
A programação do Festival de Berlim teve um dia diferente na última quinta-feira. Dark Blood, de George Sluizer, uma coprodução entre Estados Unidos, Reino Unido e Holanda, foi exibida numa prévia para a imprensa, que antecedeu a noite de gala no Palácio dos Festivais.
A sessão transcorreu num clima de lembranças e homenagens, devido à presença do saudoso ator River Phoenix (1970-1993) no elenco, que conta ainda Judy Davis e Jonathan Pryce.
O filme que está na mostra oficial, fora de competição é um suspense iniciado em 1993 e que teve a produção paralisada por 17 anos, devido à morte prematura de Phoenix, aos 23 anos, vítima de um ataque cardíaco em decorrência de uma overdose.
Sluizer que tem 80 anos e, segundo os médicos, não tem muito tempo de vida devido a um aneurisma resolveu retomar as filmagens, concluiu o longa e o lançou no final do ano passado, num festival holandês.
Phoenix interpreta um jovem viúvo que vive sozinho em um deserto após a morte de sua esposa, vítima de um câncer ocasionado por testes nucleares. Em meio à sua solidão e amargura, um dia ele socorre um casal em lua de mel, que está com o carro quebrado. Ao se apaixonar pela recém-casada (Davis), resolve sequestrá-la.
Após a projeção, o diretor conversou com os jornalistas sobre o filme e as dificuldades que teve para conseguir terminá-lo. Confira a seguir os principais trechos da conversa:
O que aconteceu após a morte de Phoenix?
Quando River morreu, eu tinha feito 81% do filme, mas tudo o que tinha a ver com a produção parou. Como a produtora tinha feito seguro contra esse tipo de desastre, eles pegaram o dinheiro e o filme ficou na seguradora.
Como teve acesso ao material filmado?
Em 2000, a seguradora concluiu que o filme não tinha valor para ela e decidiu destruí-lo. Eu soube disso numa quarta-feira e ele seria destruído na sexta seguinte. Eu não tinha direitos sobre os negativos não era produtor mas conhecia algumas pessoas em Los Angeles. Na noite antes de o filme ser destruído, do meu ponto de vista, eu o salvei. Sob outros pontos de vista, eu o roubei, mas o fato é que consegui resgatá-lo.
E por que decidiu concluí-lo?
Há cerca de quatro anos, repentinamente, eu fiquei muito doente. Tive um aneurisma e me disseram que meus dias poderiam estar contados. Eu sempre quis terminar o filme e isso se transformou em uma urgência para mim. Mas eu também sabia que ainda havia um bom material.
Foi difícil terminar o filme?
Sim, tive de ser muito criativo. Além disso, quando a produção parou, ainda havia muita coisa a fazer, como a trilha sonora, por exemplo. Na ocasião, eu ouvi a música de Florencia Di Concilio. Ela é uruguaia e, embora não possa andar direito [usa muletas], eu viajei para lá e consegui convencê-la.
Como era a relação com Phoenix?
River era amigável, profissional e tivemos um tempo muito agradável trabalhando juntos.
Como está a questão legal da produção?
Eu tenho os direitos sobre a cópia do filme e estou autorizado a exibí-la, desde que nenhuma renda seja gerada. Mas os direitos sobre os negativos ainda não estão resolvidos, espero obtê-los logo. River e a empresa de seguros são da Califórnia, a empresa de produção é britânica e eu sou da Holanda, são três legislações diferentes e três conjuntos de leis de direitos autorais, então, é algo difícil de solucionar.





