
Quadros inéditos de pintores como os impressionistas Claude Monet (1840-1926), Vincent van Gogh (1823-1890), Toulouse-Lautrec (1864-1901), ou do modernista Amadeo Modigliani (1884-1920) estão expostos no Museu Nacional do Espiritismo, no bairro do Tingui, região norte de Curitiba.
As obras atribuídas aos grandes pintores foram psicopictografadas por médiuns da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE), que mantêm o museu desde 1965.
Os grupos de psicopictografia ou “pintura mediúnica” atuam na SBEE desde 1982. Segundo o médium Vanderlei Rode, um dos coordenadores do museu, há cerca de cinco mil obras psicopictografadas por espíritos de artistas de diferentes escolas e períodos da história da arte no acervo.
Ao contrário do que acontece com outras entidades kardecistas no Brasil, os quadros não estão à venda.
“As obras não são comercializadas, pois têm finalidade social de gerar reflexão nas pessoas que as observam, e criar e uma atmosfera emocional. Também não é possível vendê-las porque não são produto só do trabalho do médium”, explica Rode.
Treino
Rode se dedica ao estudo da psicopictografia e aponta outra diferença do trabalho feito pelos grupos ligados ao museu em Curitiba daqueles feitos por médiuns como o célebre Luiz Gasparetto, de 67 anos, que ficou famoso pela pintura mecânica com os pés e com as mãos sem experiência anterior de desenho.
No caso dos grupos de pintura da SBEE, os médiuns precisam se dedicar pelo menos três anos de estudos e passam por três fases.
Na primeira, chamada de “corpus da comunicação mediúnica”, o médium desenvolve sua relação pessoal com a pintura e conhecimentos sobre autores e períodos da história da arte.
Na segunda fase, chamada de “concepção de mentalidade”, o médium se torna capaz de captar ideias e pensamentos dos artistas desencarnados no chamado “polissistema espiritual”. Como exemplo desta fase, Rode faz uma metáfora com a “nuvem” da internet.
“Muito do que os artistas pensaram e estudaram em vida não é materializado em obras. Estes arquivos de pensamento ficam num campo frequência e o médium, por meio de estudos, entra em algum momento nesta frequência e acaba materializando estas obras.”
A maior parte das obras do acervo do Museu do Espiritismo pertence a esta fase, como os quadros de Vincent van Gogh e Modigliani atualmente expostos.
Azul de Monet
A terceira e última etapa, mais rara, é a expressão direta do espírito do artista através do médium. É quando o médium cria uma obra inédita com características e conteúdo pertinente com a produção do artista incorporado.
No museu do espiritismo há um grande exemplo de obra neste estágio, uma série de quatro quadros em que a médium Yeda de Camargo Coelho psicopictografou com a pena do Claude Monet: paisagens de picos nevados sobre um céu azul, a cor mais marcante da produção do impressionista francês.
Alguns quadros são bem parecidos com a produção original dos artistas. Outros não chegam a tanto.
Segundo Rode, a dificuldade de se aferir a autenticidade das obras se explica que pelo fato de que os espíritos estão em evolução permanente e assim, os traços não são mais os mesmo usados em vida pelos pintores.
A SBEE tem atualmente cerca de cinco mil médiuns. Há quatro grupos de pintura mediúnica na casa, que se reúnem às terças, quartas e sextas feiras.



