
Numa Nova York escura e gélida, um homem se atira no rio. Imagens de uma mulher se despedindo povoam sua memória enquanto ele afunda. Vontade de morrer, e imediatamente o arrependimento. Socorro, resgate, e finalmente ar para alimentar os pulmões. A poética sequência de suicídio de "Amantes", que estreia neste final de semana no Brasil, marca também a suposta despedida do ator Joaquin Phoenix dos cinemas.
Mas a poesia do diretor James Gray é recheada de sombras, de depressão, de sentimentos desencontrados.
Joaquin Phoenix vive Leonard, que, abandonado pela noiva, se instala na casa dos pais (Isabella Rossellini e Moni Moshonov) com todas as suas tralhas e perturbações. Leva uma vida basicamente doméstica, tentando transparecer equilíbrio e, ao mesmo tempo, encontrar razão para seguir existindo.
Eis que surge uma nova vizinha: Michelle (Gwyneth Paltrow). Tão linda quanto problemática, ela desperta o amor de Leonard. Ele passa a fazer absolutamente tudo por ela, que morre de amores por outro homem, e vê em Leonard apenas um amigo com quem pode contar sempre e para tudo. Nasce um amor não-correspondido e desenrola-se um relacionamento frustrado.
"Amantes" fez sua estreia no Festival de Cannes no ano passado e recebeu ótimas críticas da imprensa especializada especialmente no que se refere à interpretação de Joaquin Phoenix. Nada disso, no entanto, foi suficiente para fazer com que o ator repensasse a decisão de abandonar o cinema. As notícias de que ele não faria mais filmes surgiram em maio de 2008. Depois de interpretar Johnny Cash no filme "Johnny & June" (2005), de cantar e aprender a tocar guitarra, ele teria se apaixonado pela música e decidido abdicar da carreira bem-sucedido em Hollywood.
A confirmação saiu em outubro de 2008, quando ele disse num programa de TV que "Amantes" seria seu último filme e que passaria a se dedicar à carreira musical como cantor de rap. A declaração de Phoenix gerou boatos de todos os tipos, e comentou-se inclusive que tudo não passava de uma jogada de marketing. O ator não foi levado a sério nem mesmo quando reapareceu disposto a mostrar seu novo trabalho: barbudo e com os cabelos desgrenhados, arrancou risos da plateia do entrevistador David Letterman, atacou um espectador que vaiou sua apresentação em Miami, caiu do palco em Los Angeles e virou piada na cerimônia de premiação do Oscar.
Reações que nem de longe lembram a elogiada carreira de Phoenix no cinema. O ator começou a trabalhar cedo, inicialmente em comerciais e programas de TV. Na adolescência, sentindo-se frustrado pela falta de bons papeis para jovens atores, abandonou a carreira, retomada apenas alguns anos depois. Foi muito motivado pelo irmão mais velho, o também ator River Phoenix, que morreu de overdose em 1993, quando ambos estavam em uma casa noturna de Los Angeles. Inclusive foi Joaquin quem fez a ligação para a emergência pedindo socorro, gravação amplamente divulgada pela imprensa na época.
Com a morte de River, Joaquin embarcou num segundo hiato em sua carreira, e só muitos meses depois considerou voltar a atuar. Em seus mais de 25 anos de carreira, trabalhou com cineastas consagrados, como Ridley Scott, Joel Schumacher, Oliver Stone e Gus Van Sant além de já ter repetido diversas vezes a parceria com James Gray.



