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Biografia

Amor nos tempos do Império

Em Condessa de Barral – A Paixão do Imperador, a historiadora Mary Del Priori transforma em protagonista o grande amor da vida de Pedro II

Luísa, a condessa de Barral, quando jovem: livros sempre estiveram presentes na sua vida e ajudaram a moldar sua personalidade | Reprodução
Luísa, a condessa de Barral, quando jovem: livros sempre estiveram presentes na sua vida e ajudaram a moldar sua personalidade (Foto: Reprodução)
D. Pedro II; o jovem imperador do Brasil se encantou pela preceptora das filhas |

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D. Pedro II; o jovem imperador do Brasil se encantou pela preceptora das filhas

Mary Del Priori: qualidades raras |

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Mary Del Priori: qualidades raras

Em uma das centenas, senão milhares, de cartas trocadas entre d. Pedro II e a condessa de Barral, o imperador escreve à ex-preceptora de suas filhas a respeito de sua visita ao Paraná. "Sou o mesmo que lhe inspirou tanta afeição, e de nada me esqueço tudo revivendo em mim com o mesmo viço de uma afeição de trinta anos. Ah! Se lhe contasse tudo o que imaginei nas lindas noites dos campos do Paraná!A idade não tem podido contra um coração todo seu."

Como o tom afetuoso do monarca denuncia, sua relação com a mulher a quem confiou a missão de educar as princesas Isabel e Leopoldina foi muito além da mera cordialidade entre um empregador e sua funcionária. E também ultrapassou os limites da amizade. Foi uma bela e perene história de amor.

Em Condessa de Barral – A Paixão do Imperador, livro lançado pela editora Objetiva, a historiadora Mary Del Priori transforma em protagonista uma personagem que, embora sempre muito citada nas biografias de d. Pedro II, nunca havia sido dissecada com tanta atenção e detalhismo.

Heroína culta

Quando Luísa Margarida Portugal e Barros vem ao mundo, em 1816, na região do Recôncavo Bahiano, poucos são os indícios de que ela poderia se tornar uma das brasileiras mais fascinantes do século 19. Talvez o fato de seu pai, Domingos, além de senhor de engenho, também ser um homem letrado, sugerisse que a menina, natural de Santo Amaro da Purificação, poderia romper com uma linhagem de mulheres submissas, criadas para o casamento e o lar. Mas não eram favas contadas.

Premiada com o Jabuti na categoria de Ciências Humanas, por A História das Mulheres no Brasil, Mary Del Priori lança mão de seu amplo conhecimento sobre a trajetória da condição feminina no país para não apenas narrar a saga de sua heroína. O brilhantismo do livro está no esforço de contextualizar a incomum trajetória de Luísa numa ordem social dentro da qual muito poucas tiveram voz.

Criada em meio a livros e jornais desde a infância, Luísa se beneficiou de uma importante mudança nos rumos de sua família: seu pai, d. Domingos, que havia estudado na Europa, foi designado por d. Pedro I a assumir o posto de embaixador do Brasil, que acabara de ficar independente, em Paris. O ano era 1824 e a menina tinha apenas 8 anos.

A mudança da Bahia para a capital da França foi determinante na transformação de Luísa numa jovem culta, elegante e cosmopolita. Quando ela retorna ao Brasil, em 1837, aos 21 anos e já casada com o conde de Barral, parente de Napoleão Bonaparte, ela é uma mulher refinada e sensível ao mundo ao seu redor. Tanto que, desde sempre, fez oposição à manutenção da escravatura, que considerava um flagelo vergonhoso.

O texto primoroso de Mary Del Priori, que venceu o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte por O Príncipe Maldito, une duas qualidades que não costumam caminhar juntas: o rigor acadêmico, evidenciado pela ampla pesquisa histórica; e a fluência e a exuberância de sua prosa, que muitas vezes flerta com a boa narrativa literária.

O relato do caso de amor entre Luísa, a condessa de Barral, e d. Pedro II, quase dez anos mais novo do que ela, é arrebatador, cinematográfico. Marcado por flertes, encontros, despedidas, segredos e mistérios. Mas, sobretudo, discreção. O jovem imperador, quando passa a conviver com a preceptora das filhas, acompanhando suas aulas, descobre o fascínio da mulher pensante, cultivada e dona do próprio nariz. A paixão, se não é à primeira vista, os impregna até a alma. E se estende ao longo de 35 anos, até 1891, ano da morte de ambos.

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Condessa de Barral – A Paixão do Imperador, de Mary Del Priori. Objetiva, 264 pág., R$ 33,90.

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