• Carregando...

À luz do senso comum, Cuba é um país quase exclusivamente associado às contradições de seu regime político comunista, representado por mais de 40 anos pela mítica e hoje morimbunda figura de Fidel Castro. Na arte não é muito diferente. Para Rodolfo Athayde, coordenador da mostra Arte de Cuba, que será inaugurada hoje e abre para o público amanhã no Museu Oscar Niemeyer, alguns dos caminhos apontados pela produção contemporânea da ilha caribenha banalizavam a situação política e social local a ponto de transformá-la em clichê.

Nesse contexto, o trabalho de produção de fotografia, desenhos, vídeos e performances de Carlos Garaicoa sinaliza uma abordagem mais fresca ao se debruçar sobre os espaços urbanos e suas sociedades. "Assim como Garaicoa, hoje os artistas de Cuba estão superando as temáticas impostas pelo mercado, resultando em tendências de caráter mais universal, com os artistas desenvolvendo programas contemporâneos em sintonia com o mundo", afirma Athayde.

A mostra em questão, no entanto, não apresenta somente as tendências mais atuais, mas também resgata a arte cubana desde a década de 1920. No total, estarão expostas 117 obras assinadas por 61 artistas que, de acordo com os organizadores, formam "um panorama amplo da produção artística cubana do início do século 20 até hoje". O acervo, cedido pelo Museu Nacional de Bellas Artes de Cuba, está agrupado em três partes, permitindo uma leitura cronológica das obras.

A primeira busca reflexões sobre as raízes da cultura cubana, inclusive pelo seu componente africano, com obras de Carlos Enriquez, Eduardo Abela, entre outros. Em seguida, outro agrupamento procura identificar os compromissos sociais dos artistas, apresentando a militância de realizadores como Marcelo Pogolotti, que propunha uma leitura marxista da sociedade desde a década de 1920, além de outros autores diretamente marcados pela Revolução Cubana, que instaurou o comunismo em 1959.

Obras das décadas seguintes apontam visões contraditórias do regime e da condição social da ilha até o surgimento da produção progressivamente mais crítica nos anos 80. "É quando os artistas adotam diversas estratégias, do humor à ironia, e à crítica mais radical. Tudo é indagado, desde a memória pessoal até as estratégias de poder, em obras que se caracterizam por uma acentuada densidade conceitual", afirma a curadora da mostra, Ania Rodríguez.

O último recorte abrange a experimentação com linguagens e poéticas pessoais. É o caso dos artistas que extrapolaram o regionalismo por meio do abstracionismo nos anos 50 e da produção atual, representada justamente pelas pesquisas de Carlos Garaicoa e artistas em atividade como Tânia Bruguera, Los Carpinteros e Kcho.

"Do ponto de vista formal, é importante ressaltar que os cubanos tiveram uma liberdade muito grande, ao contrário de outros países como a China ou o Leste Europeu, que adotaram regimes políticos similares ao nosso. Todas as tendências vinculadas à arte concreta, ao minimalismo, entre outros movimentos, foram incorporadas e absorvidas pela produção cubana", afirma Rodolfo Athayde. O coordenador também destaca a louvável iniciativa do museu cubano, que cedeu uma amostra grande da produção local para permitir a rara oportunidade de leitura da arte cubana como um conjunto.

Serviço: Arte de Cuba. Museu Oscar Niemeyer – MON (R. Mal. Hermes, 999), (41) 3350-4400. De terça a sexta-feira, das 10 às 18 horas. Ingressos a R$ 4 (adultos), R$ 2 (estudantes) e livre (crianças até 12 anos, maiores de 60 e escolas públicas pré-agendadas). Até 14 de janeiro de 2007.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]