Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Visuais

Artista alemão com a Bahia na alma e no nome

Exposição na Galeria da Caixa exibe 73 obras restauradas e inéditas do gravurista Hansen Bahia

“Limão”, xilogravura de 1953: retratos humanos retirados das ruas de Salvador | Reprodução
“Limão”, xilogravura de 1953: retratos humanos retirados das ruas de Salvador (Foto: Reprodução)

1 de 1

Karl Heinz Hansen (1915-1978) se sentava no bar Flor de São Miguel, no Pelourinho, e via passar os marinheiros, as prostitutas, os bêbados, o povo em geral. Gostava dessa região histórica de Salvador porque dizia que ali a pobreza se misturava à opulência do barroco arquitetônico.

"Daquele ponto, ele recolhia seus temas", conta Lêda Deborah, curadora do acervo da Fundação Hansen Bahia, que reúne 13 mil itens deste gravurista nascido em Hamburgo, na Alemanha, que de tão apaixonado pela terra de Jorge Amado, onde viveu em dois períodos de sua vida, acrescentou Bahia ao próprio nome.

Deborah está em Curitiba para a abertura, hoje, às 19h30, da exposição Hansen Bahia – Restauração do Acervo – 73 Obras, na Galeria da Caixa. Como o próprio título denuncia, a mostra exibe 73 peças do artista, sendo 64 gravuras e nove matrizes, recuperadas com o patrocínio do Programa Caixa de Adoção de Entidades Culturais.

São obras que exigiam urgência de restauro por terem sido produzidas nas décadas de 40 e 50. Entre elas, o primeiro autorretrato de Hansen. "Também têm caráter inédito para o público", informa a curadora da fundação instituída pelo artista em 1976, a partir de obras doadas à cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano.

Ao todo, a instituição possui 5 mil obras guardadas em mapotecas, 300 em exposição, além das 73 que acabam de ser restauradas (atualmente em Curitiba) e outras 75 que passam por processo semelhante com apoio do governo alemão. Também fazem parte do acervo fotografias, álbuns de recortes, livros, documentos, objetos de uso pessoal e os "integrados". "Hansen costumava colocar matrizes (das gravuras) integradas ao mobiliário: na parede, na cabeceira da cama", explica a curadora.

A fundação divide seu acervo em dois espaços: o museu em Cachoeira e a Fazenda Santa Bárbara, última residência do artista, em São Félix. Ali, do outro lado da ponte que separa os dois municípios, estão a reserva técnica e o memorial póstumo, com as cinzas do gravurista e ossos de Ilse, sua última esposa.

Banhos de mar

Após lutar na Segunda Guerra Mundial, Hansen chegou com a família a São Paulo em 1950, aos 35 anos, em busca de um "futuro promissor". Em 1955, atuando como artista gráfico da Editora Melhoramentos, foi premiado com uma viagem para a Bahia. "Ele se apaixonou pelo estado e não voltou mais a São Paulo", conta Lêda. Lá produziu boa parte de sua obra de suas xilogravuras. "Tudo o que sei e o que sou, devo à Bahia", diria.

Como era difícil sobreviver de arte na região, voltou ao país natal após se despedir com a exposição A Bahia de Hansen, mostrando aos baianos o que levaria para o velho mundo – o sucesso da mostra em sua itinerância pela Europa renderia o apelido de Hansen Bahia.

Na Alemanha, apaixonou-se por uma de suas alunas (filha de um velho amigo), Ilse Stromeier, de apenas 18 anos. Levou-a para Addis Abeba, na Etiópia, onde fundaria um Curso de Artes Gráficas e Xilogravura a convite do imperador. "Na Europa ele adota temas internacionais em suas obras e ilustra muitos livros", conta a curadora.

A presença humana, no entanto, se manteve em suas gravuras. "Ele pintou paisagens somente no início de sua carreira, ainda na Europa", diz Lêda. A exposição exibe algumas poucas telas em técnica mista sobre papel, do início de sua carreira, nos anos 1940, antes de descobrir a força expressiva da gravura. "Arte antiga, a xilogravura presta-se maravilhosamente à expressão das ideias modernas", declarou.

Com a nova esposa, Hansen retornou a passeio para o Brasil em 1966. "Eles chegaram pelo Rio de Janeiro e fizeram uma viagem de carro para a Bahia. Não deu outra: Ilse também se encantou pela Bahia", conta Lêda. Os dois foram viver em Salvador e, na década de 70, compraram a fazenda em São Félix.

"Eles gostavam de tomar banhos nus à noite e achavam que a cidade estava muito violenta". Após descobrir que tinha câncer, Hansen instituiu a Fundação Hansen Bahia, em 1976, que inaugurou dois anos depois, pouco antes de morrer, aos 63 anos.

* * *

Serviço

Hansen Bahia – Restauração do Acervo – 73 Obras, na Galeria da Caixa (R. Conselheiro Laurindo, 280), (41) 2118-5114. Abertura hoje, às 19h30. De terça a sábado, das 10 às 21 horas, e domingo, das 10 às 19 horas. Até 16 de agosto.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.