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Artes visuais

Bienal de São Paulo cria polêmica com veto a obra

No início da entrevista coletiva de apresentação da 27ª Bienal de São Paulo, que será aberta neste sábado (7) ao público, um mal-estar se instalou na sala com mais de 200 jornalistas do mundo todo. Perguntado sobre o porquê da retirada de uma obra do grupo de artistas dinamarqueses Superflex, o presidente da Fundação Bienal, Manoel Francisco Pires da Costa, explicou que a decisão foi do departamento jurídico da fundação.

— Jamais interferi no trabalho da curadoria, apesar de achar esse projeto de um mau gosto extraordinário — disse o presidente.

A curadora-geral da Bienal, Lisette Lagnado, ficou em silêncio. A pergunta seguinte, antecedida de uma lamentação em relação à censura do trabalho, foi interrompida por Pires da Costa, em tom exaltado.

— Você não ouviu a minha resposta, foi uma decisão do departamento jurídico, não da fundação — afirmou, separando o departamento da fundação a que pertence.

A coletiva, realizada quarta-feira no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, mostrou "como viver junto" — tema da exposição deste ano, cujo nome é retirado de uma série de seminários de Roland Barthes na década de 70 — pode ser complexo. A obra censurada é "Guaraná Power", refrigerante desenvolvido por plantadores de guaraná da Amazônia em parceria com o Superflex. O grupo ajudou a criar um rótulo para o Guaraná Power, que parodia o guaraná Antartica, e apresentaria o produto ao público na Bienal. O projeto já passou por mostras importantes, como a Bienal de Veneza de 2003.

— Fomos convidados para apresentar este projeto específico — contou Bjorn Christiansen, do Superflex. — De repente, para a nossa surpresa, o presidente nos informou que ele não poderia ser mostrado, porque era um projeto comercial, e não artístico. Vamos apresentar três outros trabalhos que lidam com problemas das marcas e discutir a liberdade de expressão na Bienal — afirmou ele, que na última terça-feira fez a degustação do refrigerante na Galeria Vermelho, em São Paulo.

No Pavilhão da Bienal, o protesto do Superflex são garrafas pintadas de preto e frases que circularão pela exposição levadas por homens fantasiados, com dizeres como "Liberdade de expressão é mais importante do que marcas registradas". A decisão contrasta com uma política de democratização do evento, que, pela primeira vez, tem uma curadora escolhida por um concurso de projetos. E que tem outras obras de protesto e ironia, seja a instituições, como é o caso dos santos com pregos na cabeça e envoltos por escorpiões e baratas, do argentino Léon Ferrari; a redes comerciais, como o vídeo "Donald McRonald", da mexicana Minerva Cuevas, em que o personagem parodia o palhaço Ronald McDonald e, munido de dentes de vampiro, apregoa contra a comida da rede de fast food em frente a uma de suas lojas, em Paris. Uma entre os dez residentes estrangeiros convidados pela Bienal, Minerva ainda pintou um grande painel com o título "O homem branco tem medo de escutar".

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