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Rush: se hoje Smashing Pumpkins, Radiohead, Beck e Björk são considerados cool, devem muito a eles | Divulgação
Rush: se hoje Smashing Pumpkins, Radiohead, Beck e Björk são considerados cool, devem muito a eles| Foto: Divulgação

Uma banda pretensiosa, metida a "cabeça", com álbuns conceituais e chatíssimas músicas de 20 minutos, entoadas por um baixista/tecladista/vocalista narigudo, com voz de "Mickey Mouse aspirando hélio". Você pode até continuar pensando assim depois de assistir ao documentário Rush – Beyond the Lighted Stage, recém-lançado pela Universal, mas ao menos vai começar a respeitá-los. Mais: arrisca até rolar uma insuspeita empatia pelos esquisitões Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart, a formação clássica do trio surgido em Toronto, a maior cidade do Canadá, em 1968 – e que estará no Brasil nos dias 8 (São Paulo) e 10 (Rio de Janeiro) de outubro.

A receita do vídeo é simples: partindo de entrevistas com os três integrantes, seus familiares e admiradores – enriquecidas por vasto material de arquivo e visitas aos cenários dos acontecimentos –, a trajetória da banda é revista em detalhes. Você começa a "ir com a cara" dos três músicos logo nos primeiros minutos. Por exemplo, quando Geddy Lee conta que a família fugiu para o Canadá depois de sobreviver à passagem por um campo de concentração na Polônia e como ele se sentia deslocado em relação aos colegas de escola, a maioria não judeus.

Ou com a prosaica iniciação musical de Alex Lifeson, que frequentava a mesma escola de Geddy Lee: "Ele chegou e perguntou: ‘se eu tirar boas notas, vocês me dão uma guitarra?’ Aí trouxe um boletim excelente e, mesmo sem ter dinheiro, compramos o instrumento", relata a mãe do guitarrista. Os dois se tornariam inseparáveis por partilharem o mesmo gosto musical, além do temperamento: "Éramos outsiders, estávamos muito longe de ser populares", lembra Geddy Lee.

Incorporado à banda apenas em 1974 – apesar de ser o mais velho dos três –, o impressionante baterista Neil Peart deve a carreira ao bullying: "Não era nada fácil gostar de rock, ter o cabelo um pouco abaixo das orelhas e usar calças boca-de-sino no Canadá daquela época. Na escola mexiam comigo e faziam gozações, então comecei a usar a bateria para alimentar a autoestima", revela. Bibliófilo, curioso e obsessivo (ao ponto de aprender a tricotar apenas para saber como funcionava), Neil Peart se tornaria também o letrista oficial do Rush.

Se a adolescência sofrida de Geddy, Alex e Neil não for suficiente para quebrar sua resistência, talvez você comece a admirá-los pela inquietação artística e a coragem de inovar. O Rush começou fazendo um rock pesado, cru e vigoroso, tanto que era frequentemente comparado ao Led Zeppelin. Exímios instrumentistas, os três integrantes resolveram então explorar novas possibilidades, peitaram a gravadora e partiram para o progressivo, criando álbuns conceituais, compassos bizarros e intrincadas suítes de quase meia hora de duração. Depois acharam que tinham ido longe demais e retomaram o rock. Nos anos 80 se renderam à new wave e à febre dos sintetizadores. E depois voltaram ao rock "bem tocado".

O mais engraçado é que, apesar de todas as mudanças de rumo e da eterna má vontade da crítica, a banda nunca deixou de tocar no rádio, fazer shows e vender milhares de discos. Nem a tragédia que acometeu o baterista (em 1997, Peart perdeu sua então única filha, de 19 anos, num acidente de carro; menos de um ano depois, sua mulher morreu de câncer) foi capaz de destruir o trio-de-ferro canadense: três anos mais tarde, após rodar 90 mil quilômetros sozinho numa moto e escrever um livro, ele estava pronto para retomar as baquetas.

Ainda não se convenceu de que vale a pena saber mais sobre o Rush? Então preste atenção nos depoimentos de gente como Mick Box (Uriah Heep), Gene Simmons (Kiss), Billy Corgan (Smashing Pumpkins), Kirk Hammett (Metallica), Vinnie Paul (Pantera), o ator Jack Black (Tenacious D.), Zakk Wilde (Black Label Society), Taylor Hawkins (Foo Fighters), Trent Reznor (Nine Inch Nails) e Matt Stone, criador do desenho animado South Park, entre outros. Todos esses caras "legais" rasgam elogios ao grupo e vários deles confessam ter sido influenciados pelos três rapazes de Ontário.

Por fim, leve em consideração que, se hoje bandas e artistas estranhos – como Smashing Pumpkins, Radiohead, Beck e Björk – são considerados cool, devem muito à trilha aberta pelo Rush na música pop. Não é a suprema redenção de todos os losers, virar um rockstar?

Serviço: DVD Rush – Beyond the Lighted Stage. Disco 1 (filme): 1h46min.; Disco 2 (bônus): 1h29min. R$ 49,90 em média.

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