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Debate

A Pedreira é apenas um enorme buraco no chão

Símbolo da criatividade da cidade e motivo de orgulho para os curitibanos, espaço que antes sediava eventos de grande relevância há anos sofre com a ausência de uma política cultural eficaz

 | Hugo Harada / Gazeta do Povo
(Foto: Hugo Harada / Gazeta do Povo)
1993 - O primeiro grande show em comemoração aos 300 anos de Curitiba aconteceu no dia 4 de abril, quando o tenor catalão José Carreras se apresentou na Pedreira Paulo Leminski com a Orquestra Sinfônica Brasileira. |

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1993 - O primeiro grande show em comemoração aos 300 anos de Curitiba aconteceu no dia 4 de abril, quando o tenor catalão José Carreras se apresentou na Pedreira Paulo Leminski com a Orquestra Sinfônica Brasileira.

1993 - Em agosto do mesmo ano, 35 mil pessoas lotaram a Pedreira no Festival 30 em 300, que reuniu três bandas ícones do rock nacional: Titãs, Barão Vermelho e Os Paralamas do Sucesso |

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1993 - Em agosto do mesmo ano, 35 mil pessoas lotaram a Pedreira no Festival 30 em 300, que reuniu três bandas ícones do rock nacional: Titãs, Barão Vermelho e Os Paralamas do Sucesso

1993 - O ano em que a capital paranaense completou 300 anos foi o mais fértil em grandes shows na cidade. No dia 5 de dezembro, o ex-Beatle Paul McCartney esteve pela primeira – e única – vez em Curitiba, e fez um show histórico na Pedreira |

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1993 - O ano em que a capital paranaense completou 300 anos foi o mais fértil em grandes shows na cidade. No dia 5 de dezembro, o ex-Beatle Paul McCartney esteve pela primeira – e única – vez em Curitiba, e fez um show histórico na Pedreira

1994 - Uma noite inesquecível para qualquer roqueiro marcou aquele mês de novembro: Ramones, Sepultura, Raimundos e Viper, 30 mil fãs alucinados e uma tempestade com direito a trovões e raios atrás do palco |

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1994 - Uma noite inesquecível para qualquer roqueiro marcou aquele mês de novembro: Ramones, Sepultura, Raimundos e Viper, 30 mil fãs alucinados e uma tempestade com direito a trovões e raios atrás do palco

1996 - Em outubro de 1996, a Pedreira Paulo Leminski foi palco da superprodução do AC/DC. Trinta mil pessoas foram ver de perto Angus Young, Brian Johnson e os canhões fumegantes da banda australiana |

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1996 - Em outubro de 1996, a Pedreira Paulo Leminski foi palco da superprodução do AC/DC. Trinta mil pessoas foram ver de perto Angus Young, Brian Johnson e os canhões fumegantes da banda australiana

1997 - O festival Close Up Planet, em outubro daquele ano, trouxe outra lenda do rock a Curitiba: o camaleão David Bowie, que se apresentou depois de Rita Lee, Erasure e No Doubt |

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1997 - O festival Close Up Planet, em outubro daquele ano, trouxe outra lenda do rock a Curitiba: o camaleão David Bowie, que se apresentou depois de Rita Lee, Erasure e No Doubt

2004 - O dia 8 de maio de 2004 também foi histórico: a Pedreira recebeu a única data latino-americana da turnê de reunião da cultuada banda norte-americana The Pixies, no Curitiba Pop Festival |

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2004 - O dia 8 de maio de 2004 também foi histórico: a Pedreira recebeu a única data latino-americana da turnê de reunião da cultuada banda norte-americana The Pixies, no Curitiba Pop Festival

2007 - O último grande festival a passar pela Pedreira Paulo Leminski foi o Tim Festival, com artistas de primeira linha: Hot Chip, Arctic Monkeys, The Killers e Björk |

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2007 - O último grande festival a passar pela Pedreira Paulo Leminski foi o Tim Festival, com artistas de primeira linha: Hot Chip, Arctic Monkeys, The Killers e Björk

2008 - No dia 4 de março de 2008, o Iron Maiden finalmente se apresentou em Curitiba com Bruce Dickinson nos vocais. O show teve cenas incluídas em um documentário da banda |

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2008 - No dia 4 de março de 2008, o Iron Maiden finalmente se apresentou em Curitiba com Bruce Dickinson nos vocais. O show teve cenas incluídas em um documentário da banda

Desde que surgiram, a Pedreira Paulo Leminski e a Ópera de Arame serviram para ajudar a autoestima do curitibano. Transformaram-se em símbolo de criatividade da cidade que sabia se antecipar aos eventos e transformar o adverso em oportuno. O então prefeito Jaime Lerner – critique-se tudo, menos a sua criatividade – olhou para aquele enorme buraco no chão e viu nele uma casa de ópera, um local de eventos que Curitiba ainda não tinha e que viria a se tornar um exemplo para o Brasil.

Por 18 anos seguidos, por ali passaram tenores, roqueiros, pagodeiros, religiosos, encenadores, artistas de circo, muitos músicos bons e muitos músicos ruins. Fosse quem estivesse sobre o palco, o orgulho curitibano era um frequentador assíduo.

No entanto, nos 18 anos seguidos, a cidade mudou muito e o espaço teve pouca transformação. Os vizinhos se multiplicaram e os produtores e organizadores de eventos ficaram mais gananciosos. A prefeitura não mais se antecipou aos eventos e houve uma lenta degradação tanto física quanto espiritual – a política cultural esmoreceu, a fiscalização foi fraca, não houve comprometimento com regras de bom convívio, deixando tudo nas mãos dos produtores do momento.

A prefeitura passou a ser uma proprietária desleixada que alugava seus pontos com a preocupação principal de cobrar o aluguel. Ou seja, deixou de ser responsável, deixou de cuidar do local com o carinho que necessitaria esse espaço importante para uma política cultural – caso ela existisse.

Descaso

Houve tentativas de revitalização na gestão de Paulino Viapiana à frente da Fundação Cultural de Curitiba, com reformas na Ópera de Arame. Mas, no geral, o descaso dos prefeitos para com a cultura se refletia na pouca verba, que, por sua vez, se refletia no abandono e na ausência de projetos que englobassem a Pedreira e a Ópera como fundamentais para a cidade.

Então, em uma ação do Ministério Público, que alegou desrespeito ao direito ao descanso e ao sossego dos vizinhos, a Pedreira Paulo Leminski foi fechada, em 2008. Faltou uma negociação mais responsável e adulta, que certamente haveria se o local de eventos estivesse inserido em uma efetiva política cultural municipal. Aos poucos, o que era motivo de orgulho foi voltando quase ao que era antes, ou seja, um grande buraco no chão.

Depois de uma longa luta da sociedade civil, fez-se um acordo na Justiça que permite a reabertura, desde que se cumpram as exigências de adaptações e reformas. Quando se esperava que o prefeito de plantão poderia novamente olhar para a Pedreira e ter uma ideia criativa, o único pensamento que parece ter lhe ocorrido foi se livrar daquele "pepino", aquele buraco no chão.

É triste constatar que Curitiba não é mais criativa, que não sabe como cuidar e o que fazer com um espaço cultural da dimensão da Pedreira Paulo Leminski e da Ópera de Arame. Os nossos governantes olham para esses símbolos da cidade e veem apenas um imóvel parado, que pode render algum dinheiro.

Concessão

O edital de concessão fala apenas em reformas e dinheiro. O prefeito Luciano Ducci não se pronuncia. A presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Roberta Storelli, quando fala sobre o assunto, fala apenas em reformas e dinheiro, em quanto será economizado com a manutenção desses espaços e quanto poderá ser ganho futuramente com a concessão. Nada foi falado sobre política cultural, sobre a importância dos espaços para a cidade. E 25 anos de concessão, cá para nós, é tempo demais sem garantias – e é claro que não falo de garantias monetárias.

A parceria com a iniciativa privada é mais do que aconselhável, é necessária e inevitável. Mas ela deve obedecer a algum tipo de orientação cultural, ter algum objetivo que seja mais do que apenas ganhar um dinheiro alugando um imóvel que estava parado.

Cadê a criatividade que orgulhava os curitibanos e que deveria ser uma das condições essenciais para os dirigentes de uma cidade como a nossa? Fomos derrotados pela burrocracia? Voltamos a ser apenas um enorme buraco no chão?

Melhores momentos da Pedreira Paulo Leminski

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