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Amós Oz: autor viveu em uma comunidade durante trinta anos | Divulgação
Amós Oz: autor viveu em uma comunidade durante trinta anos| Foto: Divulgação

Contos

Entre Amigos

Amós Oz. Tradução de Paulo Geiger. Companhia das Letras, 135 págs., R$ 34.

No último dos oito contos de Entre Amigos, novo livro do escritor israelense Amós Oz, o protagonista é o professor Martin Vanderberg.

Sobrevivente do holocausto, ético e justo, o professor é a utopia materializada: acredita na abolição dos Estados nacionais e numa grande fraternidade mundial e pacifista, coroada pelo uso do esperanto como idioma comum.

De certa forma, o professor condensa um ideário de vida em harmonia e igualdade entre os homens que sabemos ser inalcançável, mas que insistimos em perseguir.

Oz sabe muito bem disso e também o quanto isso tem a ver com a ideia que informou a origem dos kibutz israelenses, onde todos os contos do livro são ambientados. Origem que remonta a 1909, quando um grupo de judeus romenos passou a cultivar terras num vilarejo árabe da Palestina, então sob governo britânico. O kibutz é uma espécie de jardim bíblico idealizado, de orientação socialista, onde a propriedade coletiva e a força de trabalho conferem a todos a sonhada igualdade dos homens perante Deus.

O escritor conhece bem esses assentamentos – viveu em um kibutz durante três décadas (de 1954 a 1986), iniciadas quando tinha 14 anos e sua mãe acabara de se suicidar. Em seu primeiro livro de contos, Onde os Chacais Uivam (fora de catálogo), publicado há 47 anos, Oz já falava das difíceis relações de quem vive numa comunidade agrária israelense. E sobre como, mesmo vivendo em comunidade, a única coisa que todos compartilham de fato é uma grande solidão.

Fragmentado

A partir desta experiência pessoal, a ficção de Oz aparece, por vezes, de forma poética nas descrições bucólicas e tristes do ambiente e sua rotina sem sobressaltos. O texto do israelense é árido, direto, com desprezo absoluto pelo desnecessário e ainda assim lírico e musical.

O autor é também irônico e astuto na construção dos personagens que permeiam as narrativas interligadas. Em cada um dos contos, o foco recai sobre o drama pessoal cada um. No texto seguinte, o protagonista vira personagem secundário, deixando claro que a cabeça e o projeto literário de Oz são de um romancista.

A fragmentação da narrativa, porém, permite colocar cada um dos personagens à boca de cena de seu pequeno universo. E o texto conciso não impede que alguns deles sejam bem interessantes. Como o jardineiro pessimista e misantropo da primeira história, que no intervalo de seu diligente trabalho paisagístico se ocupa de catalogar e espalhar pela aldeia notícias de tragédias e calamidades internacionais. Ou o maledicente fofoqueiro da aldeia, sempre atrás da moita para flagrar os deslizes dos "irmãos", e que dispara frases ferinas do melhor humor judaico.

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