
Um dos mais importantes nomes da ópera no Brasil, a cantora Neyde Thomas morreu na madrugada de ontem, em Curitiba, aos 81 anos, vítima de um câncer no pâncreas. A cantora estava internada há uma semana no hospital Erasto Gaertner. Natural de Pirajuí, em São Paulo, a soprano paulista tinha um extenso currículo internacional (veja o quadro ao lado), que inclui prêmios e concertos nos maiores teatros do mundo, como o Metropolitan Opera House, em Nova York, e o Deustche Oper, de Berlim, além de ter sido regida e e de ter cantado ao lado de grandes artistas da música, como Placido Domingo e Luciano Pavarotti e os maestros Lorin Maazel e Júlio Medaglia.
Desde a década de 1980, Neyde era radicada em Curitiba, onde se tornou preparadora vocal da Camerata Antiqua e da ópera do Teatro Guaíra e lecionou na Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap). Era considerada uma das principais formadoras de cantores líricos com atuação internacional. "Ela era muito especial, e vai deixar muita saudade. Ela praticamente dedicou a vida toda a nós nos últimos anos, quando parou de cantar", diz a cantora Ana Paula Brunkow, que teve aulas com Neyde por quase 20 anos.
A diretora da Embap, Anna Maria Lacombe Feijó, disse que a escola onde a cantora lecionou por 10 anos, está em luto. "Foi uma grande perda para o estado, vai deixar uma lacuna porque a Neyde, além de ter um talento estupendo, tinha um conhecimento ímpar sobre canto lírico."
O maestro Alessandro Sangiorgi, regente titular da Orquestra Sinfônica do Paraná de 2002 a 2010, também destaca a atuação de Neyde como formadora. "Acho que ela, a partir de agora, entra para fazer parte da história da lírica mundial, como mais uma estrela que será lembrada", diz Sangiorgi. "Mas ela nunca parou de trabalhar em favor dos alunos, em nenhum momento deixou de fazer isso. Tanto que o luto deles é como se tivessem perdido uma mãe. Ela era uma mãe musical", diz.
Professora
Para a cantora lírica e ex-aluna Kalinka Damiani, a relação de Neyde com os alunos era, de fato, matriarcal. "Ela sempre adotava os alunos dela", diz. "Era um relacionamento muito mais íntimo do que simplesmente ir e fazer uma aula. Mas ela não ficava só passando a mão na cabeça. Ela empurrava as pessoas a irem para frente, mesmo que fosse para quebrar a cara. Dizia para ter coragem e, principalmente, disciplina, foco, uma meta, um objetivo."
Para a soprano coloratura Tatiana Vanderlei, que vive há oito anos na Itália, outro traço marcante da postura de Neyde nas aulas era o alto nível de exigência. "Ela exigia o máximo da gente porque sabia que a gente poderia dar o máximo. A Neyde preparava os alunos, não para o Brasil , mas para a Europa", diz a cantora. "Aqui não é fácil. Se ela não tivesse nos preparado assim, não teríamos sobrevivido aqui. Ela sabia que a gente podia chegar muito longe", diz.
Homenagem
O enterro de Neyde Thomas ocorre hoje, às 13 horas, no Cemitério Jardim da Saudade 2, em Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba. Às 11h30 uma missa em homenagem à cantora, com a presença de ex-alunos, será realizada na Igreja Batista do Bacacheri e transmitida por meio do site da igreja: www.ibb.org.br . Atendendo a pedidos de familiares e realizando um antigo desejo de Neyde, a Camerata Antiqua vai apresentar "Lacrimosa", do Réquiem, de Mozart. "O coro da Camerata está muito triste", diz Darci Almeida, cantora e assistente da direção artística da Camerata Antiqua de Curitiba. "Com certeza temos boa memória e vamos sempre relembrar todo o ensinamento que ela nos passou."


