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Ao som do bolero “Besame Mucho”, Gabo pede Mercedes em casamento | Reprodução
Ao som do bolero “Besame Mucho”, Gabo pede Mercedes em casamento| Foto: Reprodução

Lançamento

Gabo – Memórias de Uma Vida Mágica

Oscar Pantoja e outros. Veneta, 184 págs., R$ 42. Quadrinhos.

  • Depois da epifania: o escritor tecla a primeira letra de Cem Anos de Solidão

México, 1965. Depois de algum tempo de privações e dificuldades financeiras, a vida da família do escritor Gabriel García Márquez (1927-2014) parece estar entrando nos eixos. O trabalho como roteirista na indústria do cinema mexicano permitiu que Gabo comprasse uma casa, onde a mulher Mercedes e os filhos Gonzalo e Rodrigo pudessem viver com algum conforto; e até o seu primeiro carro, um Opel Sedan 1962.

O escritor, porém, sentia-se angustiado. Atormentava-o o espectro de uma história que não lhe saía do pensamento, mas que não conseguia começar a escrever. Para esfriar a cabeça, decide levar a família para breves dias na praia de Acapulco. Seria a viagem mais importante de sua vida.

No caminho, de repente, Gabo teve uma epifania. O começo e o desfecho da história lhe percorreram em um segundo. Viu seu avô na velha casa da família em Aracataca, na Colômbia. Viu também as borboletas, uma menina subindo aos céus. Sentiu o gelo a lhe queimar a pele.

É assim que a poética biografia em quadrinhos Gabo – Memórias de uma Vida Mágica descreve a centelha criativa do livro Cem Anos de Solidão, que vendeu mais de 30 milhões de unidades, levou o realismo fantástico às últimas consequências e rendeu a García Márquez fama, dinheiro e prêmios sem fim.

Escrita a dez mãos, por uma equipe composta pelo escritor e roteirista Óscar Pantoja e pelos artistas gráficos Miguel Bustos, Felipe Camargo Rojas Tatiana Córdoba e Julián Naranjo, a graphic novel conta, com beleza e competência, as extraordinárias muitas vidas de Gabo.

A narrativa foi construída a partir de textos de autores que conviveram com o escritor, como Mario Vargas Llosa e sobretudo com a ajuda da história descrita por ele mesmo no livro de memórias Viver para Contar (Record, 2002).

Estão descritas a infância mágica em Aracataca, sempre cercado de mulheres. A solidão dos primeiros tempos de estudante em uma Bogotá tumultuada por uma violenta crise política. O romance com Mercedes, sua companheira de toda a vida. Os primeiros arroubos literários. A militância de esquerda e o envolvimento com a revolução cubana.

O livro, aliás, mostra como Gabo era mesmo o escritor talhado para colocar a América latina no mapa da literatura mundial, pois o escritor a conheceu profundamente, tendo morado e viajado pela maioria dos países da região.

Num texto explicativo ao final do livro, o roteirista Pantoja analisa a relação entre esta geografia e a mágica da literatura de Gabo. "Na América Latina, a realidade transborda a ficção. A vida diária é uma avalanche de histórias incríveis que só pela força da razão são aceitas pelas pessoas. Um catálogo de fatos assombrosos, impossíveis de acreditar, mas reais. É esse o cenário em que García Márquez criou sua obra". GGGG

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