
Um ano depois de um despretensioso EP caseiro que ganhou uma repercussão inesperada, o capixaba Silva já conta com uma estrutura bastante diferente por trás de seu primeiro álbum Claridão, lançado em outubro, dessa vez com o selo Slap, da Som Livre.
Além das cinco músicas da estreia, outras sete faixas apresentam um pouco mais do caminho solitário que a jovem revelação de Vitória começou a trilhar na música nacional um som informado pelo pop mundial e ligado à tradição da canção brasileira.
Lúcio Silva, aos 24 anos, conta que processou influências bastante distintas para chegar a um som em que "acreditava", sem ter uma ideia clara do resultado que teria.
"Apesar de eu ter estudado violino e ter formação erudita, sempre gostei muito da música pop", conta, por telefone, o capixaba, que é filho de uma professora de música e sobrinho de um pianista.
"Nunca fui o cara que só ouvia Stravinski e Schoenberg. Sempre fui interessado no que está rolando agora, em me situar no contexto", diz.
Enquanto a formação clássica forneceu ferramentas para Silva compor e executar os instrumentos (em Claridão, o músico se divide em voz, piano, sintetizadores, programação, violão, guitarra, violino, violoncelo e percussão), a forte influência que recebeu da música eletrônica quando morou na Europa trouxe os elementos diluídos de gêneros como o dubstep, techno, ambient, synthpop e chillwave, dentre outros.
O complemento acústico vem na mesma medida do cancioneiro que formou Silva, criado na companhia das músicas de Ernesto Nazareth, Tom Jobim, João Gilberto e Chico Buarque.
"Eu gosto muito da estrutura da canção. Não sou um cara que arrisca demais nessa forma de compor", afirma.
A construção, no entanto, é frequentemente pouco usual, o que molda e diferencia suas músicas.
A faixa-título, "Claridão", foi uma das músicas em que ele compôs melodia e letra (em parceria com seu irmão, Lucas Silva) depois de criar batidas, linhas de sintetizador, riffs e samples.
"Vou buscando os sons, até achar o clima da música", explica Silva, que com frequência cria atmosferas contrastantes com a melancolia das composições.
É o caso de "2012", que traz um clima solar (e harmonia de Schumann), enquanto a letra sugere beleza no apocalipse. "O fim do mundo eu vi dessa sacada / Mas hora alguma eu quis pular / Quem se apressou perdeu toda essa luz / Crepuscular".
"A Visita", por outro lado, nasceu de um processo mais tradicional, e traz a sonoridade mais acústica do disco, com a linha de violino tocada sobre uma base de ukelelê. Foi influenciada pelo ambiente irlandês, onde as composições de Silva começaram a nascer, em 2009.
O verniz final do disco ficou por conta do londrino Matt Colton, que já trabalhou com o cultuado James Blake.
O cantor e pianista inglês é um dos nomes ao qual Silva já foi relacionado. O capixaba não vê ligação. "Talvez seja a falta de um elemento comparativo", explica Silva, novamente às voltas com a solidão artística que sua própria cidade lhe impõe. "Vitória fica um pouco isolada do eixo cultural", conta o músico, que menciona o produtor André Paste como o única conviva. "É a coisa que se aproxima mais de uma cena", brinca.




