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Entrevista

“As bandas de reggae precisam ter mais maturidade”, diz Alexandre do Natiruts

Vocalista acredita que representantes do gênero precisam aceitar a necessidade de divulgação do seu trabalho na mídia; banda lança novo álbum em Curitiba neste sábado (23), no Moinho Eventos

Natiruts lança novo álbum, "Raçaman", neste sábado no Curitiba Master Hall | Divulgação
Natiruts lança novo álbum, "Raçaman", neste sábado no Curitiba Master Hall (Foto: Divulgação)

São poucas as bandas de reggae que conseguiram alcançar a longevidade e reconhecimento do Natiruts, que aos 12 anos de carreira lança o álbum Raçaman em Curitiba, neste sábado (23), no Moinho Eventos. "As bandas de reggae precisam ter mais maturidade", disse Alexandre Carlo, vocalista do Natiruts, sobre o discurso utilizado por grupos do gênero que criticam a superexposição na mídia, mas ao mesmo tempo acreditam que o reggae sofre preconceito por parte da maioria.

"A dificuldade está dentro do próprio reggae. Certa parte tem uma consciência coletiva de que sair na mídia é feio, e quem está ali está se vendendo. Ao mesmo tempo, existe o discurso de que o reggae sofre preconceito", definiu o vocalista. Para ele, é necessário fazer o trabalho de divulgação de suas canções. "É bom que essa mensagem chegue até as pessoas. Não conheço nenhuma banda de reggae que não tenha uma preocupação com a letra", garantiu.

No novo projeto – o primeiro de inéditas em quatro anos -, Alexandre foi responsável por todas escrever todas as composições, além de assinar a produção artística do álbum. Desta vez, o grupo expandiu suas "possibilidades rítmicas", e tentou explorar novos gêneros e subgêneros. "O reggae também tem as suas vertentes. Mas no nosso caso, temos uma pegada bem brasileira", explicou Alexandre. Segundo ele, após o lançamento do disco ao vivo "Reggae Power", o grupo se aproximou mais da música brasileira. "Seguimos o lado mais Brasil do que Jamaica", explicou.

Para o show deste sábado, o público deve ouvir não só as canções do novo álbum, mas também grandes sucessos da carreira. Liberdade Pra Dentro da Cabeça, por exemplo, é uma faixa que nunca sai do set-list da banda. Alexandre garantiu que não cansa de apresentar a canção, tocada "em todos os shows da história" do grupo. "Quando a gente toca, parece que foi lançada ontem", concluiu aos risos.

Confira a íntegra da entrevista com Alexandre, do Natiruts:

Este novo trabalho, Raçaman, é o primeiro de inéditas em quatro anos. Quais são as principais diferenças entre o mais recente álbum e os anteriores?

Ritmicamente, nós tentamos sempre fazer um CD diferente do outro. Depois da música Reggae Power, novas possibilidades rítmicas se abriram para o Natiruts. Até então, era só o reggae tradicional. Com Reggae Power, que é um afrobeat, uma batida mais dançante, um leque se abriu para que nós pudéssemos explorar novos lados. Foi o que fizemos neste CD. Seguimos o lado mais Brasil do que Jamaica.

Mas a raiz continua no reggae, ou tem algum ritmo que foi explorado com mais força?

Continua no reggae. O ritmo também tem as suas vertentes, como o rock. O reggae tem o dub, roots, o new roots. Na Jamaica, essas batidas mais dançantes se chamam dancehall. Mas no nosso caso, como temos uma pegada bem brasileira, não é o dancehall tradicional. Parece mais música brasileira mesmo.

Houve algum tipo de experimentação? Algum instrumento que nunca tinha sido utilizado nos álbuns do Natiruts?

Olha, teve até cano de PVC. A gente queria fazer uma ambientação que criasse uma tensão na música Sorri, Sou Rei, e o nosso percussionista ficou girando aqueles canos amarelos para fazer como se fosse um zumbido, barulho de almas penadas. Teve muita coisa diferente.

As composições são todas de sua autoria? Quando começou o processo de composição para o novo trabalho?

Sim, são todas de minha autoria. Tem duas músicas desse CD que estavam guardadas há 14 anos. Nunca tínhamos lançado, e resolvemos lançar nesse disco. A maioria levou algum tempo para ficarem prontas.

A mixagem de algumas faixas do álbum foi feita em Londres. O que isso agregou à obra?

Foram oito faixas mixadas em Londres. Nós fomos para lá por ser o estúdio do Mad Professor. Ele é um dos precursores de um estilo chamado dub. Influencia desde a música eletrônica até bandas de rock, como Radiohead. Nós fomos mais por conta do material humano. Ele mixou oito canções, as mais reggae, os estilos mais voltados para Jamaica. As músicas que são mais abrasileiradas foram mixadas aqui no Brasil.

No álbum, você faz um dueto com Claudia Leitte. Como aconteceu esta parceria?

Eu conheci a Claudinha no Carnaval de Salvador em 2008. Ela convidou o Natiruts para participar do trio elétrico dela, e lá conhecemos sua família, seus músicos. Ela se mostrou uma admiradora das músicas do Natiruts. Eu tinha essa música que eu achava que era especial, não no sentido de que eu acho que vai estourar, mas sim que tem uma letra especial, que vai emocionar o pessoal que acompanha. Tinha uma parte que eu queria colocar uma voz feminina, e pensei na Claudinha. É uma levada um pouco diferente do que as pessoas estão acostumadas a ouvi-la cantar. Ela cantou com uma emoção muito bacana, e a música ficou muito legal. A gente adorou o resultado.

O reggae brasileiro possui inúmeros representantes – no entanto, são poucos que conseguem obter destaque nacional ao nível do alcançado pelo Natiruts. Você acha que o gênero tem boa receptividade no Brasil ou ainda é restrito a pequenos nichos?

Eu acho que tem os dois lados. A dificuldade hoje, a meu ver, está dentro do próprio reggae. Certa parte do reggae brasileiro tem uma consciência coletiva de que sair na mídia é feio. De que quem está ali está se vendendo. Às vezes chega a ser ingênuo. Ao mesmo tempo, existe o discurso de que o reggae sofre preconceito. São duas coisas antagônicas e, às vezes, você ouve as duas posições da mesma boca. Eu acho que as bandas e os artistas de reggae precisam ter mais maturidade, e isso já está acontecendo. Faz parte do mundo essa questão de divulgar, de você ir até algum lugar divulgar o seu trabalho. É bom que essa mensagem chegue até as pessoas. Não conheço nenhuma banda de reggae que não tenha uma preocupação com a letra, independentemente de dizer quem é bom ou quem não é. Seja com uma preocupação no âmbito social, ou falando de amor.

Você algum dia pensa em não cantar "Liberdade Pra Dentro da Cabeça" ou "Beija-Flor"?

Beija-Flor já saiu várias vezes do set-list. Voltou para a turnê do Reggae Power porque era uma turnê só de hits. Agora, Liberdade, nós tocamos em todos os shows da história.

Você não se importa em tocar a mesma música por tanto tempo?

Não. Quando a gente toca, parece que foi lançada ontem (risos).

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