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Livro

Angústias e sonhos destruídos pelo real

Em sua primeira ficção, João Varella costura trama sobre desilusões contemporâneas

O autor João Varella: uso de técnicas de roteiro | Rafael Roncato/Divulgação
O autor João Varella: uso de técnicas de roteiro (Foto: Rafael Roncato/Divulgação)
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Desde o início de sua carreira, o jornalista (atualmente é repórter da revista Isto É Dinheiro) e escritor João Varella arrumava jeitos de escrever ficção nas horas vagas. Em 2008, ele já tinha quase 60 páginas do livro A Agenda, lançado agora pela editora Novo Conceito, mas perdeu o trabalho: seu laptop foi roubado do apartamento onde morava em Curitiba, no bairro Cristo Rei. Depois do incidente, passou a registrar tudo no Google Drive (programa virtual que armazena arquivos), mas acredita que o "azar" acabou ajudando a dar o tom de sua narrativa, direta e experimental. É o primeiro trabalho de ficção do autor, que já havia lançado um trabalho jornalístico, Curitibocas, junto com a hoje mulher dele, Cecilia Arbolave.

Varella mudou-se de cidade (de Curitiba para São Paulo), de empregos, fundou uma editora, a Lote 42 (leia mais no quadro abaixo), e foi dando forma ao livro, que traz como protagonista a executiva Sandra, que comanda a área de marketing de uma grande empresa e é, igualmente, admirada e detestada. Ela também fica às voltas com sua vida amorosa, e cheia de outras frustrações. "A Sandra é uma mescla de pessoas e situações com as quais fui me deparando na vida. Como jornalista, não consigo me distanciar tanto do real", contou o autor em entrevista por telefone à Gazeta do Povo.

Compromissos

Uma das problemáticas da história – o momento em que a protagonista perde a sua agenda de compromissos – também se relaciona com certa neurose de Varella em relação ao seu vasto arquivo de contatos telefônicos –, matéria-prima essencial para qualquer bom jornalista. "Sempre tive essa paranoia, esse medo de que alguém fizesse algo com a minha agenda, escrevesse em cima. É algo que fica no inconsciente", afirma.

No romance ácido sobre a vida moderna, a linguagem direta, com altos e baixos bem marcados lembra um roteiro de cinema. Não é à toa: Varella utiliza técnicas cinematográficas para organizar o que escreve, estratégia que adotou após fazer um curso de roteiro em curta-metragem na PUCPR. "Faço um roteirinho da história e vou preenchendo a estrutura. Já sei para onde vai cada personagem, quais são as pistas. Com isso, consegui também driblar a falta de tempo para escrever", relata. O autor também crê que o narrador que construiu não "tutela o leitor." "Tem espaços em branco para tirar as próprias conclusões sobre a Sandra."

Publicação

O livro de João Varella sai por um novo selo da editora Novo Conceito, o Novas Páginas, que será voltado para a publicação de autores brasileiros ainda inéditos. "A história da A Agenda é bem diferente do que eles vinham editando. Foi uma coragem muito bacana, fiquei muito grato de eles fazerem essa aposta."

Lote 42 aposta no papel e no digital

Depois da dificuldade em conseguir uma editora para publicar o seu primeiro livro escrito em conjunto com Cecilia Arbolave – Curitibocas, que misturou ficção com entrevistas de personagens curitibanos conhecidos e desconhecidos, João Varella decretou que um dia ainda teria uma editora. No final do ano passado, ele realizou o desejo em parceria com Cecilia e com o jornalista e mestre em literatura judaica pela Universidade de São Paulo (USP), Thiago Blumenthal, que atuou em editoras como a Globo e a Publifolha.

Os dois se conheceram quando trabalharam juntos no portal R7, do Grupo Record. "O Thiago sempre comentava sobre coisas bacanas que editoras dos Estados Unidos faziam, com um bom trabalho em redes sociais. Numa conversa, pensamos como seria legal dar oportunidade para os caras que não estão nas panelas das grandes editoras", diz Varella. Até agora, a Lote 42 tem três livros em seu catálogo, e lançará o quarto no próximo dia 5, Seu Azul, de Gustavo Piqueira.

A ideia do selo é dar a mesma importância ao material físico e ao trabalho nas redes sociais. O cuidado com a parte gráfica é outra característica dos livros da Lote, que quer chegar num público que aprecia esse esmero.

Primogênito

Para iniciar o negócio, os sócios da editora pensaram, primeiramente, em quais autores gostariam de ter no seu catálogo. Escolheram Juliana Cunha, e lançaram, em março, Já Matei Por Menos, título homônimo ao nome do blog da jornalista. "Ela [Juliana] tem pontos de vista muito interessantes, começou fazendo fanzine em Salvador, tem um trabalho sensacional", elogia Varella.

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