"Isso de querer ser exatamente o que a gente é ainda vai nos levar além". A frase é do poeta Paulo Leminski e é lembrada por Zélia Duncan mais ou menos na metade de Pré Pós Tudo Bossa Band O Show, DVD gravado em novembro do ano passado no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo, e colocado à venda este mês (Duncan Discos/Universal, R$ 49,90). Aos versos de Leminski, que embalam "Dor Elegante", se misturam as belas letras de Alice Ruiz, Simone Saback, entre outros, além da própria Zélia, que não deixa de se reinventar a cada novo trabalho.
Pré Pós Tudo Bossa Band O Show foi bancado pela própria artista, através do selo Duncan Discos, e é o terceiro DVD ao vivo da carreira da cantora. Registro da turnê que está na estrada há quase dois anos e já passou pela América do Norte e pela Europa, o DVD conta com a presença, ao lado de Zélia, de Ézio Filho (contrabaixo, vocal e direção Musical), Léo Brandão (teclados e acordeão), Webster Santos (violão, guitarra, cavaco, bandolim, lap steal e vocal), Jadna Zimmerman (percussão e flauta) e Fábio Luna (bateria e flauta).
Com praticamente todas as músicas do seu último disco, com o mesmo nome e lançado em 2005 (só ficou de fora "Braços Cruzados"), o show marca também os 25 anos de carreira de Zélia, que começou a cantar aos 16 anos, nos idos anos 80.
Zélia abre a apresentação com o samba "Quisera Eu", de Lulu Santos, e logo em seguida parte para a música título do show, "Pré Pós Tudo Bossa Band", parceria da artista com Lenine. Apesar da produção independente, o DVD prima pela qualidade técnica e pelo tom intimista, reforçado pela empatia de Zélia com a platéia, além de fazer do show uma homenagem aos artistas com quem trabalhou.
Em "Mãos Atadas", de Simone Saback (que no CD é gravada com Frejat), Zélia lembra das parcerias com a saudosa Cássia Eller.
O romantismo amargo das letras transborda em "Eu Não Sou Eu": "Me diz primeiro / Por que te mostro metade do meu amor / inteiro? / Me diz primeiro / Por que não houve um segundo beijo? / E depois um terceiro?", que logo é seguido pela primeira das canções inéditas do DVD, "Próxima Encarnação", de Itamar Assumpção, que Zélia cantou em shows que fez com Simone. A outra novidade fica por conta de "Chega Disso", de Alzira Espíndola e Arruda.
Da parceria com Mart'nália surge a balada "Benditas". "Dei a letra para a Mart'nália esperando que viria samba, mas virou uma balada deliciosa", conta Zélia durante o show.
Apesar de não serem maioria no contexto do show, os sucessos radiofônicos marcam presença com "Verbos Sujeitos", "Alma" e "Catedral", que a artista canta no bis em uma versão rearranjada.
Destaque para "Milágrimas", que Zélia canta com Anelis Assumpção, filha de Itamar Assumpção. A letra, uma das mais bonitas do espetáculo, é de autoria de Alice Ruiz: "Em caso de tristeza vire a mesa / Coma só a sobremesa / Coma somente a cereja / Jogue para cima, faça cena / Cante as rimas de um poema / Sofra apenas, viva apenas", cantam Zélia e Anelis em um dos momentos mais emocionantes do show.
As investigações da artista pela música de raiz aparecem no ótimo choro "Diz Aos Meus Olhos (Inclemência)", com música de Guerra Peixe e narração em off antes da entrada da poderosa voz de Zélia. Ponto também para a participação do bandolinista Hamilton de Holanda em "Capitu" e em "Valsa em Si", que aparece nos extras, ao lado dos videoclipes "Vi, Não Vivi", de Christian Oyens e Itamar Assumpção e "Redentor", de Beto Billares. Um agradável passeio pelas muitas artistas que respondem pelo nome de Zélia Duncan. GGG1/2



