
A 35.ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo inicia-se hoje à noite em clima de luto pela morte, ná última sexta-feira, de seu fundador, o jornalista e crítico Leon Cakoff. Essa ausência, embora muito sentida, será parcialmente compensada pela certeza de que o evento, que se estende até o dia 3 de novembro, será a concretização de escolhas e de muitos dos ideais de seu criador.
O olhar e o gosto de Cakoff se fazem presentes já na sessão de abertura, que ocorre hoje às 20h30 no Auditório Ibirapuera, com a exibição de uma cópia restaurada do clássico Viagem à Lua, curta-metragem de 1902 dirigido por George Méliès, agora com trilha sonora assinada pelo duo francês de música eletrônica Air, e de O Garoto de Bicicleta , dos irmãos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne, um dos favoritos do idealizador da Mostra de SP no último Festival de Cannes, do qual saiu com o Grande Prêmio do Júri.
A escolha do filme de Méliès é coerente com a paixão de Cakoff pelo cinema mudo e pela possibilidade de exibir às plateias de hoje, em tela grande, títulos essenciais à história do cinema. Tanto como crítico quanto como diretor e curador da Mostra, ele sempre fez questão que o evento incluísse grandes retrospectivas e clássicos de várias épocas e movimentos. Neste ano, serão exibidas cópias restauradas de alguns dos filmes mais importantes do polêmico cineasta turco de origem grega Elia Kazan, diretor de marcos hollywoodianos. Entre os títulos programados estão Uma Rua Chamada Pecado (1951), Sindicato de Ladrões (1954) e Vidas Amargas(1955).
Inéditos
Outra concretização de um desejo de Cakoff foi a opção da organização por só aceitar neste ano inscrições de filmes internacionais que ainda não tivessem sido exibidos no Brasil. Essa exigência pelo ineditismo resultou em uma "disputa" de títulos com o Festival do Rio, encerrado anteontem na capital fluminense (leia matéria abaixo). E também teve como consequência um relativo encolhimento do evento paulista que, de mais de 470 títulos exibidos em 2010, viu sua programação ser reduzida a cerca de 250.
Há anos, o inchaço da programação vinha incomodando Cakoff e sua mulher, Renata Almeida, também diretora da Mostra. E, no ano passado, quando o número de longas em exibição atingiu marca recorde, eles sentiram que precisavam repensar o evento. Segundo a organização do festival, houve reclamações em relação a esse excesso e, neste ano, haverá menos filmes, mas com mais sessões, dando a oportunidade a mais pessoas de vê-los.
Menos comercial
Outra diferença perceptível é a ausência na programação desta 35.ª edição de filmes de perfil mais comercial, com estreia iminente, como A Pele Que Habito, de Pedro Almodóvar, que entra em cartaz no dia 25 de novembro.
Em compensação, o público da Mostra poderá assistir, por exemplo, a Fausto, do russo Aleksander Sokurov, vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza 2011. Ou a Habemos Papam, do italiano Nanni Moretti (O Quarto do Filho) e a Caverna dos Sonhos Esquecidos. documentário em 3D do cineasta alemão Werner Herzog (de O Enigma de Kasper Hauser).




