por Gutemberg, o imaginário humano era alimentado, sobretudo, pelas narrativas orais. E esta prática, que nunca deixou de acontecer, vem retornando cada vez com mais intensidade.

Uma das tendências do mercado editorial, evidenciada durante a 20ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que teve início na última quinta-feira (14) e segue até o próximo domingo (24), são os audiolivros.

A editora Livro Falante, com estande concorrido na feira paulista, disponibiliza 13 títulos. São, sobretudo, obras literárias, consagradas ou contemporâneas, veiculadas em CD ou MP3, lidas pelos próprios autores ou mesmo por atores e/ou locutores. No catálogo, destaque para Contos Negreiros, livro de Marcelino Freire, lançado em 2005 pela Record, agora em CD, na voz do escritor pernambucano. Time de Primeira traz textos ficcionais de 21 autores do presente, todos na voz da atriz Leona Cavalli, que inclui "Noções Básicas", conto de Miguel Sanches Neto, colunista da Gazeta do Povo. Há, ainda, o romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, "interpretado" pelo ator Rafael Cortez, repórter do programa CQC.

À frente da iniciativa, Sandra Silvério – uma leitora apaixonada, formada em Letras, e que há dois anos e meio fechou um outro negócio e apostou neste empreendimento. "Para o brasileiro, já caiu a ficha de que a leitura é indispensável. Agora, creio que o público, aos poucos, troque o hábito de ouvir música por ‘escutar’ livros", afirma. Sandra apostou no filão de olho, ou melhor, de ouvido no mercado norte-americano, onde desde a década de 1950, ainda nos tempos do vinil, já se comercializava, e faturava, com audiolivros.

Tempo não-perdido

A exemplo da Livro Falante, a Universidade Falada também comercializa audiolivros. No site www.universidadefalada.com.br, há 250 títulos e no comércio, 50 opções. O editor Cláudio Wulkan salienta que o diferencial de sua empresa são os conteúdos exclusivos. "Além da leitura de clássicos, contratamos especialistas para gerar conteúdo. Então, se alguém deseja saber algo sobre filosofia, arte, história etc., ao invés de ler, é possível aprender escutando", diz.

Wulkan acredita no filão e cita algumas situações em que o seu produto – o audiolivro – pode ser usufruído: dos engarrafamentos no trânsito a caminhadas no parque, das aulas de ginástica em academias a filas de espera para pagar contas no banco. "As pessoas estão se dando conta de que, por exemplo, ao invés de ‘perder tempo’, é possível utilizar esse tempo, tido como perdido, para, por exemplo, aprender e ampliar horizontes", afirma.

Best sellers falados

O empresário francês especialista em mercado editorial Patrick Osinski é sócio da Ediouro no projeto Plugme. Trata-se de uma parceria com a finalidade de comercializar best sellers falados – não apenas da Ediouro – no mercado brasileiro. No momento, são já 15 audiolivros. Vale Tudo, a biografia de Tim Maia, chega com a voz do autor, Nelson Motta. O mesmo vale para, por exemplo, Perdas e Ganhos, em que Lya Luft narra o próprio texto. Mas atores também foram contratados para, além de ler, impregnar os textos com alguma dramaticidade.

A Vida Como Ela É, de Nelson Rodrigues, tem a voz do ator Milton Gonçalves. As Memórias do Livro, de Geraldine Brooks, é lido pela atriz Cristiana Oliveira. Marley e Eu, de John Grogan, tem performance vocal do ator Luis Melo. José Wilker, por sua vez, lê Quando Nietzsche Chorou, de Irvin Yalom.

Osinki, que já havia empreendido essa ação na França, conta que o audiolivro se tornou febre na Europa cinco anos atrás. Ele observa que o público europeu, sobretudo na Alemanha, é adepto incondicional deste hábito de livros que falam. "É um caminho sem volta. O audiolivro, mais que uma tendência, se tornou um hábito e um prazer para o ser humano entrar em contato com conteúdos interessantes por meio da audição", diz.

Ora, escuteis

A editora da Livro Falante, Sandra Silvério, antes mesmo de ser questionada a respeito de possíveis opiniões contrárias ao audiolivro, se antecipa e defende o formato. "O audiolivro não me tirou o prazer de ler em silêncio. E mais: se o audiolivro é bom até para quem gosta de ler, imagine para quem não gosta. Um não-leitor pode vir a se tornar leitor se aderir ao hábito de ouvir audiolivros", afirma.

O sócio da Ediouro no projeto Plugme, Patrick Osinki, enfatiza que os audiolivros não vão substituir os livros impressos. "O bla-blablá é antigo. Quando surgiu a tevê, disseram que o cinema iria acabar. O mesmo se falou sobre muita coisa. Quando surge uma tecnologia, sempre falam em extermínio de outras anteriores, o que não é verdade. O livro vai seguir, pois está aí há muito tempo. Não seria o audiolivro que iria eliminar o livro. Ao contrário. Livro e audiolivro podem conviver numa boa", aposta, quase ao dizer que – agora – o verbo é o mesmo do início (e tão oralizado como era e sempre foi, desde o começo).

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O jornalista viajou a convite da Bienal Internacional do Livro de São Paulo.

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