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Patrimônio

A ressurreição da arte

Avaliados em R$ 10 milhões, quadros históricos que estavam indo para o lixo foram restaurados e retornam a Paranaguá

Tesouros Culturais da Câmara de Paranaguá: projeto apoiado pelo Terminal de Contêineres de Paranaguá recuperou 19 obras raras | Fotos: Priscila Forone/Gazeta do Povo
Tesouros Culturais da Câmara de Paranaguá: projeto apoiado pelo Terminal de Contêineres de Paranaguá recuperou 19 obras raras (Foto: Fotos: Priscila Forone/Gazeta do Povo)
Quadros foram restaurados durante nove meses por equipe de restauradores coordenada pela Arte & Res­tauro – Restauração & Arte |

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Quadros foram restaurados durante nove meses por equipe de restauradores coordenada pela Arte & Res­tauro – Restauração & Arte

Obras raríssimas foram literalmente ressuscitadas. Abando­na­dos num canto da antiga Câmara Municipal de Paranaguá até pouco tempo atrás, 19 quadros foram restaurados em Curitiba e retornaram ao município de origem na última sexta-feira (24), data de aniversário de 361 anos da cidade litorânea e portuária. "É uma satisfação incrível", diz Diogo Rodrigues Alves, presidente da Associação Parnanguara de Artes Visuais (Apav).

São 19 pinturas que retratam personagens importantes da história brasileira, como Dom Pedro II, Marechal Deodoro da Fonseca e Nilo Peçanha, e do Paraná, co­­mo o Conselheiro Sinimbu, ministro de Dom Pedro II que autorizou a construção da estrada de ferro entre Paranaguá e Curitiba, e Pedro Scherer, primeiro concessionário da rede ferroviária.

Avaliadas em R$ 10 milhões, as 19 obras são assinadas por grandes artistas. São 12 quadros de Alfredo Andersen, duas de Rafael Silva (artista nascido em Gua­ra­queçaba, que estudou pintura com Andersen durante dois anos) e uma tela de Victor Mei­relles, trabalho até então desconhecido pelo próprio museu que abriga o acervo do artista catarinense, em Florianópolis.

Os quadros que chegaram a Paranaguá ficarão expostos na nova sede do Poder Legislativo até o dia 24 de agosto. Em novembro, as obras seguem para Curi­tiba, onde ficam expostas até janeiro, no Museu Alfredo An­dersen.

Primeiros-socorros

Deixando de lado a felicidade em ver os quadros voltando para "casa", o presidente da Apav reconhece que o processo não foi fácil e muito menos rápido. Em 2005, ao tomar conhecimento do estado das pinturas – que estavam completamente tomadas por cupins –, Diogo Alves solicitou a remoção imediata das obras e fez uma espécie de primeiros-socorros. "Trabalhamos para evitar o agravamento da deterioração. Transferimos os quadros de lugar, levamos para um local adequado".

Com o objetivo de restaurar e conservar as 19 obras, a Apav criou o projeto Tesouros Cul­tu­rais da Câmara de Paranaguá, apro­­vado pelo Ministério da Cultura em setembro de 2006, possibilitando a captação de uma verba de R$ 467 mil, através da Lei Rouanet. De acordo com Rodrigues, em março de 2007, o Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP) aceitou a proposta de entrar como parceiro e, em outubro de 2008, as obras vieram para Curitiba, onde fo­­ram restauradas.

Restauração

Segundo a coordenadora de Acervo e Conservação do Museu Oscar Niemeyer, Suely Des­cher­mayer, a restauração é um processo técnico de intervenção na obra. Ela é solicitada quando o quadro está num avançado processo de degradação. "Cada caso é avaliado individualmente. As ações de restauro dependem da necessidade específica da obra. Existem casos que precisam de limpeza geral do suporte e da camada pictórica ou de reforço estrutural. Outras precisam de limpeza superficial da camada pictórica ou remoção do verniz oxidado", diz.

Para que uma obra não precise ser restaurada, esclarece Des­chermayer, ela deve ser frequentemente analisada pelo restaurador, como proposta preventiva para sua conservação. Esse processo refere-se à limpeza superficial, verificação de ataques de insetos, controle climático, ex­­po­­sição em local com ilu­minação adequada e cuidados no ma­­nuseio. "A conservação preventiva evita uma restauração futura".

No caso específico das obras parnanguaras, o problema mais sério encontrado foi a ação de insetos xilófagos (cupins e coleóbrocas). "Os quadros também apresentavam intervenções an­­teriores, feitas por profissionais não habilitados para a restauração, que deixaram marcas irreversíveis em alguns casos, devido à utilização de materiais cientificamente já superados. A presença de repintura, que significa colocar pintura sobre a original, danificou seriamente a apresentação estética e histórica das obras", relata.

Para resolver os problemas dos quadros de Paranaguá, os restauradores tiveram que remover as intervenções anteriores, limpar os quadros e intervir minimamente nas telas, agindo apenas na complementação das lacunas. "Todas as molduras fo­­ram completamente restauradas. Aplicamos folha de ouro e um acabamento estético apropriado", informa. Ao todo, o processo de restauração dos quadros durou nove meses e mobilizou 15 artistas.

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Serviço

Exposição Tesouros Culturais de Paranaguá. Espaço Arte Carijó – Câmara Municipal (R. João Estevão, 361 – Paranaguá), (41) 3420-9033. De segunda a sexta-feira, das 13 às 19 horas. Entrada franca. Em cartaz até o dia 24 de agosto.

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