
Desde que surgiram, a Pedreira Paulo Leminski e a Ópera de Arame serviram para ajudar a autoestima do curitibano. Transformaram-se em símbolo de criatividade da cidade que sabia se antecipar aos eventos e transformar o adverso em oportuno. O então prefeito Jaime Lerner critique-se tudo, menos a sua criatividade olhou para aquele enorme buraco no chão e viu nele uma casa de ópera, um local de eventos que Curitiba ainda não tinha e que viria a se tornar um exemplo para o Brasil.
Por 18 anos seguidos, por ali passaram tenores, roqueiros, pagodeiros, religiosos, encenadores, artistas de circo, muitos músicos bons e muitos músicos ruins. Fosse quem estivesse sobre o palco, o orgulho curitibano era um frequentador assíduo.
No entanto, nos 18 anos seguidos, a cidade mudou muito e o espaço teve pouca transformação. Os vizinhos se multiplicaram e os produtores e organizadores de eventos ficaram mais gananciosos. A prefeitura não mais se antecipou aos eventos e houve uma lenta degradação tanto física quanto espiritual a política cultural esmoreceu, a fiscalização foi fraca, não houve comprometimento com regras de bom convívio, deixando tudo nas mãos dos produtores do momento.
A prefeitura passou a ser uma proprietária desleixada que alugava seus pontos com a preocupação principal de cobrar o aluguel. Ou seja, deixou de ser responsável, deixou de cuidar do local com o carinho que necessitaria esse espaço importante para uma política cultural caso ela existisse.
Descaso
Houve tentativas de revitalização na gestão de Paulino Viapiana à frente da Fundação Cultural de Curitiba, com reformas na Ópera de Arame. Mas, no geral, o descaso dos prefeitos para com a cultura se refletia na pouca verba, que, por sua vez, se refletia no abandono e na ausência de projetos que englobassem a Pedreira e a Ópera como fundamentais para a cidade.
Então, em uma ação do Ministério Público, que alegou desrespeito ao direito ao descanso e ao sossego dos vizinhos, a Pedreira Paulo Leminski foi fechada, em 2008. Faltou uma negociação mais responsável e adulta, que certamente haveria se o local de eventos estivesse inserido em uma efetiva política cultural municipal. Aos poucos, o que era motivo de orgulho foi voltando quase ao que era antes, ou seja, um grande buraco no chão.
Depois de uma longa luta da sociedade civil, fez-se um acordo na Justiça que permite a reabertura, desde que se cumpram as exigências de adaptações e reformas. Quando se esperava que o prefeito de plantão poderia novamente olhar para a Pedreira e ter uma ideia criativa, o único pensamento que parece ter lhe ocorrido foi se livrar daquele "pepino", aquele buraco no chão.
É triste constatar que Curitiba não é mais criativa, que não sabe como cuidar e o que fazer com um espaço cultural da dimensão da Pedreira Paulo Leminski e da Ópera de Arame. Os nossos governantes olham para esses símbolos da cidade e veem apenas um imóvel parado, que pode render algum dinheiro.
Concessão
O edital de concessão fala apenas em reformas e dinheiro. O prefeito Luciano Ducci não se pronuncia. A presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Roberta Storelli, quando fala sobre o assunto, fala apenas em reformas e dinheiro, em quanto será economizado com a manutenção desses espaços e quanto poderá ser ganho futuramente com a concessão. Nada foi falado sobre política cultural, sobre a importância dos espaços para a cidade. E 25 anos de concessão, cá para nós, é tempo demais sem garantias e é claro que não falo de garantias monetárias.
A parceria com a iniciativa privada é mais do que aconselhável, é necessária e inevitável. Mas ela deve obedecer a algum tipo de orientação cultural, ter algum objetivo que seja mais do que apenas ganhar um dinheiro alugando um imóvel que estava parado.
Cadê a criatividade que orgulhava os curitibanos e que deveria ser uma das condições essenciais para os dirigentes de uma cidade como a nossa? Fomos derrotados pela burrocracia? Voltamos a ser apenas um enorme buraco no chão?
Melhores momentos da Pedreira Paulo Leminski








