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Música

A poesia e o canto de Fagner

Novo disco do cantor cearense, Pássaros Urbanos, o 37º de sua carreira, traz lirismo que conquistou o grande séquito de fãs

O músico Raimundo Fagner: 41 anos de trabalho ininterrupto | Henry Milléo/ Gazeta do Povo
O músico Raimundo Fagner: 41 anos de trabalho ininterrupto (Foto: Henry Milléo/ Gazeta do Povo)

A mesa da sala no apartamento de Fagner, no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, onde vive, dificilmente poderia ser usada para jantar na terça-feira passada. Nela, acumulavam-se provas de CDs, pacotes de cigarro, pastilhas para garganta, revistas, um exemplar de O Príncipe, de Maquiavel, numa bagunçada ordem própria de quem tem trabalhado muito nos últimos tempos. Por últimos tempos entenda-se os últimos 41 anos, desde que o cantor e compositor cearense, hoje com 64 anos, lançou o LP Manera Fru Fru Manera (1973), primeiro de uma série de 36 discos até 2009. Depois de um hiato de cinco anos, em que não parou de fazer shows Brasil afora, chega às lojas nesta semana o 37.º álbum de sua carreira, Pássaros Urbanos (Sony Music), com 11 canções de abusado lirismo embalado em tons contemporâneos. Enfim, tudo aquilo que o fez conquistar um abrangente e fiel séquito de fãs.

"Venho há muito tempo construindo esse repertório. Isso me facilitou atingir camadas diferentes em torno de um mesmo sentimento."

O sentimento de que fala Fagner percorre todo o CD, que vem sendo preparado há dois anos, com parceiros como Fausto Nilo e Zeca Baleiro. A produção é de Michael Sullivan, um hitmaker também torpedeado pela crítica pelo que seria o apelo fácil de suas músicas. Sullivan (com Paulo Massadas) é autor de um dos maiores sucessos do cantor, "Deslizes", do CD Romance no Deserto (1987), que vendeu mais de um milhão de cópias.

"Além de pegarem no meu pé, pegam demais no do Sullivan. Essa dobradinha vai ser um prato cheio para os críticos", brinca Fagner.

Foi o produtor quem lhe sugeriu gravar "Paralelas", de Belchior. "Canto essa mú­­sica a vida toda e sempre me esquecia de gravar. Coincidentemente, cantei num show e o Sullivan falou: ‘Rapaz, não vai gravar essa música não?’. É uma homenagem ao meu parceiro, que está em paradeiro desconhecido", diz ele, referindo-se ao autoisolamento imposto desde 2009 por Belchior, de quem nunca foi amigo próximo, apesar de terem feito parte do mesmo movimento de artistas cearenses que conheceram a fama no país nos anos 1970.

Origens

Os dois conviveram nos tempos de dureza, quando dividiam com mais quatro pessoas uma quitinete na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana. Fagner decidiu seguir a carreira de músico – a mesma do avô e do pai – apesar da contrariedade da família. Mais novo de cinco irmãos, cursou um ano de Arquitetura na Universidade de Brasília antes de se mudar para o Rio.

Disputava colchão e se alimentava ("de chocolate, banana...") nas prateleiras das antigas Casas da Banha, na Rua Figueiredo de Magalhães, até despontar pelas mãos de Elis Regina, que gravou "Mucuripe", e de Nara Leão, que o ajudou a produzir o primeiro show.

Naquela época já não se queixava,e hoje, a felicidade se desdobra em projetos. Enquanto dava esta entrevista, Zé Ramalho, morador do mesmo prédio, ligava para confirmar o ensaio para o show de gravação de um CD e DVD conjunto no fim do mês, no Teatro Net Rio.

Enquanto isso, o avô de Maria Clara, de cinco anos, e Arturzinho, de dois, (herdeiros de Beto, seu único filho), compõe com os parceiros, joga futebol com Zico, tênis com Guga e vôlei no Posto 11, no Leblon.

Ceará

Namora "pela estrada", que é onde mais tem estado, e fala com orgulho da Fundação Raimundo Fagner, que atende com educação suplementar 400 crianças por ano, em suas sedes na capital cearense e em Orós, onde foi emitida sua certidão de nascimento (ele é mesmo de Fortaleza).

A paixão pelo Ceará está presente no novo CD com a regravação de "No Ceará É Assim" (1942), de Carlos Barroso. Sua inclusão tem origem curiosa. Por causa da Copa, Fagner, fanático por futebol, tem dado muitas entrevistas, e mesmo jornalistas estrangeiros pedem a ele para cantarolar a música. O cantor lhe deu um formato "samba exaltação, uma espécie de clipe do Ceará." "Fala-se muito pouco do Ceará no Ceará, há poucas músicas que se referem ao estado. Ao contrário da Bahia, onde toda música fala da Bahia", compara ele.

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