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Música

Beck revive seu melhor momento em novo álbum

Com produção impecável, Morning Phase funciona como sucessor de Sea Change, disco mais aclamado do músico norte-americano

Em grande estilo: após bancar o produtor, músico de 43 anos olha para o passado para gravar novo trabalho | Divulgação
Em grande estilo: após bancar o produtor, músico de 43 anos olha para o passado para gravar novo trabalho (Foto: Divulgação)
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No show que fez no festival Planeta Terra, em novembro do ano passado, o rapaz elegante e esquisitinho, de chapéu à Bob Dylan e danças imprevisíveis, matou as saudades dos fãs brasileiros ao reler boa parte de sua obra de 20 anos – da fossa de "Lost Cause" à urgência de "Devil’s Haircut". Foi um baile. Beck comprovou que é um artista cujo arsenal é infinito e surpreendente e, por isso mesmo, parte da plateia, depois de ouvir uma versão incrível de "Billie Jean", se perguntava: o que será que ele irá aprontar no próximo álbum?

Porque já se vão seis anos desde Modern Guilt (2008). Mas há algum tempo, bom saber, a dor nas costas de Beck – sem trocadilhos – era tão grande que o impedia até de segurar a guitarra. Se entrava no estúdio, era para compor trilhas para jogos e filmes, e para produzir discos de alguns camaradas – Charlotte Gainsbourg, Thurston Moore e Stephen Malkmus lhe devem uma. Mas havia um plano: ao invés de tentar projetar-se no futuro, ele optou por enaltecer o passado. É que Sea Change (2002), sua obra-prima, ganha uma espécie de continuação em 2014, com o lançamento de Morning Phase.

Beck chamou os mesmos camaradas que talharam seu disco clássico. Também convidou seu pai – na verdade Beck cresceu na companhia de seu padastro, então a relação entre eles é um pouco diferente – para trabalhar nos arranjos de cordas. O resultado é um álbum grandioso. Tão melancólico quanto bonito, e tão triste quanto necessário.

Para começo de conversa, é impressionante a semelhança entre "Morning", música de abertura do novo álbum de 13 faixas, e "The Modern Age", que inicia o disco de 2002. Estão lá as cordas e um teclado esparramado – adubo para o violão, o piano e a voz cristalina de Beck, que canta sem pressa.

A soft pop "Heart Is a Drum" é como um aviso. Tio Beck nos diz que é impossível escapar do tempo, e seguir a direção do coração é quase sempre uma boa. O bom e velho folk aparece em "Say Goodbye", uma espécie de carta de despedida escrita antes da hora. "Essas são as palavras que se usam para dizer adeus." "Blue Moon" escancara a qualidade excepcional dos arranjos, e toca em um ponto importante para seu momento artístico. "Hoje você ouve coisas que são poderosas, mas que carecem de uma informação mais ‘sônica’, permanente. Tudo está altamente comprimido e cheio de filtros", disse o músico em entrevista à revista Mojo deste mês. É por isso que ouvir "Unforgiven" é como entrar em um eterno fade out.

A genialidade do camaleão de Los Angeles se mostra bruta em "Blue Moon", que começa desoladora – "Estou cansado de estar sozinho" –, mas que ganha um inesperado espírito oriental e otimista, com solo de algo que se parece com shamisen, aquele instrumento japonês cuja sonoridade é bem familiar. O Beck cancioneiro aparece em "Blackbird Chain", uma balada que poderá estar no próximo road movie romântico. No novo disco, há pitadas de todos os Becks conhecidos, enfim.

Morning Phase é uma pedrada certeira, cuja produção perfeccionista tem a única função de revelar, novamente, um criador de ambientes musicais nos quais é sempre bom estar, seja você um loser ou um cara bacana que usa chapéu de veludo. GGGG

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