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Balada de um homem só

Juvenal vive cercado de gente, mas se sente só | Divulgação
Juvenal vive cercado de gente, mas se sente só (Foto: Divulgação)

Edgar Allan Poe (1809-1849) é um dos autores mais adaptados para o cinema. Entre as dezenas de longas-metragens que inspirou, contudo, pouca coisa se aproxima da versão de Cao Guimarães e Marcelo Gomes para seu conto O Homem das Multidões, que estreia hoje nos cinemas do país.

O filme encerra a Trilogia da Solidão, que Cao iniciou com os ótimos documentários Alma do Osso (2004), sobre um ermitão que vive numa caverna no interior mineiro, e Andarilho (2007), que retrata homens que vivem em estradas daquele estado.

"Desta vez, minha ideia era fazer algo diferente, um drama urbano", explicou Cao. "Por isso chamei o Marcelo (diretor de Cinema, Aspirinas e Urubus e Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo, este último em parceria com o cearense Karim Aïnouz).

De fato, a solidão de Juve­nal, o "homem das multidões" (Paulo André), é distinta daquelas vistas nos dois títulos anteriores . Condutor de trens no metrô de Belo Horizonte, e morador de uma sala do segundo andar de um prédio comercial do centro da cidade, ele vive cercado de gente. Mas quase não interage com ninguém. Diferentemente de sua colega de trabalho, Margô (Sílvia Lourenço), que é obcecada por se relacionar com os outros – só que virtualmente.

Para compor os personagens, os diretores entrevistaram solitários em geral, depoimentos que os dois cogitam reunir posteriormente em um documentário.

Inovação

Um aspecto formal chama a atenção em O Homem das Multidões: o formato da tela – a janela, para usar um termo técnico. Trata-se de um filme "quadrado". "É o primeiro longa-Instagram", brinca Cao. O belo trabalho de composição dos quadros e captação do som ambiente faz com que aquilo que não é mostrado também seja absorvido pelo espectador. De uma maneira não usual, claro. "É uma provocação. Enquanto outras artes já explodiram seus suportes tradicionais, o cinema segue com aquela tela horizontalizada padrão. Por que não pode ser diferente?", questiona Cao.

Além da caprichada fotografia, a complexa composição dos personagens é notável no filme, que diz muito sobre um dos principais temas do universo contemporâneo.

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