Andre 3000 e Big Boi, da dupla de hip-hop Outkast, são como Sean McNamara e Christian Troy, os cirurgiões plásticos do seriado Nip/Tuck. Excêntricos, brilhantes e donos de personalidades completamente opostas. Mas, também a exemplo dos médicos da tevê, parecem incapazes de viver separados, pois complementam-se. Andre, romântico e extravagante, é o homem das melodias. Big Boi, direto e agressivo, representa a voz das ruas. Juntos há cerca de 12 anos, formam o time mais importante da música negra na atualidade.
De volta à cena com uma dobradinha de filme e CD, ambos batizados de Idlewild, os dois se recusam a deitar nos louros da vitória. Poderiam muito bem gravar um álbum inteiro com subprodutos de "Hey Ya", hit que varreu o mundo entre 2003 e 2004, incluído no já clássico álbum Speakerboxxx/The Love Below. Felizmente, preferiram mergulhar num trabalho mais pretensioso: uma espécie de revisão pessoal da música negra do século 20.
O filme, sem previsão de estréia no Brasil, traz uma trama ambientada na América dos anos 20, no auge da Lei Seca. Andre 3000 (que já havia atuado em produções como Quatro Irmãos e Be Cool O Outro Nome do Jogo) e Big Boi vivem músicos de boate envolvidos com a máfia local. A crítica americana não deu muita bola para a trama, mas ao menos elogiou os números musicais. No elenco, um grande desfile de personalidades black dos atores Terrence Howard e Ving Rhames às cantoras Macy Gray e Patti LaBelle.
Só que Idlewild, o CD, recém-lançado por aqui, não é exatamente a trilha do longa dirigido por Bryan Barber, o mesmo dos videoclipes do Outkast. Tudo bem. Esse tipo de esquisitice é típica de Andre e Big Boi, que no projeto anterior gravaram dois discos-solos e os juntaram em um álbum duplo, o já citado Speakerboxxx/The Love Below. Na época, houve quem achasse a idéia perigosa para a carreira dos rappers, que supostamente ensaiavam uma separação. Dez milhões de cópias vendidas e dois prêmios Grammy depois, ninguém mais desconfia da dupla tão unida como nunca, ainda que à sua maneira.
