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Kevin Spacey protagoniza a adaptação americana de House of Cards (produzida pelo Netflix), ao lado de Robin Wright. | Divulgação
Kevin Spacey protagoniza a adaptação americana de House of Cards (produzida pelo Netflix), ao lado de Robin Wright.| Foto: Divulgação

“Quanto mais alto um gato sobe na árvore, maior é a queda. Com os políticos é a mesma coisa, só que os políticos não caem em pé”. Quem acompanha House of Cards, a série do serviço de streaming Netflix que acaba de entrar na terceira temporada, consegue imaginar a frase saindo da boca do personagem Frank Underwood enquanto ele olha cinicamente para a câmera.

E ela está, de fato, em House of Cards. Mas não na série, e sim no livro que inspirou a trama política protagonizada por Kevin Spacey.

Publicado em 1989, House of Cards teve a primeira edição lançada no Brasil somente no ano passado, na esteira do sucesso da série. Por trás desse sucesso está um britânico que por muito tempo viveu no centro do poder: Michael Dobbs, ex-deputado e ex-conselheiro de Margaret Thatcher e John Major, ambos primeiros-ministros do Reino Unido. No epílogo da versão brasileira do livro, ele conta que a inspiração para a obra surgiu em 1987, após uma bronca de Thatcher, de quem era o chefe pessoal à época.

Série

A versão protagonizada por Kevin Spacey não é a primeira adaptação de House of Cards para a tela. Os livros deram origem a uma série exibida pela BBC entre 1990 e 1995. A série teve 14 indicações e ganhou dois prêmios Bafta.

“Quando saímos da sala, aquela velha e sábia raposa, o vice-primeiro ministro Willie Whitelaw, revirou os olhos e declarou: ‘Eis uma mulher que nunca mais vai disputar outra eleição’. Ele viu as sementes de autodestruição que em pouco tempo se tornariam aparentes para o mundo inteiro”, relata o autor. E, realmente, Thatcher veio a renunciar três anos depois. Quanto a Dobbs, encontrou o mote para o livro: “Era sobre como se livrar de um primeiro-ministro”.

Livro

House of Cards

Michael Dobbs. Trad. de Luis Reyes Gil. Benvirá, 336 pp., R$ 39,90.

Assim nasceu Francis Urquhart (o sobrenome é diferente na versão original), líder governista que vê no inferno astral vivido pelo primeiro-ministro britânico a oportunidade de ascender na carreira. Para isso, lança mão da manipulação, de artimanhas políticas e da relação promíscua com a mídia. O único possível obstáculo é Mattie Storin, uma jornalista impertinente que decide ir além das versões oficiais e investigar a fundo os fatos.

A adaptação de House of Cards para a tela manteve-se fiel à proposta de Dobbs, de mergulhar o leitor em um universo onde todos os atos são calculados e ninguém é inocente. O cinismo é uma constante na narrativa, especialmente nas frases que abrem cada capítulo, como a que iniciou esse texto. Em tempos de mensalões, petrolões e afins, o mais impressionante é verificar que, depois de 25 anos, todo esse conjunto ainda soa bastante atual.

Michael Dobbs é um lorde do Parlamento

Alguém que passou muito tempo da vida nos lugares errados, mas em períodos interessantes. Michael Dobbs se define assim na biografia publicada em seu site. A opção de escrever sobre os bastidores da política não é à toa. Nascido exatamente no mesmo dia que o Príncipe Charles (14 de dezembro de 1948), ele passou 20 anos atuando diretamente junto ao poder.

Membro do Partido Conservador, o escritor foi conselheiro da primeira-ministra Margaret Thatcher, conhecida como a “Dama de Ferro” por ser uma das líderes mais austeras da história do Reino Unido.

Dobbs também foi deputado, mas não foi essa experiência que o municiou para conceber Francis Urquhart. A passagem pelo parlamento ocorreu entre 1994 e 95, após a conclusão da trilogia.

Atualmente, Dobbs é membro da Câmara dos Lordes, a câmara alta do Parlamento britânico. Em seu site e no Twitter, o autor se mostra satisfeito com a adaptação mais recente de House of Cards. Antes do lançamento da terceira temporada da série, ele tuitou: “espero que vocês amem tanto quanto eu”.

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