
Revoltados com o formato conservador do Salão Paranaense de 1957, realizado no Museu de Arte Contemporânea do Paraná MAC, um grupo de artistas preferiu exibir suas obras em uma exposição paralela. O episódio de grande repercussão, que ficaria conhecido como Salão dos Pré-Julgados, levou o evento a se abrir para a arte abstrata e novas experimentações.
Uma iniciativa semelhante reúne na internet artistas paranaenses que se posicionam contra os critérios para participação na mostra O Estado da Arte 40 Anos de Arte Contemporâneo 1970-2010, em cartaz no Museu Oscar Niemeyer, e formada por 150 obras de 80 artistas paranaenses definidos pelos curadores Artur Freitas e Maria José Justino.
Os artistas que se apresentam como O Estado à Parte, no site www.sintomnizado.com.br/jogodamemoria, criado por Tom Lisboa, não desejam promover um "salão de excluídos". Em carta aberta publicada no espaço virtual, declaram: "Em uma época na qual a tecnologia promove cada vez mais a interatividade e as redes sociais, chegou a hora de nós mesmos escrevermos nossa história, independente de espaços expositivos, orçamentos milionários e publicações que apenas afirmam a limitação de suas próprias possibilidades".
Ao criticar a exposição, no entanto, indagam, sobretudo, como é possível que represente 40 anos de arte no Paraná se os curadores não foram nem mesmo visitar os ateliês dos artistas. "Se houve visitas, desconheço os critérios estabelecidos", diz Tom Lisboa. "É preciso conhecer todos os artistas, visitar todos os ateliês, não ter preconceito", diz José Antonio de Lima. "Numa mostra que pretende representar quem produz no estado, no mínimo, há falta de luz", conclui o fotógrafo Orlando Azevedo sobre o fato de apenas 80 artistas terem sido escolhidos.
O curador Artur Freitas explica que não houve a pretensão de esgotar o assunto, "mas de sugerir caminhos para interpretar a produção recente no Estado". Para Maria José Justino, também curadora, a "mostra dá uma honesta visão do que se cria aqui e aponta para uma grande exposição que, aí sim, dê conta da aventura da arte paranaense, desde Andersen aos dias de hoje".
Mas, então, indagam os artistas, por que o título é tão abrangente? Por que não optar por um recorte? Por que citar o Paraná se a maioria dos artistas é de Curitiba? "Para mostrar apenas um celeiro criativo não é necessário contratar um historiador e um crítico de arte", opina Tom Lisboa.
Na opinião de Azevedo e outros artistas, o MON jamais poderia ter escolhido curadores locais para realizar uma mostra que contempla a produção contemporânea paranaense de forma inédita até então. "Eu não sei quais foram as regras do jogo dessa exposição. O que posso afirmar é que uma das principais críticas feitas ao MON era o seu descaso com a classe artística local. Parece-me muito oportuno que essa omissão tente ser reparada alguns meses antes da eleição", diz Tom Lisboa. E de forma "apressada", "a toque de caixa", manifestam-se outros artistas.
A instituição respondeu às questões enviadas por e-mail pela reportagem de forma breve e vaga. Em um trecho, afirma que "não interfere na liberdade de escolha dos curadores, os quais atuam com profissionalismo e responsabilidade artística e social. Antes, respeita o papel que lhe cabe: o de ser um museu aberto a diferentes linhas da arte e do diálogo ora convergentes, ora divergentes, o conflito intrínseco no próprio fazer arte".
Os artistas também criticam o tradicionalismo de ambas as curadorias.
Se a de Maria José Justino, de viés histórico, é um "saco de gatos" que não consegue ser representativo, a de Artur Freitas "parece uma retrospectiva de várias Bolsa Produção", em referência à repetição de nomes que figuraram no projeto financiado anualmente pela Fundação Cultural de Curitiba, para a produção de artistas iniciantes.
"Trata-se de uma mostra que apresenta o Estado da Arte, portanto, não é um Dicionário da Arte Paranaense", alfineta a curadora, referindo-se à publicação de outra crítica de arte, Adalice Araújo. "Ela, sim, sabe de tudo, uma enciclopédia", rebate Orlando Azevedo.







