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Homenagem

Após 35 anos, ainda um mito da ópera

Famosa por seu canto de rara beleza e pelo comprometimento dramático de suas atuações, cantora lírica Maria Callas permanece influente após sua morte

Homem segura pedra enquanto corre da polícia | REUTERS/Siphiwe Sibeko
Homem segura pedra enquanto corre da polícia (Foto: REUTERS/Siphiwe Sibeko)

Há exatos 35 anos, no dia 16 de setembro de 1977, uma sexta-feira, morria, em seu luxuoso apartamento na Avenida Georges Mandel, perto do Arco do Triunfo, em Paris, Maria Callas, um dos maiores mitos da cena operística do século 20. Callas continua fascinando, mesmo tendo se despedido da cena lírica há mais de 45 anos. Além de seu canto de rara beleza e emoção incomparável, sua história pessoal trágica e seu temperamento indomável contribuíram para o fascínio que seu nome ainda gera. Nascida em Nova York em 1923, filha de pais gregos, com pouca idade ela revelava seus dotes musicais. Seu nome completo era Maria Cecilia Sofia Anna Kalogeropoulou. Em 1937 partiu para a Grécia com sua mãe, com quem sempre teve uma relação extremamente difícil. Ironicamente, a mãe e sua irmã, que falaram sempre coisas horríveis da cantora, ficaram milionárias ao herdar a maior parte de sua herança.

Foi na Grécia que Callas começou a estudar música de forma séria. Cantou algumas vezes em seu país, mas sua glória internacional começou na Itália. Em 1948 despontava, em Florença, uma cantora excepcional, sobretudo como intérprete de papéis muito dramáticos, como a Norma, de Bellini.

Sua base musical extremamente sólida permitiu que ela aprendesse diversos papéis em pouquíssimo tempo. A versatilidade vocal fazia com que tivesse facilidade para cantar papeis dramáticos, como a personagem título de A Valquíria, de Wagner (que ela cantava em italiano), e um papel extremamente leve e ágil como o de Elvira, da ópera I Puritani, de Bellini, na mesma semana. Logo se tornaria a grande estrela do teatro de ópera mais importante da Itália, o La Scala de Milão.

O que mais fascinava o público italiano, e posteriormente outras plateias na Europa e nos Estados Unidos, era que Maria Callas não era apenas uma grande cantora. Era também uma grande atriz. Seu comprometimento dramático era tal, que ao final de cada espetáculo estava completamente esgotada. Callas era muito exigente consigo mesma. Estudava muitas horas e – me foi contado por testemunhas – que em São Paulo, onde atuou em 1951, corria como uma atleta pelo palco, e quando estava ofegante, começava a vocalizar.

Os anos dourados de Callas vão de 1950 até 1958. Daí em diante sua carreira entra em declínio, quando abandona sua ferrenha disciplina ao conhecer e se apaixonar pelo milionário grego Aristóteles Onassis (1906-1975). A paixão a fez reduzir consideravelmente suas apresentações. Nesta fase, praticamente não acrescentou nenhum papel novo a seu repertório. Sua voz no inicio dos anos 1960 era extremamente irregular, apesar de que o empenho dramático continuou intacto. Depois de morar anos na Itália, mudou-se para a França na década de 60, e fixou-se em Paris, onde ficou até a morte.

Em 1964, Callas teve o último êxito num palco operístico, quando, no Covent Garden, em Londres, atuou em um de seus papéis favoritos: Tosca, de Puccini. As últimas apresentações na Ópera de Paris, com a Norma, de Bellini, em 1965, foram calamitosas, e nunca mais se apresentou em uma encenação operística.

A tristeza pessoal arruinou sua vida artística. Podemos resumir esta tristeza com dois episódios marcantes: o casamento de Onassis com Jacqueline Kennedy e o fato de ela ter perdido um filho dele. Os últimos anos a viram, de forma esporádica, como professora na Julliard School, em Nova York, e como atriz na Medeia, de Pasolini. Em 1974 voltou aos palcos em recitais por diversas partes do mundo, junto ao tenor Giuseppe di Stefano, apresentações que foram infelizmente gravadas, mostrando o estado deplorável de sua voz. Isolada e deprimida acabou falecendo aos 54 anos, de um enfarto fulminante. Morreu só.

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