
Nova York - Ritmo foi o que ditou a apresentação da Atoms for Peace, banda que Thom Yorke, do Radiohead, comandou durante o espetáculo no prestigioso Teatro Roseland, em Nova York, na segunda-feira passada.
Trata-se de um projeto paralelo sem grandes ambições ou objetivos específicos para Yorke, mas que teve um efeito imediato no músico: o fez dançar durante quase toda a apresentação. Ele se contorceu, rodopiou, pulou e gesticulou muito. Deixou a música o levar, não foi cerebral, mesmo em canções tocadas ao piano. Enquanto a música do Radiohead simboliza o triunfo do pensamento, Yorke sozinho é muito mais físico.
Obviamente, havia muita experiência por trás do ritmo. A banda tem Flea (Red Hot Chili Peppers) no baixo que, por sua vez, também dançou o tempo todo, ocupando um canto do palco sem tentar roubar a atenção e Nigel Godrich (produtor do Radiohead) nos teclados. Joey Waronker (da banda de Beck) é o homem na bateria, enquanto o brasileiro Mauro Refosco (que toca com David Byrne) assume a percussão.
O grupo transformou os riffs idiossincrásicos e esquisitos de Yorke em um funk legítimo.
Boa parte do show foi centrado no album que Yorke lançou em 2006, The Eraser (que também foi produzido por Godrich e do qual faz parte a música "Atoms for Peace").
Em estúdio, as canções soam esparsas, fazendo uso de defeitos eletrônicos secos que embalam os comentários de Yorke sobre alienação e futilidade.
Pensamentos como os contidos na faixa "Analyse", em que canta: "Theres no spark, no light in the dark/It gets you down." ("Não há faísca, nem luz na escuridão/ Isso te entristece.")
O álbum é uma feito de isolamento e solidão. E a banda de Yorke vira tudo do avesso de forma deliberada, substituindo sons sintéticos por manuais, reconstruindo quase todos os arranjos. Por vezes, os originais são igualmente despojados: "Skip Divided" usa somente uma batida ao fundo e uma melodia vagamente árabe para acompanhar as letras de Yorke. Mas a banda faz questão de trocar a claustrofobia por carnaval.
A percussão de Refosco redefiniu as canções de suas batidas originais, como quando ele fez uso do som agudo de um berimbau para começar "The Clock". A voz de Yorke, um alto tenor perturbado que sobe até um falsete, parecia perseguir a melodia com medo, mas seu corpo e as batidas diziam o contrário.
Inéditas
Yorke também trouxe composições novas. Tocou baladas sozinho ao violão (a vulnerável "A Walk Down the Staircase") e ao piano (a amarga "Daily Mail"), e também com a banda, exemplo foi a triste "Judge, Jury and Executioner". E ainda houve, como ele mesmo descreveu, as "ensandecidas" faixas de seu single de 2009, "The Hollow Earth" e "Feeling Pulled Apart by Horses."
Quando as letras abriam espaço para um funk africano, ele dançava de novo e a música levava qualquer tipo de ansiedade para longe.
Abrindo a noite, o DJ e produtor Flying Lotus trouxe referências sombrias da dance music: bases lentas, pegajosas e distorcidas embaixo de inquietantes diálogos e vocais duplicados comprimidos por linhas de baixo exageradas e, por fim, um sample da música "Idiotheque", do próprio Radiohead, lembrete de que a outra banda de Yorke também adora ritmo.



