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Cada companhia com suas senhas e linguagens

Grupo de teatro curitibano chega aos 13 anos com grande interesse no contato com o público e acumula boas críticas

A partir da esquerda, Sueli Araújo, Luiz Bertazzo, Iyaní (filha da atriz Greice Barros, mais abaixo) e a produtora Marcia Moraes (à dir.). Integram também a companhia a atriz Anne Celli e o músico Ary Giordani | Walter Alves/Gazeta do Povo
A partir da esquerda, Sueli Araújo, Luiz Bertazzo, Iyaní (filha da atriz Greice Barros, mais abaixo) e a produtora Marcia Moraes (à dir.). Integram também a companhia a atriz Anne Celli e o músico Ary Giordani (Foto: Walter Alves/Gazeta do Povo)
O Homem Piano foi um espetáculo em que a cia. acredita ter estabelecido um bom diálogo com o público |

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O Homem Piano foi um espetáculo em que a cia. acredita ter estabelecido um bom diálogo com o público

Acompanhar a conversa de integrantes de um grupo de teatro pode se tornar um exercício de adivinhação que termina com a pergunta: "Mas do que é que estão falando?". Companhias em que os integrantes permanecem um bom tempo juntos costumam ter até um vocabulário próprio. Suas expressões particulares são o esqueleto que dá forma a um corpo de ideias em que aqueles artistas acreditam e que explicam por que investem nessa arte.

"Ultimamente nosso trabalho tem olhado muito para o público, querendo o diálogo, e para isso investimos bastante na figura do ator, tentando entender o que é estar diante do púbico", diz Sueli Araújo, diretora da curitibana CiaSenhas. O grupo, formado em 1999, é um exemplo de uma reunião de artistas cênicos que pesquisa constantemente uma linguagem própria, não só com palavras, mas com todos os recursos do teatro.

Desde a primeira peça, eles enfocam o "trabalho de corpo do ator" (Sueli traduz: que o ator trabalhe sua presença no palco, se envolva com aquilo que está dizendo).

Ao colocar o ator como um veículo para a relação com o público, a Senhas procura valorizar esse vínculo, às vezes até mais do que a história a ser contada. Do ponto de vista do intérprete, esse intuito foi mais bem alcançado, na opinião de Sueli, no espetáculo Homem Piano – Uma Instalação para a Memória, que o grupo reapresentou no Festival de Teatro de 2011.

Nele, o ator Luiz Bertazzo recepciona 20 pessoas por sessão e as envolve com um texto com dramaturgia de Sueli e citações da canção "Lenda do Pégaso", de Jorge Mautner, sobre um passarinho que se torna um cavalo alado. Em meio a elas, o ator solicita ao público suas lembranças, que podem ou não ser escritas num pedaço de papel – para depois serem trituradas num liquidificador. O ator escreve algumas também – mas com giz branco sobre a parede branca. No final, a plateia novamente se voluntaria para contar seu passado num microfone de forma que somente Bertazzo as ouça.

"É emocionante, um exercício não sobre o público, mas sobre cada mente no público. Nada violento, pelo contrário; um passo que cada um se permite, se quiser. É uma instalação ou performance, mais do que teatro", definiu o crítico Nelson de Sá, autor do blog Cacilda, após assistir à peça durante o festival.

Com boa repercussão, a peça é um exemplo do que o grupo entende pelo estabelecimento de vínculos com seu público, preocupação presente também em Delicadas Embalagens, em que uma família lida com a morte da mãe, e Concerto para Rameirinhas, que enche de narrativas o universo da prostituição.

"Nesse trabalho, a gente brinca e procura criar uma atmosfera em que a libido possa estar presente. Como autora e diretora procuro encaminhar e organizar cada peça para que ele possa ser, mais que uma história, um lugar de experiência. A cada espetáculo, os artistas saem transformados."

Com esse interesse pela memória e a subjetividade, o grupo não se aliena dos fatos do dia a dia. "Tentamos refinar o olhar para aquilo que acontece próximo a nós, e que pareça banalizado, distorcido", explica a diretora.

Em breve

Quem perdeu essas três etapas importantes do amadurecimento da CiaSenhas poderá assistir a todas as peças ainda no primeiro semestre, graças a um edital da Funarte com o qual o grupo foi contemplado. Mais para o fim do ano, a trupe estreia Circo Negro, com texto do argentino Daniel Veronese, numa primeira experiência com dramaturgia de fora da companhia.

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