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Chegou nesta quarta às gibiterias dos EUA o quadrinho que tira do armário um dos mais tradicionais super-heróis da história dos quadrinhos: o Lanterna Verde original, Alan Scott. Criado há 72 anos, ele assume sua homossexualidade nas páginas de "Earth 2" n 2, da DC Comics, que aporta no mercado de HQs com a promessa de se tornar o best-seller do ano, graças à polêmica que vem provocando desde sexta-feira, quando imagens de Scott beijando um rapaz foram divulgadas.

Pesquisadores americanos arriscam que o crescimento de gays e lésbicas nas histórias de editoras como a DC e a Marvel - líderes de vendas - chegou a cerca de 25% de 2002 para cá. Mas é a primeira vez que um super-herói mítico tem a opção sexual modificada para capturar novos públicos. Embora existam vários Lanternas Verdes - sendo o mais famoso Hal Jordan, levado à telona num filme com Ryan Reynolds -, Scott foi lançado antes, fazendo fama e fãs na década de 1940. E o responsável por sua mudança, o roteirista James Robinson, promete, para os próximos meses, modificar a sexualidade de outro mito, cujo nome mantém em segredo.

"Earth 2" vem na esteira de outro fenômeno editorial também ligado ao amor entre dois homens: no dia 25 de maio, entrou em circulação "Astonishing X-Men" n 51, da Marvel Comics, dedicada ao casamento entre o mutante Estrela Polar e seu namorado. Sua capa, na qual o vigilante beija seu futuro marido, já deflagrou protestos de entidades religiosas e associações em prol da família. A maior antipatizante é a entidade cristã One Million Moms, cuja queixa é de que o gesto de Scott e de Estrela Polar não seja adequado a títulos voltados para o público jovem.

"Alguns leitores gays também não ficaram felizes, pois já ficamos decepcionados outras vezes com esse tipo de ação. É preciso ver como a história dos personagens será conduzida", explica por e-mail ao O Globo Joe Palmer, editor do site "Gay League", dedicado à cultura GLS nas HQs.

Estrela Polar foi o primeiro super-herói importante a se assumir publicamente gay, em 1992, em "Alpha Flight" n 106. Desde sua criação, nos anos 1970, por John Byrne, ele foi idealizado para ser gay, mas a Marvel rejeitou a ideia por anos. Antes dele, a saga "Milênio", da DC Comics, publicada aqui em 1989, trouxe um coadjuvante superpoderoso gay: o peruano Extraño, que desapareceu das páginas.

"Em 92, a edição em que Estrela Polar se assume esgotou em uma semana. Mas as menções posteriores à sua homossexualidade foram raríssimas nesses 20 anos", lembra o artista plástico Aristides Dutra, pesquisador de HQs.

Frente à corrida por "Astonishing X-Men" nas bancas, Palmer lembra que o cinquentenário gibi "Archie", voltado ao humor e não a mascarados, agitou o mercado em 2011 ao anunciar o casamento do gay Kevin Keller com um namorado. Na década passada, houve ainda o casório dos justiceiros Apolo e Meia-Noite na série "Authority", da WildStorm, selo editorial da DC. Mas entre rejeições e adesões à vida amorosa do Lanterna Verde, sites e fóruns de leitores na internet levantam acusações de que os gibis erguem a flâmula do arco-íris num gesto político, sintonizado com a posição favorável do presidente americano Barack Obama, à união civil entre homossexuais, em ano de eleição nos EUA.

"O Estado de Nova York legalizou o casamento gay em junho de 2011. É possível que a legalização tenha influenciado James Robinson e os editores da DC. Mas Robinson já declarou que começou a idealizar as mudanças há oito meses. Não vejo ligações com a questão política", afirma Palmer. "O que eu vejo de concreto é: o aumento de gays e lésbicas nos gibis foi demorado. Até 1989, qualquer conduta sexual 'fora do padrão', ou seja, homossexual, era proibida". Naquele ano, o Comics Code Authority (código que legisla as HQs dos EUA) mudou.

Enquanto o Lanterna Verde causa grita, a safra de novos heróis de homossexualidade declarada cresce. Os mais recentes são o Vingador Chocante e o X-Man Anole. No Brasil, a HQ "Os Vingadores - Especial", lançada em abril, traz discussões de relação entre Hulkling e seu namorado, Wiccano. No gibi "X-Men Extra", as brigas entre Rictor e Shatterstar acabam com os dois nus sob os lençóis. Já a detetive Renee Montoya, que patrulha as ruas sob a identidade de Questão, já apareceu em revistas nacionais aos beijos com várias beldades, entre elas Katherine Kane, a Batwoman.

"Hoje até o Maurício de Souza já ensaiou a possibilidade de adotar personagens homossexuais em seus projetos, quando, em uma história da Tina, insinua que um de seus amigos é gay", diz Victor Klier, que criou a personagem lésbica Aline na tira "Turma da Febeca".

Criador dos caubóis gays Rocky e Hudson, em 1987, o cartunista Adão Iturrusgarai diz que o aumento de heróis gays é reflexo de uma evolução pelas conquistas homossexuais. Mas, irreverente, alerta: "O governo deveria criar cotas para heróis heterossexuais. Desse jeito não vai sobrar nenhum macho no ramo".

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