Manoel de Barros se dizia “formado em desencontros”. Assim que, para selecionar poemas de uma nova antologia do poeta, a primeira desde sua morte, em novembro do ano passado, sua filha, Martha Barros, precisou se desencontrar com a poesia do pai.
Por dois meses debruçada sobre os “delírios verbais” de Manoel, a artista plástica desencontrou-se com o poema “Fontes”, cuja abertura diz: “Três personagens me ajudaram a compor estas memórias. Quero dar ciência delas. Uma, a criança; dois, os passarinhos; três, os andarilhos.”
“Seguimos esse conceito, que é pura poesia”, conta Martha à reportagem, por e-mail. “Sua poesia é feita de desencontros, sustos – é fragmentada, como é o homem de hoje. Ela nos arrebata, nos modifica, nos desencontra.”
Como delírio resultante, o selo Alfaguara publica Meu Quintal É Maior do que o Mundo, livro de 168 páginas que reúne, em ordem cronológica, poemas recolhidos de 18 obras do escritor, e que, de alguma forma, trazem os elementos que lhe serviam de inspiração.
Seleção
Esta é a primeira vez que Martha, acostumada a ilustrar os livros do pai – levou um Jabuti em 2008 por Poeminha em Língua de Brincar– fez uma seleção de seus poemas.
Meu Quintal É Maior do que o Mundo– título também tirado de um poema, “O Apanhador de Desperdícios”– traz ainda o fac-símile de uma carta de 1992 do filólogo Antonio Houaiss (1915-1999) para o poeta, além de um prefácio do crítico literário e escritor José Castello. Um detalhe de um quadro de Martha, “Vermelho Textura”, recortado por Regina Ferraz, ilustra a capa.
A antologia inicia uma série de publicações de Manoel de Barros planejada pela Alfaguara, que adquiriu os direitos da obra do poeta no ano passado, semanas antes de sua morte.
Outros 21 livros do autor serão publicados pelo selo, três deles no semestre que vem.
