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Sonhos de um Sedutor: Allen recebe dicas de Humphrey Bogart |
Sonhos de um Sedutor: Allen recebe dicas de Humphrey Bogart| Foto:

Filmografia

Confira alguns títulos da filmografia de Woody Allen, todos disponíveis em DVD no Brasil.

Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977)

Com um título em português que não quer dizer nada, afinal os personagens não chegam a noivar no filme, é o maior sucesso da carreira de Allen, vencedor de quatro Oscars: filme, diretor, roteiro e atriz, para Diane Keaton. O cineasta não foi à cerimônia.

Interiores (Interiors, 1978)

A tentativa de se aproximar de Ingmar Bergman, um de seus cineastas favoritos, ao lado de Federico Fellini, o levou a fazer um drama familiar. O filme envelheceu bem e conquistou respeito na sua filmografia.

Manhattan (1979)

Um dos clássicos do diretor, é fotografado em preto-e-branco e dá seqüência à relação dele com uma de suas atrizes-fetiche, Diane Keaton (hoje, esse papel é de Scarlett Johansson, com quem já fez três filmes).

A Rosa Púrpura do Cairo (The Purple Rose of Cairo, 1985)

História retrata um dos temas favoritos de Allen, o embate entre ficção e realidade.

  • Manhattan: retrato em preto-e-branco de Nova Iorque
  • No set: personagem de si mesmo
  • Entenda mais sobre o gênero humorístico de tradição norte-americana stand-up comedy

Woody Allen deixou de fazer shows de humor no início dos anos 1970, migrou para o cinema e nunca mais voltou, mas ainda hoje é considerado um mestre do gênero por ter ajudado a popularizá-lo, ao lado de nomes importantes da época – como Lenny Bruce e Bill Cosby.

Magro, baixo e de óculos, Allen fazia humor contando suas desventuras amorosas ou tratando de situações absurdas em que se metia. Seu truque era tirar sarro de si mesmo, se ridicularizar sem piedade.

Assim como Allen, muitos nomes importantes do mundo do espetáculo surgiram nos palcos de stand-up comedy (confira quadro nesta página).

O cineasta de 72 anos estreou ontem um filme no circuito brasileiro, Vicky Cristina Barcelona, e é tema de um livro de entrevistas recém-lançado pela Cosac Naify, Conversas com Woody Allen.

O filme é talvez a melhor comédia que o diretor fez em uma década.

O livro, um trabalho do jornalista Eric Lax que cobre mais de 30 anos da carreira de Allen, compila conversas sobre quase todos os filmes realizados pelo nova-iorquino, de Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo Mas Tinha Medo de Perguntar (1972) até Scoop (2006).

O volume é dividido em temas e cada um é tratado a partir da experiência de Allen na produção de seus filmes. Ele fala sobre escrever, dirigir, montar, escolher trilhas sonoras, atores, locações e sua carreira em relação a Manhattan, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, A Era do Rádio, A Rosa Púrpura do Cairo e dezenas de outros títulos (sua filmografia como diretor já conta com 43 – o 44º, Whatever Works, está sendo finalizado).

Lax é biógrafo de Allen e frisa que, nas Conversas..., evitou falar de questões pessoais, tratadas na biografia que leva o nome do comediante, publicada no Brasil pela Companhia das Letras. Hoje, a edição está esgotada.

O autor o descreve como um homem disciplinado, "a antítese de seu personagem na tela, que é sempre frenético e está sempre em crise". Fora das telas, "ele controla seu trabalho e seu tempo".

Numa edição linda, com capa dura ilustrada pela foto clássica de Philippe Halsman, o livro mostra que Lax tinha uma relação com Allen que nenhum outro jornalista jamais teve. Ele pôde fazer perguntas que, numa situação corriqueira – uma entrevista durante a promoção de um filme –, não seria respondida a gosto. Allen diz que detesta dar entrevistas ou fazer qualquer coisa para promover seus filmes, algo que só tolera em respeito aos produtores.

A Lax é permitido perguntar, por exemplo: "Desconstruindo Harry. Como você inventou aquilo?". Uma questão aberta que, dependendo do humor do entrevistado, poderia dar em nada. Mas Allen leva uma página inteira explicando que queria uma história que pudesse amarrar vários esquetes, como o do sujeito fora de foco (interpretado por Robin Williams).

Na apresentação, Lax conta que sua primeira entrevista com Allen foi um desastre. O jornalista era inexperiente, estava nervoso e levou as perguntas num pedaço de papel. Apesar de já ser famoso pelas peças teatrais que fez e por escrever e dirigir Um Assaltante Bem Trapalhão, de 1969 (além de colaborar com a revista The New Yorker), Allen era tímido e respondeu tudo de maneira lacônica. Lax foi embora e arquivou a pauta. Tempo depois, na Califórnia, teve chance de reencontrar o diretor nova-iorquino durante as filmagens de Sonhos de um Sedutor (1972), baseado na peça teatral escrita por ele.

Entrou em contato com os agentes Charles Joffe e Jack Rollins (os mesmos até hoje) e marcou um novo encontro. Depois de baterem um papo, levou meses para escrever o texto e, quando finalmente terminou, seu editor não tomou conhecimento porque a revista Time já havia dado uma matéria de capa sobre o artista.

Lax pegou o texto e o enviou para Allen, que gostou do resultado graças à fidelidade do repórter ao reproduzir suas falas. Desse trabalho em diante, eles passaram a conversar com freqüência e o resultado é uma relação profissional de mais de três décadas.

Serviço

Conversas com Woody Allen: Seus Filmes, o Cinema e a Filmagem, de Eric Lax. Cosac Naify, 512 págs., R$ 65.

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"Não existe nenhuma moldagem consciente do meu personagem. Eu nunca penso: Bom, ele não faria isto. Em boates e filmes, faço o que acho engraçado, e é cem por cento instintivo. Eu simplesmente sei que não daria um tiro num sujeito e colocaria dentro de um freezer. Eu só faço o que faço, e ao que parece o personagem vem à tona. O que fica além disso não significa nada para mim. Só quero ser engraçado. E se além de ser engraçado der para externar uma opinião, ótimo. Não faço nenhum juízo interior do personagem que vai saindo. Só posso descrever esse personagem em termos do que conheço: contemporâneo, neurótico, mais orientado para a vida intelectual, perdedor, homenzinho, não lida bem com máquinas."

Trecho de Conversas com Woody Allen, de Eric Lax, traduzido por José Rubens Siqueira.

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