
Uma espécie de quarto do pânico com ares de planetário é fixado por duas cortinas esticadas que servem como projetor de imagens do espaço. Luzes alucinadas se intercalam entre a completa escuridão e o silêncio. Atores que o público mal vê reverberam frases que parecem saídas de um túnel: este é o peculiar cenário de Atman, peça-instalação que o Teatro Novelas Curitibanas apresenta até 12 de outubro.
Dirigida por Preto Gaglioto, a peça não é fácil de ser classificada e tampouco parece preocupada em entregar respostas. Em uma narrativa estilhaçada, atores ora declamam, ora gritam, ora sussurram sentenças desconexas sem que os espectadores saibam direito de onde saem suas vozes como se estivéssemos diante de uma dark & long train, a experiência de ir ao fundo de um sonho ruim e sentir que não se volta mais.
Se Constantin Stanislavski estava certo ao afirmar que conhecer é sentir, sentenças como "O céu pintado no teto do céu" e "Quando você pensa como pedra" obscurecem ainda mais as possibilidades de compreensão. Somos submetidos a uma tentativa de experimento transcendental, abstrata para o hinduísmo Atman significa algo como Eu Real.
Fragmentação
Para além da experiência de desconforto, é até difícil analisar Atman excetuando os seus aspectos narrativos. A construção sonora é interessante, apesar de psicodélica em demasia, e o trabalho de construção dos personagens é ainda mais difícil de analisar, já que não vemos os atores em certos momentos, a impressão é de que quanto mais ininteligível, melhor. "Buscamos uma montagem que transformasse o espaço teatral num lugar sensorial em que o espectador não tivesse lugar fixo e saísse de sua zona de conforto", afirma Gaglioto.
Realmente, a peça, com ares de alguma instalação da sérvia Marina Abramovich, a "avó da arte de performance", retira do espectador o seu lugar seguro e cativo, fazendo da sala um espaço de circulação, de trânsito. Se é bom, se é ruim? Como diria Guimarães Rosa, pão ou pães é uma questão de opiniães.



