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“Mas não é um esporte violento demais?” Eu já ouvi essa pergunta uma dúzia de vezes, e todo torcedor de hóquei também já ouviu. Não é complicado entender por quê. A cultura popular consagrou o hóquei como um esporte de pancadaria – até o Pateta (na verdade, dezenas de Patetas) já levou e recebeu sopapos em um desenho de 1945 chamado Hockey Homicide – o nome é autoexplicativo.

Nos anos 70, Paul Newman viveu um técnico de uma equipe que praticamente só sabia bater, no filme Vale Tudo. A própria publicidade da ESPN, que transmite a NHL no Brasil, enfatiza mais a força que a habilidade: “o rinque é invadido por bárbaros”, “onde os fracos não têm vez”...

Quanto aos trancos, vá lá; os jogadores não só usam todo tipo possível de proteção como também não podem fazer qualquer coisa no gelo: atingir violentamente um jogador por trás, acertá-lo com o taco, passar rasteiras, dar cotoveladas, tudo isso é punido com falta e deixa o time infrator com um jogador a menos por no mínimo dois minutos, aumentando as chances de gol do adversário.

Agora, as brigas... o jogo está em andamento e, de repente, dois jogadores largam as luvas e os tacos no gelo e começam a se dar socos. Mas isso é parte essencial do esporte, me explicam o comentarista da ESPN Thiago Simões, os membros da comunidade NHL Brasil no Facebook e os integrantes do Nasty Nest, o grupo de torcedores do finado Atlanta Thrashers, o time para o qual eu torcia.

Provocar uma briga quando o time está indo mal na partida, por exemplo, é uma estratégia para que a equipe recupere o foco e para que o adversário perca o dele. Já houve times que pareciam perdidos no gelo e mudaram da água para o vinho depois que um de seus jogadores se dá bem numa briga. Simões compara o momentum do hóquei com o do boxe. “Como o hóquei é um esporte de intensidade e sintonia fina, qualquer perda de foco e o resultado positivo vai por água abaixo”, explica.

Todo time tem seu enforcer, o jogador que está ali não tanto pelo talento e pela habilidade com o taco, mas para intimidar os adversários, que pensarão duas vezes antes de um tranco mais duro no artilheiro ou no goleiro da equipe. Sem esse acerto de contas, dizem os torcedores, a possibilidade de uma partida degenerar para um espetáculo de jogadas desleais seria grande.

Um padrão de comparação seria olhar as ligas universitárias americanas, as ligas profissionais europeias e o hóquei olímpico, que proíbem as brigas (punidas com expulsão da partida e, em alguns casos, suspensão dos jogos seguintes). Não acompanho outros campeonatos, mas pelo menos nos Jogos Olímpicos não há a carnificina e deslealdade generalizada que, argumenta-se, ocorreria se a NHL também acabasse com as brigas.

Enfim, pendências de partidas anteriores, resposta a uma jogada mais dura, tudo é resolvido ali, no um contra um, e a coisa morre lá, cada jogador leva uma penalidade de cinco minutos para pensar na vida e ninguém vai ficar guardando rancor por ter perdido uma briga – pelo menos é o que dizem.

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