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Sintonia Fina

Até a última ponta

A atriz Mary-Louise Parker é uma das muitas qualidades de Weeds | Divulgação
A atriz Mary-Louise Parker é uma das muitas qualidades de Weeds (Foto: Divulgação)

Leviano. Irresponsável. Imoral. Três adjetivos que vieram à cabeça de muita gente quanto a primeira temporada do seriado Weeds foi ao ar nos Estados Unidos em 2005, exibido pelo canal pago Showtime. Razões para tanta indignação não faltavam: a série tem como personagem central Nancy Botwin (Mary-Louise Parker), uma dona de casa viúva que se torna vendedora de maconha para seus vizinhos num subúbio rico de Los Angeles.

Na superfície, o enredo de Weeds, criado por Jenji Kohan e exibido no Brasil pelo GNT, de certa forma trivializa uma atividade ilegal. A glamouriza até certo ponto. Mas, à medida que a saga de Nancy se desdobra ao longo das quatro temporadas já exibidas no Brasil, percebe-se que julgar o seriado pelas aparências é um erro grosseiro.

Assemelhada a produções como a série Desperate Housewives (bem mais careta) e o filme Beleza Americana (de Sam Mendes), Weeds retrata de forma corrosiva o aparentemente pacífico e seguro dia-a-dia nos subúrbios das grandes cidades norte-americanas, materialização do american way of life desde dos anos 1950. Por trás das paredes de belas casas sem muros, cercadas por jardins sempre verdes, há solidão, incomunicabilidade, segredos e traições. Poucos são felizes de verdade, apesar de serem brancos, dirigirem carrões e terem acesso a tudo o que o dinheiro em quantidade pode proporcionar.

O grande achado de Weeds é que, por trás da irreverência e do humor anárquico, se esconde uma complexa visão da sociedade americana contemporânea. Nancy, para sobreviver, quebra barreiras: tem de fazer negócios e passa a conviver com traficantes negros e hispânicos, se envolve romanticamente com policiais corruptos, vê seus dois filhos, Silas e Shane, serem engolidos, episódio a episódio, pela vida real. O mundo cosmético e cenográfico onde habita literalmente desmorona, tomado por um incêndio de proporções bíblicas. E tudo isso acontece de forma muito engraçada e inteligente, mas o riso sempre vem acompanhado de um certo amargor, de perplexidade.

Weeds, é preciso dizer, não seria o mesmo não fossem os impagáveis coadjuvantes. Elizabeth Perkins (de Quero Ser Grande), estrela em ascensão dos anos 80, ressurge como genial comediante no papel de Celia, uma dona de casa adúltera, racista, classista, drogada e fadada a se meter em sucessivas enrascadas – todas hilárias. Como Andy, o cunhado irresponsável e maníaco por sexo de Nancy, Justin Kirk (de Angels in America) dá um verdadeiro show de inteligência dramática. É impagável. Por tudo isso, Weeds, além de cult, é adorado pela crítica. Tanto que está indicado ao Emmy em todas categorias principais. No dia 20 de setembro, merece vencer: é melhor do que 30 Rock.

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